Clima adverso, com atraso das chuvas, e saída de produtores da atividade restringiram a produção de leite

Clima adverso, com atraso das chuvas, e saída de produtores da atividade restringiram a produção de leite

O ano de 2019 foi um período atípico para o setor de lácteos, marcado por sustentação dos preços no campo, em decorrência da oferta limitada e do aumento da competição entre os laticínios para assegurar mercado.

Isso foi verificado em um contexto de consumo retraído. O resultado: os preços ao produtor não seguiram a tendência sazonal de aumentos entre fevereiro e agosto e de quedas entre setembro e janeiro. As cotações no campo já iniciaram o ano em alta e a oferta restrita sustentou as consecutivas elevações de janeiro a junho. No período, foi verificado aumento real de 22 centavos por litro na “Média Brasil” líquida¹, com as cotações reais atingindo os mais altos patamares da série histórica do Cepea para um primeiro semestre.

No entanto, a estagnação econômica, a diminuição do poder de compra do brasileiro e a pressão das redes varejistas para atrair consumidores com preços baixos restringiram a valorização dos derivados lácteos. De acordo com pesquisas do Cepea, os preços médios anuais do leite UHT e da muçarela caíram 6,1% e 3,3% de 2018 para 2019, respectivamente, em termos reais (foram consideradas as médias de janeiro a novembro).

A dificuldade das empresas em repassar a alta da matéria-prima para os lácteos sem comprometer seus shares de mercado espremeu as margens das indústrias. Com isso, a participação média anual do preço do leite ao produtor nas cotações do UHT e muçarela aumentou 10,4% e 8,6%, nessa ordem, de um ano para o outro (considerando-se as médias de janeiro a novembro). Por esse motivo, os preços do leite ao produtor registraram quedas em julho e agosto, que, sazonalmente, são períodos de picos de entressafra – apenas nestes dois meses, o recuo real foi de 12 centavos/litro.

Dois pontos explicam a oferta limitada no campo em 2019 e também o fato de a produção do segundo semestre não ter sido estimulada, mesmo com os preços favoráveis até a metade do ano – oposto ao ocorrido em 2017. O primeiro ponto é clima.

De janeiro a março, as chuvas irregulares diminuíram a disponibilidade de pastagens e a produtividade das lavouras de milho; no segundo e terceiro trimestres, o inverno seco prejudicou a captação leiteira no Sudeste e a produção do Sul não foi tão alta quanto se esperava. Por fim, o atraso das chuvas da primavera, que tipicamente marcam o início da safra do Sudeste e Centro-Oeste, limitou a recuperação da produção no último trimestre. 

Em segundo lugar, deve-se destacar que a restrição da oferta foi intensificada pela saída de produtores da atividade nos últimos anos e pela grande insegurança – verificada em anos anteriores e neste também – em realizar investimentos de longo prazo frente às incertezas no curto prazo. Assim, as dificuldades de 2017 e 2018 se desdobraram em efeitos de longo prazo, que impactaram negativamente a produção em 2019.

Ressalta-se, ainda, que o aumento dos preços dos grãos neste final de ano pode diminuir o potencial de crescimento da atividade. Ademais, as cotações atrativas no mercado de gado de corte têm incentivado o abate de vacas e podem, nos próximos meses, levar à destinação de parte da produção de leite para a alimentação de bezerros.

Se, no início do ano, perspectivas apontavam para aumento da produção anual em torno de 3%, neste final de 2019, já se revisam os cálculos para uma possível estagnação da produção. Por outro lado, com menor oferta de leite, a captação formal deve se elevar em 2019. Os dados da Pesquisa Trimestral do Leite (PTL) apontam alta de 3,4% no volume formal captado entre o 1º e 3º trimestres de 2019 frente ao mesmo período de 2018. É importante lembrar que, segundo levantamento do IBGE, a diferença entre produção e captação formal no Brasil em 2018 foi de quase 9,4 bilhões de litros.

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