Programa quer fortalecer a cadeia produtiva, garantindo o insumo para a indústria de proteína animal
Nos quatro municípios de abrangência do Sindicato Rural de Santo Ângelo, 95% da área já foi semeada com o milho. Júnior Henrique Milanesi destinou 30% dos 1.000 hectares da propriedade para a cultura e se revela otimista com a safra deste ano. “Esse ano, devido à presença do La Niña, a gente vai dar uma reduzida. Já plantamos 220 hectares, reduzindo milho grão, mantendo constante milho irrigado e silagem”, disse.
O plantio na propriedade começou em 21 de agosto e os preços atuais animam o produtor. “Os preços estão interessantes, tanto para soja como para milho, mas o potencial de produtividade do milho é extraordinário. O plantio do milho é sempre interessante na nossa região e ele também viabiliza a safrinha de soja, que além de remunerar bem, é um bom manejo para garantir uma possibilidade de sementes salvas pelo produtor. Estamos aumentando a irrigação, construindo mais silos e é por aí que caminha o plantio do milho”, completou.
A produção de milho no Rio Grande do Sul precisa crescer para poder atender a própria cadeia produtiva no segmento de proteína animal. E essa responsabilidade cresce ainda mais com a possibilidade de o estado se tornar livre de vacinação para febre aftosa, o que possibilita o aumento do mercado para carne.
Por ser o principal insumo da ração animal, o milho tem papel fundamental para fortalecer toda uma cadeia, seja de gado de corte ou de leite. Essa demanda foi tema de análise do Quinto Seminário do Programa Estadual de Produção e Qualidade do Milho, o Pró-Milho RS.
O diretor de Política Agrícola e Desenvolvimento Rural da secretaria de Agricultura do estado, Ivan Bonetti, relatou que, de 2019 até maio de 2020, o estado deixou de arrecadar R$ 260 milhões em ICMS por não produzir milho suficiente.
“O Estado apresenta uma produção inferior à demanda, que varia de 1,5 a 2, 5 milhões de toneladas por ano. Este ano, de 2020, em função da estiagem, nós ultrapassamos 2 milhões de toneladas a falta de milho no Rio Grande do Sul, que tem que vir de outros estados da federação, principalmente, do Centro-oeste do país. A participação do milho na economia do Rio Grande do Sul chega a 10% do PIB, contabilizando o que é produzido dentro da propriedade rural, no comércio e nas indústrias, pegarmos a cadeia do milho, aves e suínos e bovinos. Esse grão é estratégico”, disse ele.
O presidente da Cooperativa Dália Alimentos, Carlos Alberto Freitas, disse que o programa é uma reivindicação antiga das agroindústrias de suínos e frangos que são as duas principais cadeias consumidoras de milho.
Para Freitas, a questão sempre foi um problema sério no Rio Grande do Sul, o que gera perda de competitividade, em relação às agroindústrias do Centro-Oeste e do Paraná. “Nós produzimos frango e carne suína para dentro e fora do Brasil, mas mas somos um grande importador de grão. Se o Rio Grande do Sul conseguir aumentar a sua produção de grãos para abastecer os rebanhos existentes, isso vai dar uma redução de custos enorme para nossas indústrias e nós vamos buscar competitividade comparada com indústrias que estão fora do estado”, ressaltou.
Segundo ele, apenas na cooperativa, são consumidos por mês 20 mil toneladas de milho. E dessas 20 mil toneladas, 70% vem de Mato Grosso, Paraná, Paraguai e outras localidades. ”Nós conseguimos comprar no Rio Grande do Sul apenas 30% do nosso consumo”, afirmou.
Somente no frete, avalia, seriam economizados R$ 20 milhões por ano.
Como fazer?
Uma alternativa viável para expandir a produção de milho no Rio Grande do Sul e que não conflita com a expansão acelerada das áreas de soja em todo o estado, é estimular o uso de irrigação e a inclusão do milho na rotação com a soja e o arroz, na metade Sul. A recomendação do consultor em agronegócio, Carlos Cogo.
“Quando o produtor escolhe soja e milho, ele avalia a margem de lucro futura, se ela é favorável à soja, ele vai direcionar à soja. Não há mais fronteira agrícola na metade norte do estado e lá nós temos que buscar a rotação e buscar o crescimento de produtividade. A metade sul está optando o modelo soja, arroz irrigado, há espaço para inserir o milho”, diz.
Segundo Cogo, “o que move o produtor é o lucro, plantar o que é mais rentável”. Por isso, ele diz buscar mostrar onde é mais rentável para a produção. “O milho de alta produtividade poder ser tão ou mais rentável que a própria soja. Aumentando o uso de irrigação, o milho está mostrando que tem, sim, liquidez”.