Os preços do leite no campo seguem uma tendência sazonal. No verão, a produção é estimulada pelo maior volume de chuvas, que beneficiam as pastagens e, assim, a alimentação animal. Como consequência da maior produção no campo, os preços tendem a cair de novembro a março. Essa tendência dá certa previsibilidade para a tomada de decisão dos agentes de mercado.
Entretanto, neste verão, a produção no campo tem se elevado lentamente e a consequente limitação da oferta, que já vinha direcionando os movimentos do mercado do leite desde o ano passado, deve continuar a pesar sobre as negociações entre produtores e indústria neste primeiro trimestre.
O atraso das chuvas da primavera, o aumento dos custos de produção (em especial do preço do concentrado) e o abate de vacas leiteiras, estimulado pelos elevados valores no mercado de gado de corte, prejudicaram a produção de leite nos últimos meses. A competição entre laticínios para garantir a compra de matéria-prima tem mantido o leite valorizado no campo desde outubro de 2019, num movimento atípico para o período – que é geralmente caracterizado pelo aumento da produção, puxada pelo Sudeste e Centro-Oeste, e estabilidade na captação do Sul do País.
Para agravar este cenário, as altas temperaturas e a estiagem no Sul do País, com destaque para o Rio Grande do Sul, impactaram negativamente a atividade leiteira. Neste caso, animais enfrentaram maior estresse calórico e diminuição de alimentos para o rebanho – devido à menor disponibilidade de pastagem e também aos prejuízos no plantio de milho para silagem.
O Índice de Captação Leiteira (ICAP-L) do Cepea recuou 1,2% de novembro para dezembro na “Média Brasil”. O resultado está atrelado às quedas de 7,3% no RS, de 1,4% em MG e de 0,5% em GO. Quando considerado o período de outubro a dezembro, quando tipicamente verifica-se aumento da produção, a captação das empresas avançou apenas 1,65%.
Diante da oferta restrita, o levantamento do Cepea mostrou que o preço do leite pago ao produtor em janeiro (referente ao volume captado em dez/19) chegou a R$ 1,36835/litro na “Média Brasil” líquida. Em termos reais, houve alta de 0,9% frente ao mês anterior e ficou 2,3% acima do observado em jan/19 (valores deflacionados pelo IPCA de jan/20).
Este é o maior preço real da série histórica do Cepea para um mês de janeiro. De acordo com pesquisa ainda em andamento do Cepea, o preço pago ao produtor em fevereiro (referente à captação de janeiro) deve registrar nova alta. A intensidade do aumento, contudo, deve variar entre os estados analisados.