As adversidades climáticas e os custos elevados estão limitando a produção de leite em Minas Gerais. Com a oferta ajustada à demanda e a disputa entre as indústrias, o preço do leite apresentou nova alta em setembro, referente à produção entregue em agosto. Apesar do aumento, o reajuste não tem significado maior rentabilidade para o produtor, que convive com elevações expressivas nas despesas de produção.
No último mês, o pecuarista de leite mineiro recebeu, em média liquida, RS 2,41 pelo litro do alimento, aumento de 0,73% frente a agosto. No confronto com setembro de 2020, a valorização no preço do leite é de 12,09%. Os dados são do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
No relatório do Cepea, a pesquisadora Natália Grigol explica que o aumento das cotações do leite ocorre em função da demanda acirrada das indústrias pelo produto. Devido ao aumento dos custos, a produção não tem reagido de maneira que haja equilibrio entre a oferta e a demanda.
“A valorização no campo está atrelada justamente às intensas altas nos custos de produção. Dados do Cepea mostram que o custo operacional efetivo da atividade registrou expressivo avanço de 14% desde o início deste ano. Num contexto de adversidade climática, em que a estiagem prejudica a alimentação volumosa do rebanho, a elevação dos custos de produção, sobretudo dos insumos ligados ao manejo nutricional (como concentrado e suplementação mineral), tem desestimulado investimentos na atividade e, consequentemente, impedido um ajustamento rápido da oferta à demanda”, detalhou.
Assim como em Minas Gerais, na média Brasil o preço do leite também aumentou. Em setembro, referente à produção entregue em agosto, o avanço ficou em 1%, com o preço médio em RS 2,382 por litro.
Cautela nas expectativas
Em relação ao mercado do leite e dos derivados, as expectativas são cautelosas. Com os preços mais elevados e menor poder de compra das famílias, o consumo não reagiu, o que tem provocado queda nos valores praticados no varejo.
“A demanda por lácteos não se recuperou como previsto e as negociações estão enfraquecidas desde a segunda quinzena de agosto. Com a matéria-prima mais cara e com dificuldades em realizar o repasse da alta no campo ao consumidor, as indústrias de laticínios têm intensificado a concorrência na venda de derivados. A pressão dos canais de distribuição tem resultado em desvalorização dos lácteos, prejudicando a capacidade de pagamento dos laticínios”, explicou Natália.
Uma nova valorização dos preços do leite também dependerá do impacto das importações do produto. “Além da demanda enfraquecida, o aumento das importações pode frear o movimento de valorização do leite ao produtor no próximo mês. Porém, tudo irá depender das condições climáticas e do volume de chuvas no período”.
De acordo com os dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária unidade Gado de Leite (Embrapa Gado de Leite), para o pagamento de outubro, os Conseleites divergiram nas indicações, mas com uma média sugerindo certa estabilidade no preço do leite. Para Minas Gerais a tendência é de alta de 1,3% na cotação do leite, no Rio Grande do Sul é esperada queda de 1,97%. Santa Catarina e Paraná devem ficar próximos de zero.
Regiões
Em Minas Gerais, foram registradas altas nos preços do leite na maioria das regiões pesquisadas. Somente na Zona da Mata houve recuo de 0,4%, com o litro de leite cotado, na média liquida, a R$ 2.26. Na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), o litro foi negociado a RS 2,36, variação positiva de 2,51% frente ao valor pago em agosto. No Sul/Sudoeste, a alta ficou em 1,09% e o pecuarista recebeu R$ 2,43 por litro negociado. Avanço também foi registrado na região do Rio Doce, 1,24%, com o litro cotado a R$ 2,26. No Triângulo/Alto Paranaiba o incremento foi de apenas 0,14% e a média encerrou setembro a R$ 2,46 por litro de leite.