O aumento nos custos da produção de leite e a mudança climática que interferiu no uso de pastagem para o rebanho impactaram a produção leiteira na região, reduzindo ainda mais a margem de lucro do produtor. No ano passado, os preços dos insumos e da alimentação para os animais foram considerados altos demais e neste ano, a tendência ainda é de elevação.
A recomendação é que os produtores usem todos os métodos e tecnologias para evitar perdas, com apoio de um planejamento no campo, para manter também a qualidade do leite. “É uma época complicada com os custos da produção leiteira, quando os preços não sobem e até sofrem baixas. O produtor precisa usar de todos os artifícios para não ter perdas”, enfatiza o pesquisador científico Luiz Carlos Roma Júnior, do Instituto de Zootecnia (IZ/Apta), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.
O grande desafio, segundo o pesquisador, é que os integrantes da cadeia leiteira estejam preparados para enfrentar os altos custos, por exemplo, com a alimentação do rebanho. “Agora é época das águas, e o produtor pode baratear o alimento volumoso, colocar o animal no pasto e diminuir custos com a soja, que está com preço mais alto”, afirma. O rebanho leiteiro brasileiro, acrescenta, ainda utiliza muito a alimentação à base de milho e soja, grãos que elevaram bastante os custos no ano passado.
Há uma década desenvolvendo pesquisas sobre a produção leiteira, Roma Júnior diz que o Instituto de Zootecnia vem orientando aos pequenos e médios produtores paulistas na busca por melhor qualidade e, por tabela, maior rentabilidade. As análises do leite são fundamentais, segundo ele, pois norteiam o trato correto dos animais em termos nutricionais, o que redunda em uma boa produção leiteira.
“O planejamento também deve ser prévio, de pelo menos dois meses, com os produtos que serão usados no campo. É importante se preparar para o inverno (época de clima seco) e planejar o consumo interno do rebanho”, alerta. “Com bom preparo, o leite é mais valorizado no mercado”.
Análises diárias
Para o produtor Renato Bovoni, de Paraíso, é essencial a análise do leite, feita pelo laticínio. “As análises são diárias, e as que são mais detalhadas, a cada mês. Com isso, vou acertando a alimentação para as vacas, uma forma de melhorar a produção e não errar tanto com a ração mais cara.”
Renato conta que no ano passado a geada atingiu o pasto e houve mais gasto com a adubação, para refazer a pastagem e alimentar o rebanho. “Trabalho com irrigação, então tenho pasto o ano todo para o gado. Mas a geada dos meses de julho e agosto de 2021 queimou o capim e precisei mais de adubo, um insumo que aumentou muito de preço”.
Milho e soja mais caros
Os custos com a alimentação do gado representam entre 60% a 80% da produção de leite, despesas que tiveram custo maior ainda com a valorização do milho e do farelo de soja, segundo a produtora rural Sueleni Maria Rodrigues.
A produção leiteira no sítio de Sueleni, em Guapiaçu, também caiu de 350 litros para 320 litros, por dia, para que a produtora consiga fechar as contas do orçamento diário. “Em 2020 a produção chegou a 600 litros por dia, mas agora está bem difícil”, disse Sueleni.
Sueleni explica que precisa manter os animais com a alimentação em diferentes fases da produção (de bezerros a vacas) e, com isso, os custos aumentam ainda mais. “Agora, neste início do ano, reavaliamos e vimos que a melhor estratégia era reduzir os animais, então fiz um dinheiro vendendo os bezerros”, afirma.
Na avaliação da produtora, os preços pagos no campo pelo litro do leite vinham se mantendo estáveis no ano passado, mas depois caíram e não acompanharam a alta valorização de insumos. “Para manter a sala de ordenha, também temos altos custos. Os equipamentos são importados e precisam ser trocados (alguns itens) com certa frequência”, diz Sueleni ao destacar a importância de mantar a qualidade do leite e dos animais. (CC)
Conta que não há como fechar
Pesquisa do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/USP) mostrou que o preço do leite pago ao produtor de janeiro a novembro de 2021 foi de R$ 2,25, o litro, 18,1% acima da média do mesmo período de 2020. Porém, os analistas apontam que em outubro os preços caíram 5,9% no acumulado de janeiro a novembro de 2021, em termos reais para o produtor de leite. Na região Noroeste, os produtores afirmam que está difícil fechar as contas com a produção de custos elevados e preços em baixa, pagos pelo litro do leite no campo.
O trabalho com a produção no sítio de Aguinaldo José Cardoso, em Uchoa, não tem o gasto da mão-de-obra e ele também diz que se planeja o máximo para diminuir custos. “Conto com a família para o trabalho diário, e mesmo assim está difícil, já que o leite parece ser o único que não sobe de preço.”
Aguinaldo diminuiu a produção de 380 litros diários para 270 litros, mas ainda calcula os preços que despencaram nos últimos meses e que impactam nas despesas. “No ano passado, os preços chegaram a R$ 2,50 o litro pago para o produtor, mas agora está R$ 2,10”. A expectativa é que para os próximos meses os preços aumentem, já que os insumos e a alimentação devem continuar altos.
O gerente da Associação dos Produtores Rurais de Potirendaba (Asprup), José Eduardo Ferrari, avalia que os R$ 2,10 que vêm se mantendo desde dezembro não é tão ruim. “O que vem ocorrendo é que os custos com energia elétrica, combustível, ração e insumos, subiram demais, o que diminui a rentabilidade da produção leiteira”, afirma.
A Asprup mantém 45 produtores de leite e faz a captação diária de 16.800 litros, comercializados entre as indústrias da região. Conforme Eduardo, a alimentação fornecida ao rebanho foi a principal responsável pelos custos altos. “Mas a nossa perspectiva é que os preços pagos aos pecuaristas melhorem nos meses de janeiro e fevereiro”, conclui. (CC)