Vinculada ao Centro de Ciências Agrárias do Campus de Marechal Cândido Rondon, a ação abrange atividades de pesquisa e extensão, no âmbito dos cursos de graduação em Agronomia e Zootecnia, além do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia e do Núcleo de Estudos de Produção Agroecológica de Leite (Nepal).
Ao longo da última década, o projeto recebeu aporte de cerca de R$ 420 mil. Desse montante, R$ 250 mil foram repassados pelo Fundo Paraná, operacionalizado pela Superintendência Geral de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Governo do Estado. O restante dos recursos financeiros é oriundo do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Itaipu Binacional.
Segundo a coordenadora da ação, professora Maximilian e Alavarse Zambom, muitos produtores têm dúvidas em relação à alimentação dos animais e ao tipo de tratamento em situações de doenças no rebanho. “As práticas de ensino agroecológicas e as técnicas sustentáveis contribuem para a qualidade do leite produzido, melhorando também a renda dos produtores, principalmente aqueles da agricultura familiar e de assentamentos rurais”, afirma.
Doutora em Zootecnia, ela explica que na produção de leite orgânico, diferente do leite convencional, não são utilizados insumos externos à propriedade, tais como defensivos agrícolas, antibióticos e antiparasitários, fertilizantes químicos e outros contaminantes. O pasto é a principal fonte de alimentação dos animais, sendo vetada, inclusive, a ração comum, devido aos transgênicos.
“Existem várias soluções para as propriedades rurais manterem a saúde dos animais, como práticas de homeopatia e fitoterapia, assim como a utilização de alimentos alternativos para a produção animal. Esse conhecimento técnico ajuda a produzir um leite de ótima qualidade”, destaca a professora. “Normalmente, o leite orgânico apresenta teor de gordura superior exatamente por causa da alimentação do rebanho”.
Atualmente, os pesquisadores da Unioeste fazem um trabalho de avaliação de alimentos alternativos para os animais, que podem ser implementados no manejo agroecológico, tanto em propriedades orgânicas quanto nas demais. O grupo de pesquisadores conduz análises de volumosos, que são alimentos ricos em fibra (superior a 18%).
Essas atividades são desenvolvidas em um campo agrostológico – espaço reservado para o cultivo e demonstração de plantas forrageiras (usadas como fonte de volumosos para os animais) –, nas proximidades do campus da Unioeste em Marechal Cândido Rondon.
“Estudamos volumosos como leucena, lab-lab, crotalária, feijão guandu e moringa, avaliando o valor nutricional e a capacidade de conservação. Considerados alimentos alternativos, representam uma forma de baratear e manter a produção nesse momento de escassez de alimentos convencionais”, detalha a estudante de doutorado em Zootecnia, Maria Luiza Fischer, esclarecendo que os estudos dos volumosos são feitos na forma de feno, silagem e in natura.
Desde o início desse projeto acadêmico, em 2011, a Unioeste teve apoio do programa Universidade Sem Fronteiras (USF) do Governo do Estado, uma iniciativa institucional que articula ações de extensão, ensino e pesquisa, com foco no desenvolvimento social e na melhoria da qualidade de vida da população paranaense.
ASSENTAMENTOS – O projeto de produção de leite orgânico da Unioeste beneficiou 67 famílias diretamente e outras 404 indiretamente. Esses produtores rurais estão assentados em uma área de aproximadamente 7 mil hectares de extensão – um hectare corresponde a 10 mil metros quadrados, o equivalente a um campo de futebol oficial.
Para o produtor Luiz Carlos Hartmann, do assentamento Santa Izabel, localizado no município de Ramilândia, a produção leiteira exige organização eficiente de manejo para estabelecer uma estruturação produtiva que gere resultados.
“Além de análises no leite produzido e nos materiais usados na alimentação dos animais, os pesquisadores também mostraram alternativas para o manejo, que ajudaram a melhorar a qualidade do produto, o planejamento e os rendimentos produtivos”, elenca o agricultor.
Em uma área de 883 hectares, o assentamento Santa Izabel reúne 63 famílias, das quais 11 são assistidas pelo projeto. Na mesma cidade, o assentamento 16 de Maio soma mais de 4 mil hectares e 220 famílias, sendo 31 envolvidas na ação.
No município de São Miguel do Iguaçu, com pouco mais de mil hectares, o assentamento Antônio Companheiro Tavares dispõe de 80 famílias, sendo oito beneficiadas diretamente pelo projeto. Já o assentamento Ander Rodolfo Henrique ocupa uma área superior a 3 mil hectares, abrangendo os municípios de Diamante do Oeste e de Vera Cruz do Oeste. O local reúne 108 famílias, das quais 17 participam da ação universitária.
Atualmente, o projeto da Unioeste promove palestras e dias de campo, em parceria com outras instituições.
DEMANDA – Dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) apontam que um terço dos solos do mundo está degradado, sinalizando a necessidade imediata de preservação e restauração ecológica. A agroecologia se mostra como alternativa para assegurar a sustentabilidade das várias culturas produtivas com redução de danos para o meio ambiente.
A Unioeste desenvolve uma série de iniciativas de ensino, pesquisa e extensão com foco no desenvolvimento sustentável do setor rural. A maior parte dos projetos abrange assentamentos rurais registrados no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e assistidos por movimentos sociais e organizações da sociedade civil (OSCs).