Levantamento da Emater-MG mostra que produtores perderam plantações em julho, devido as baixas temperaturas; situação pode aumentar preço de produtos
O mês de julho bateu recorde de baixas temperaturas em Minas Gerais. Diversos municípios foram atingidos por geadas, muitos deles com áreas em produção de pastagens, grãos, frutas, hortaliças e flores. Segundo um levantamento divulgado pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG), nesta segunda-feira (16/8), 257 cidades mineiras foram atingidas pelo fenômeno, que prejudicou cerca de 24 mil produtores.
Do total de área cultivada nos municípios onde foram registradas a ocorrência de geadas, estima-se que o fenômeno climático tenha afetado aproximadamente 31,7% da área. De acordo com o levantamento, os grupos que tiveram mais produtores afetados foram os de pastagem, com cerca de 16.260, seguido pelos de olericultura (hortaliças) e de fruticultura, com aproximadamente 3.885 e 2.455 agricultores, respectivamente.
A pesquisa foi realizada na Região Sul do estado, nas cidades de Alfenas, Guaxupé, Lavras, Passos e Pouso Alegre, além do Triângulo Mineiro, em Uberaba e Uberlândia. Também participaram as cidades de Patos de Minas, na região do Alto Paranaíba, Juiz de Fora, na Zona da Mata e São João del Rei, no Campo das Vertentes. Na Região Central, os dados foram pesquisados em Belo Horizonte, Curvelo, Divinópolis e Sete Lagoas.
As cidades do Sul de Minas sofreram com as baixas temperaturas desde o fim de maio que, aos poucos, foram se intensificando a ponto de formar geadas por dias seguidos. Moradores da região puderam ver que o verde das plantações estava encoberto por uma camada branca, dando a impressão de neve nas cidades.
Em Alfenas, a prefeitura chegou a emitir um decreto de “situação de emergência” na zona rural do município pelos danos aos produtores rurais. A Secretaria Municipal de Agricultura e Desenvolvimento Rural e a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Indústria, Comércio e Ação Regional estavam autorizadas a adotar todas as medidas que fossem necessárias para minimizar os problemas ocasionados.
Segundo a Emater, 1.235.448 hectares de pastagens foram afetados, o que corresponde a aproximadamente 36,2% da área total ocupada com esta cultura nas regiões onde ocorreram as geadas.
Enquanto a área ocupada com a produção de grãos teve cerca de 192.062 hectares prejudicados (17,8% do total). Já na fruticultura, o fenômeno atingiu cerca de 16.622,7 hectares (28% do total dos pomares).
O cultivo de hortaliças foi atingido em 13.942,5 hectares (25,9% do total). As flores foram as mais impactadas, proporcionalmente ao total cultivado. Houve formação de geadas em 13,1 hectares de floricultura, o que corresponde a 39,5% da área plantada.
Influência nos preços dos supermercados
Apesar de os 16 mil produtores de pastagens terem sido prejudicados, o valor da carne bovina não corre risco de aumentar devido à geada nas cidades mineiras. De acordo com o coordenador técnico estadual de Bovinocultura da Emater, Nauto Martins, a região do levantamento é, predominantemente, produtora de leite.
A pecuária de corte é feita da Região Central do estado para ‘cima’, ou seja, não há quantidade expressiva de produtores desse tipo no Sul de Minas.
“A pecuária de corte funciona um pouco diferente do leite. No caso do levantamento da bacia leiteira, há produção bovina de corte e também de leite. O corte é feito da Região Central para cima, que não foram afetadas pela geada. Acreditamos que não vá ter um efeito na carne”, disse.
“Hoje, o preço da carne em todo Brasil está estável, lá no alto, mas estável. Isso é em função do volume que é exportado. Há pouca oferta de animais para abate, do que houve no passado, mas não percebemos influência da geada no aumento da carne”, explica o coordenador.
Segundo Nauto, por ser uma região com grande produção de leite, o valor dos seus derivados pode sofrer alterações, já que a compra da matéria-prima será um pouco mais cara. Por isso, as indústrias poderão repassar o aumento para o consumidor final.
“A maioria dos produtores nessa região é de leite. Tem muito gado em regime de confinamento, mas a maioria é de pasto. Agora os produtores vão ver diferença nos gastos, pois terão que usar ração, aumentando o preço de sua produção”.
“Sem a mesma produção, cai o número de leite no mercado. O consumo não vai variar muito, porque ele é afetado pela renda, que já está abalada. A procura do leite não vai aumentar tanto, mas a oferta vai diminuir. A tendência é que haja aumento nos custos para o produtor. Aí, as indústrias de laticínio podem repassar os custos de compra da matéria-prima para o consumidor final”, disse Nauto.
Os valores dessa época do ano já podem ser afetados pela estação, que além de fria é seca, o que diminui a quantidade de pasto disponível para alimentar os animais. Em Minas Gerais, a associação Conseleite estabelece um preço de referência para o mês seguinte à entrega ds produto, analisando todo o cenário- estação, possíveis fenômenos naturais, valores de mercado etc.
Com essa análise conjuntural, o conselho estabeleceu um preço para agosto, do leite entregue em julho, mês da geada. Os produtores venderam o leite para as indústrias com 0,1% a mais no preço. Segundo Nauto, o reajuste afeta, com certeza, as empresas que compram o leite, mas o repasse para os consumidores na hora de comprar os derivados no supermercado é opcional.
“O preço pago ao produtor aumentou cerca de 0,1%, não necessariamente esse valor vai ser repassado ao varejo nos supermercados. Os consumidores devem notar aumento dos laticínios, também, em função do período de seca, falta de chuvas, temperatura fria. Vai ter aumento, mas não é algo abrupto” finaliza.