A palavra-chave descarbonização marca o novo estágio da produção agroindustrial brasileira graças ao recente acordo entre a Nestlé Brasil e a Embrapa, firmado no contexto da COP30 em Belém. Este pacto pretende acelerar pesquisas que visam reduzir as emissões nas cadeias produtivas de leite e cacau — duas das matérias-primas mais relevantes para a companhia no país.
Durante a cerimônia, o Nestlé Brasil declarou que cerca de 70% da sua pegada de carbono está ligada ao agronegócio, e que a cadeia do leite responde sozinha por metade desse percentual. A colaboração com a Embrapa, por sua vez, permitirá trazer ao campo soluções baseadas em ciência aplicada para a transição da agropecuária convencional ao modelo regenerativo.
Objetivos da parceria
A parceria se estrutura em dois projetos iniciais:
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Um estudo para avaliar o perfil de emissão de gases de efeito estufa em vacas em lactação submetidas a diferentes dietas, com o objetivo de identificar práticas alimentares que reduzam carbono e intensifiquem a produção.
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A implantação de sistemas agroflorestais mais eficientes para produção de cacau, especialmente em biomas tropicais como a Amazônia, seguindo o modelo “plantio sombreado” recomendado pela Embrapa para mitigar emissões.
Relevância para o setor lácteo
Para o segmento de laticínios, esse movimento representa um marco relevante. A descarbonização da produção de leite — por meio de alimentação, genética, manejo e tecnologia — entra na agenda de indústria e fornecedores como diferencial competitivo. Sob o acordo, os produtores poderão se beneficiar de investimentos em pesquisas, assistência técnica e acesso a mercados que valorizam práticas sustentáveis.
Além disso, o alinhamento com metas de neutralidade de carbono da Nestlé — que busca emissões líquidas zero até 2050 e que 50% de suas principais matérias-primas venham de práticas regenerativas até 2030 — reflete também nas cadeias de leite em que está envolvida.
Implicações e desafios
Apesar das boas intenções, a implementação da descarbonização em escala não é trivial. É preciso enfrentar desafios como:
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A adaptação dos sistemas de produção atuais ao novo modelo regenerativo, que demanda investimento, mudança de práticas de manejo e treinamento.
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A geração de dados e evidências científicas robustas que comprovem a redução de emissões, um requisito para que os resultados sejam aceitos por reguladores, mercados e certificadores.
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A garantia de que os ganhos de produtividade, sustentabilidade e rentabilidade andem juntos — sem que práticas sustentáveis resultem em custo elevado que impossibilite a adoção em larga escala.
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A articulação de toda a cadeia, desde produtores de leite ou cacau, passando por indústrias, logística e mercados exportadores, para que o impacto real de descarbonização se traduza em valor.
Oportunidades
Por outro lado, a estratégia abre oportunidades para quem atua no setor:
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Laticínios e fornecedores que adotarem cedo práticas de baixa emissão poderão acessar mercados premium e clientes com exigências ESG (ambiental, social e governança).
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Investimentos em pesquisa, tecnologia e assistência técnica podem reduzir custos por unidade produzida, melhorar qualidade, e gerar vantagem competitiva sustentável.
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A restauração de pastagens, adoção de dietas de baixo carbono, integração lavoura-pecuária-floresta, entre outras práticas, podem gerar créditos de carbono, novas fontes de receita e atrair investimentos.
Conclusão
Em resumo, a palavra-chave descarbonização sintetiza o novo patamar estratégico da produção agropecuária no Brasil, especialmente para o setor de lácteos. A parceria entre Nestlé Brasil e Embrapa simboliza uma ambição — a de conciliar produtividade, escala e sustentabilidade em cadeias que são centrais para a economia nacional e para a indústria internacional de alimentos.
Escrito para o eDairyNews, com informações de Globo Rural.






