A valorização considerável e contínua dos grãos tem comprometido a margem do produtor.
O menor consumo de lácteos, reflexo da queda da renda dos consumidores, provocou nova retração nos preços do leite no campo. De acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), a queda é a segunda consecutiva e, pela primeira vez em seis meses, o litro do leite está cotado abaixo de R$ 2,00.
Em Minas Gerais, em fevereiro, referente à produção entregue em janeiro, foi registrada retração de 2,08% no preço médio, que encerrou o período em R$ 1,99 por litro. De acordo com o levantamento feito pelo Cepea, assim como visto em Minas Gerais, o preço do leite captado em janeiro e pago aos produtores em fevereiro recuou 2,2% na média Brasil líquida, chegando a R$ 1,98 por litro. Ainda em relação a Minas Gerais, já na comparação com fevereiro de 2020, o valor está 40,14% superior, uma vez que o litro estava cotado a R$ 1,42.
Os pesquisadores do Cepea explicam que a queda nos valores recebidos pelos pecuaristas está ligada a menor demanda pelos produtos lácteos nos supermercados. Com a suspensão do auxílio emergencial e o aumento do desemprego, o poder de compra das famílias está menor, impactando de forma negativa o consumo. Ainda segundo o Cepea, ao longo do mês, diante da estimativa de consumo menor no mercado, as indústrias lácteas buscaram ajustar a produção e manter os estoques controlados.
A medida teve como objetivo evitar quedas bruscas nos preços dos derivados e também dos valores pagos aos produtores. Porém, desde dezembro, com o consumo enfraquecido, os estoques estão maiores. Outro desafio é a pressão vinda dos varejistas, que, diante da queda nas vendas, estão em busca de preços mais competitivos.
Os dados do Cepea mostram também que, mesmo com os esforços das indústrias para segurar os preços, as cotações de leite spot em Minas Gerais recuaram 12,3% na média de janeiro. Em fevereiro, o recuo foi de 0,7% na comparação com janeiro.
Custo em alta – A queda nos preços pagos aos pecuaristas deixa a situação da produção cada vez mais crítica. Apesar dos preços 40,14% maiores que os registrados em fevereiro de 2020, o custo de produção subiu muito e a margem está cada vez menor. O levantamento do Cepea mostra que, em janeiro, o pecuarista precisou de, em média, 41,2 litros de leite para a aquisição de uma saca de 60 quilos de milho, 16,3% a mais que em dezembro de 2020.
De acordo com os pesquisadores, é importante pontuar que, mesmo diante de preços do leite em patamares considerados altos para o período do ano, a margem do produtor tem caído. Com a menor renda, há maior desestímulo em relação a investimentos na atividade, o que pode refletir em dificuldade na retomada da produção no segundo semestre. Em janeiro, por exemplo, a captação das indústrias caiu 4,5% frente ao mês anterior, segundo o Índice de Captação Leiteira (Icap-L).
Com o cenário negativo para a produção de leite e a chegada do clima mais seco, a tendência é de novas quedas na oferta nos próximos meses. A redução também estará ligada as menores quantidade e qualidade das silagens neste início de ano, em decorrência de condições climáticas adversas no último trimestre de 2020. Além disso, a valorização considerável e contínua dos grãos – principais componentes dos custos de produção da pecuária leiteira – tem comprometido a margem do produtor, prejudicando o manejo alimentar dos animais e a produção.