Não é somente a carne ou a cenoura que andam deixando a conta do supermercado mais alta. O litro do leite longa vida, o popular leite de caixinha, também disparou nas últimas semanas.
Até o final de março era possível encontrar o produto a menos de quatro reais, agora está entre R$ 4,10 e R$ 4,30, podendo ser mais caro conforme marca e local. No acumulado do ano o contraste é maior, levando em conta que até janeiro dava para achar a R$ 2,69.
Segundo o secretário-executivo do Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados (Sindilat), Darlan Palharini, entre o final de março e início de abril o aumento foi de 10% a 15%. A reportagem visitou três supermercados na manhã de ontem e os preços variaram entre R$ 3,94 e R$ 4,59, sendo que o menor valor era oferecido em apenas um estabelecimento para um único tipo de leite.
Nos mercados menores, que ficam nos bairros, o leite de caixinha já passa dos cinco reais a unidade. Margem de venda O comerciante Marcos Roberto Przygodnski Nunes, 48 anos, tem uma padaria no bairro Rincão e foi até um atacado fazer compras. Entre os itens, uma caixa com 12 litros de leite, ao preço de R$ 4,19.
“Faz umas duas semanas que o preço está se mantendo, porque antes subia quase todo o dia”, comenta. Por conta dos aumentos, ele até diminuiu a margem de venda do produto em sua padaria. “Porque eu sei que fica muito caro para o pessoal”, disse. Ele lembra que no início do ano o valor do litro ficava próximo dos 3 reais.
Conforme encartes consultados pela reportagem, em 7 de janeiro o litro podia ser encontrado a R$ 2,69, em 4 de fevereiro por R$ 3,09 e em 4 de março, por R$ 2,99. De R$ 2,69 até o preço de R$ 4,59 de ontem, o aumento é de 71%. Acumulado Conforme Palharini, o setor acumulava defasagem desde o segundo semestre de 2021.
Houve alta no milho e na soja, que integram a ração dos animais, assim como reajuste nos medicamentos e nas embalagens. “Além disso, tivemos uma estiagem de dezembro até o começo de março, o que acabou afetando a produção. Então a partir da segunda quinzena de março tivemos que repassar os valores”, resume. O representante do Sindilat informa que o preço médio ao produtor no RS hoje está entre R$ 2,40 e R$ 2,70.
Tendência é de ficar com preço estável agora O presidente da Cooperativa Piá, Jéferson Smaniotto, salienta que a diminuição na oferta do leite culminou com a alta dos preços. A cooperativa atende 105 municípios, incluindo os produtores dos vales do Paranhana, Caí e Sinos. Na sua avaliação, o valor do litro deve se manter estável a partir de agora.
“O preço está em um patamar equilibrado com o custo de produção. Mas sabemos que por outro lado também falta o poder aquisitivo das pessoas”, pondera. Inflação O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontou alta de 3,41% no mês passado no leite longa vida, a maior para o mês desde 2015. Já o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) apurou com a Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos que o leite integral subiu em 16 capitais no mês passado. Derivados As maiores altas aconteceram em Belo Horizonte (13,09%) e Porto Alegre (9,84%).
O órgão também constatou que o aumento nos custos da produção de leite, a diminuição nos estoques de derivados lácteos e a competição por matéria-prima entre as indústrias sustentaram a elevação nas cotações do leite UHT. Além do leite, o queijo também anda pesando no bolso do consumidor, como lembra Palharini. Isso porque países vizinhos que vendem para o Brasil, como Argentina e Uruguai, também foram afetados pela estiagem. A Associação Gaúcha de Supermercados (Agas) foi procurada para comentar sobre a variação dos preços, mas a Cesta Agas, que fazia levantamento dos preços praticados, foi suspensa durante a pandemia.