No Brasil, há produtores de maior escala que têm registrado um aumento de produtividade bem acima da média nacional e já existe elevado número de municípios com produtividade próxima ou até superior às médias da Argentina e do Uruguai
Monitorar a variação da produtividade é, portanto, uma boa estratégia para verificar se as tecnologias de produção estão evoluindo e em qual velocidade. Uma forma simples de analisar a evolução das tecnologias utilizadas nas fazendas de leite é verificar o comportamento da produtividade animal. Na América do Sul, o Brasil, a Argentina e o Uruguai são os três principais países produtores de leite. O Brasil se destaca pelo seu alto volume de produção: 33,8 bilhões de litros em 2018, 3,2 vezes maior que a produção da Argentina (10,5 bilhões de litros) e 15,7 vezes maior que a do Uruguai (2,2 bilhões de litros), o que coloca o País como terceiro maior produtor de leite do mundo.
1 Evolução percentual da produtividade do rebanho leiteiro no período de 2000 a 2018 (2000 = 100)
Apesar da elevada produção interna, o Brasil é importador líquido de leite, devido ao seu grande mercado interno e a questões de competitividade internacional. Argentina e Uruguai, embora com produção menor, destacam-se como exportadores de leite, principalmente pela proporção exportada em relação à sua produção interna. Por outro lado, quando se foca na tecnologia de produção, estimada pela produtividade do rebanho, o Brasil fica bem atrás dos seus dois vizinhos. Em 2018, a produtividade média do rebanho brasileiro, em litros de leite por vaca por ano, era de 2.069 litros, bem abaixo do desempenho produtivo das vacas do Uruguai (2.837 litros) e menor ainda do que produziam as vacas argentinas (6.596 litros). Vale destacar, no entanto, que estes valores refletem médias. No Brasil, existem muitas fazendas com elevada produtividade animal, atingindo patamares similares aos de rebanhos europeus.
Uma questão animadora, no entanto, é que a produtividade relativa do rebanho leiteiro no Brasil, que reflete bem a modernização tecnológica das fazendas, vem crescendo de forma bem mais rápida do que na Argentina e no Uruguai (Gráfico 1). De 2000 a 2018, a produtividade das vacas no Brasil cresceu 82%, bem acima do observado na Argentina (60%) e no Uruguai (40%). Observa-se ainda que o crescimento da produtividade do nosso rebanho foi contínuo no período, mostrando, portanto, que a tecnologia utilizada nas fazendas brasileiras vem se modernizando de forma consistente e cada vez mais rápido.
No Uruguai, a produtividade permanece estabilizada nos últimos sete anos, podendo observar inclusive alguma redução (-6%), entre 2012 e 2018. No caso da Argentina, o aumento de produtividade não tem apresentado a mesma consistência observada no Brasil, especialmente a partir de 2011. Neste caso é importante registrar que a produtividade argentina, desde 1999, já tinha ultrapassado a casa dos 4.000 kg/vaca/ano, chegando a 6.600 kg/vaca/ano em 2018. A tecnologia de produção praticada nas fazendas argentinas, embora ainda ascendente, pode estar atingindo o limite genético atual do rebanho.
2 Evolução percentual do número de vacas leiteiras no período de 2000 a 2018 (2000 = 100)
No Brasil, este limite ainda permanece distante, uma vez que só em 2018 nossa produtividade chegou próximo a 2.100 kg/vaca/ano, patamar que a Argentina já tinha alcançado há 30 anos. Uma questão a se observar é que o crescimento da produtividade do rebanho vem acompanhado de uma constante redução percentual do número de vacas, sobretudo no Brasil e Argentina, a partir de 2012, fato que não tem sido observado no Uruguai, onde o plantel de vacas está mais ou menos estabilizado (Gráfico 2). Este comportamento leva a crer que a modernização das fazendas leiteiras, principalmente na Argentina e no Brasil, é decorrente principalmente da elevação do potencial genético do rebanho, acompanhado da necessária adequação do manejo, da nutrição e da sanidade dos animais, além da maior mecanização e intensificação dos modelos de produção.
Além dessas questões tecnológicas, é importante mencionar outras diferenças entre esses países. A primeira é o grande número ainda de fazendas que chegam a 1,176 milhão no Brasil (embora rapidamente caindo em número e aumentando em escala de produção), enquanto na Argentina não passa de 12 mil e, no Uruguai, 3 mil fazendas.
No caso da Argentina, merece destaque também a crise política e econômica enfrentada pelo país nos últimos anos, com inflação e taxa de juros elevadas, desestimulando e inviabilizando investimentos na produção, inclusive entre os pecuaristas. As medidas do governo para conter a inflação vêm punindo os investidores, inclusive desencorajando os produtores de leite, que estão mantendo a oferta total de leite do país instável e praticamente estagnada no saldo dos últimos 12 anos (Gráfico 3).
No Uruguai, produtores tradicionais de leite estão deixando a atividade por enfrentar problemas, principalmente com a mão de obra cada vez mais escassa e cara no país. Os preços também são menores que os recebidos pelos produtores brasileiros, pois estão historicamente alinhados ao preço médio internacional, uma vez que o Uruguai exporta grande parte de sua produção, já que a população local não absorve toda a oferta interna. No Brasil, os produtores de maior escala, especialmente nas regiões Sul e Sudeste, têm registrado um aumento de produtividade bem acima da média nacional e já existe elevado número de municípios com produtividade próxima ou até superior às médias da Argentina e do Uruguai.