É preciso ter cuidado com o relato que o governo dos Estados Unidos tenta impor no cenário da guerra comercial que está se desenhando no mundo.
Se analisarmos as decisões dos líderes mundiais a partir da nossa perspectiva, podemos cometer o erro de não conseguir interpretar corretamente os fatos.
Num mundo onde a verdade vale bem menos do que as crenças, nos apegarmos a ela para tentar compreender o que acontece é nos manter à margem.
Estamos presenciando uma guerra comercial cujas consequências concretas ainda não conseguimos dimensionar — nem para a economia mundial, nem para o setor alimentício em particular, que é o que nos compete.
Mas, aos poucos, podemos ir encontrando algumas pontas que nos ajudam a esclarecer o panorama. Para compreendê-las, precisamos deixar de lado nossos preconceitos, nossos valores, pois os que tomam as decisões, claramente, têm outros.
Muitos dariam risada, mas me parece mais prudente levar mais a sério as teorias delirantes que surgem por aí e que podem construir um relato no qual muitos acabam acreditando.
Vou transcrever alguns trechos do artigo assinado por Mark Vargas. (Entre 2007 e 2010, Mark Vargas atuou como civil no Gabinete do Secretário de Defesa dos Estados Unidos, viajando 14 vezes a Bagdá, no Iraque.) Assim consta na descrição.
É isso que diz Mark:
Um segmento recente do podcast de Donald Trump Jr., “Triggered”, revelou uma conexão verdadeiramente assustadora entre o Partido Comunista Chinês e a Danone, uma gigante francesa de alimentos processados avaliada em 50 bilhões de dólares.
Em uma publicação na X, Trump Jr. escreveu: “Por que o CEO de uma gigante francesa de alimentos aparece repetidamente nos meios de propaganda do PCC para elogiar a China? E por que tenta adquirir uma empresa americana de alimentos saudáveis que atua em Wisconsin? Reportagem exclusiva hoje à noite no meu podcast Triggered.”
Se Danone não é uma marca conhecida pela maioria dos americanos, seus produtos certamente são: Evian Water, Dannon Yogurt, Danimals e Activia.
Então, por que isso importa?
Veio à tona que essa empresa francesa supostamente tem vínculos com a China e agora quer adquirir a Lifeway Foods, uma empresa americana com múltiplas unidades e mais de 500 funcionários espalhados pelo país, que continua crescendo, e transferir suas operações para o exterior.
Em uma entrevista recente a um meio de comunicação do Partido Comunista Chinês, o CEO francês da Danone, Antoine De Saint-Affrique, falou poeticamente sobre o quão maravilhosa é a China, o quão importante ela é para a Danone e como, essencialmente, estão jurando lealdade à visão econômica de Pequim.
Assustador.
Sim, assustador, poderíamos dizer também. Porque se é essa a visão que está moldando as relações comerciais globais, as consequências do que está ocorrendo podem ser mais graves do que imaginamos.
Assim como nos Estados Unidos falam da luta hostil da China para controlar os alimentos, poderíamos falar da luta hostil dos Estados Unidos para controlar o relato — e dos perigos de viver numa fantasia e tomar decisões com base nessas crenças.
EDAIRYNEWS
Traduzido e adaptado para eDairyNews🇧🇷