Que a renda tem impacto no consumo de alimentos já é de conhecimento geral. Especialmente em países em desenvolvimento como o Brasil.

Que a renda tem impacto no consumo de alimentos já é de conhecimento geral. Especialmente em países em desenvolvimento como o Brasil. E durante a pandemia não tem sido diferente. A Embrapa realizou uma pesquisa entre os dias 23 de abril e 03 de maio de 2020 que revelou detalhes interessantes do efeito renda no consumo de lácteos no Brasil.

No início dessa pandemia, dos 5105 respondentes, 82,72% encontravam produtos lácteos com facilidade. No entanto, este percentual variou muito de acordo com a faixa salarial (Figura 1).

Figura 1. Nível de acesso aos produtos lácteos durante a pandemia, de acordo com a faixa de renda familiar (em salários mínimos).

efeito renda no consmo de lacteos
Fonte: Siqueira (2020).

O percentual daqueles que têm renda familiar de até 1 salário mínimo e encontravam lácteos com facilidade foi de 63,09%. Quando a renda familiar passa para de 2 a 5 salários mínimos esse percentual já muda para 80,17%. E na faixa de renda mais elevada (acima de 10 SM), o percentual dos que encontravam os lácteos com facilidade foi de 87,14%. Ou seja, há um crescimento gradual conforme a faixa de renda familiar vai aumentando, com uma diferença de mais de 20 pontos percentuais entre a primeira e última faixa de renda neste estudo.

Quando os entrevistados foram perguntados se diminuíram, mantiveram ou aumentaram o consumo de lácteos durante a pandemia, para todos os produtos analisados, a maioria respondeu que manteve o consumo. No entanto, pode-se também observar diferenças nesta estabilidade do consumo quando a renda varia (Tabela 1).

Tabela 1. Estabilidade no consumo de lácteos durante a pandemia, de acordo com a faixa salarial da família

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Fonte: Siqueira (2020).

De acordo com a Tabela 1, o produto que apresentou menor variação de estabilidade de consumo conforme a faixa de renda foi o petit suisse, que também foi o produto com menor estabilidade de consumo dentre todos os analisados. Já as maiores variações entre a primeira e a última faixa de renda ocorreram para leite UHT: 21,72 pontos percentuais (pp). Em seguida, tem-se iogurte (13,56 pp), creme de leite (11,25 pp), queijos (10,75 pp) e manteiga (9,46 pp). Para todos os produtos, a menor faixa de renda foi a que menos manteve estabilidade de consumo, com exceção do leite em pó e bebida láctea.

No entanto, a influência da renda fica mais nítida quando se compara os dois fatores mais decisivos na hora da compra de lácteos na pandemia: preço e marca (Figura 2). Neste caso, é possível perceber a relação direta entre o aumento da renda e a importância do fator marca na compra de lácteos durante a pandemia, e a relação inversa do fator preço com a renda. Ou seja, para as famílias que ganham até um salário mínimo, o preço é o fator determinante na aquisição de derivados do leite durante a pandemia, enquanto para aqueles que ganham acima de 10 salários mínimos, o preço perde importância para o fator marca.

Figura 2. Relação entre a renda salarial e os fatores preço e marca na hora da compra de lácteos durante a pandemia.

efeito renda no consmo de lacteos

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Fonte: Siqueira (2020).

Portanto, observa-se que a renda familiar exerce grande influência no consumo de derivados do leite no Brasil, sendo inclusive, um fator mais determinante para este consumo do que o preço dos produtos. Isso sugere que, medidas governamentais que têm impacto sobre a renda, como o auxílio emergencial por exemplo, podem ter grande impacto no consumo de leite e derivados no Brasil.

Produtores de leite preveem aumento de 6% neste ano.

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