Concentração da produção e da renda no agro brasileiro
De acordo com o último censo agropecuário, são 5.073.324 estabelecimentos rurais, distribuídos em uma área de 351.289.816 ha. O número de produtores atinge 15.105.125 pessoas (IBGE, 2017). Souza et al. (2020) apontam que a agricultura brasileira é bastante concentrada em termos de renda bruta agrícola. Menos de 1% dos estabelecimentos rurais concentravam cerca de 50% do valor da produção em 2017.
Isso corrobora dados anteriores do censo de 2006. Alves e Rocha (2010) analisaram minuciosamente o processo de concentração e apontaram que apenas 0,62% do total dos estabelecimentos respondia pela metade do total produzido (em valor), opondo-se à vasta maioria dos estabelecimentos mais pobres, cuja renda bruta atingia no máximo dois salários mínimos. Estes últimos, embora compondo 66% do total dos estabelecimentos rurais, respondiam por apenas 3,3% do total da produção medida na forma de renda bruta (Navarro; Campos, 2013).
A Embrapa (2018) evidenciou que a concentração da produção e da riqueza no campo é tendência crescente e irreversível, caracterizando a agricultura em praticamente todos os subsetores. O crescimento da produção de suínos e aves, em paralelo à redução de número de produtores foi detalhado por Miele e Miranda (2013), mas essa realidade se torna cada vez mais comum a todos os setores da agricultura, como produtores de leite, e até mesmo naqueles típicos da pequena produção (hortigranjeiros e feijão) (Embrapa, 2018).
Segundo Souza et al. (2018) e Souza e Gomes (2019), a principal causa para a concentração da produção (e da renda) é o acesso à tecnologia, e não a distribuição desigual de terras, conforme suposições anteriores. Esse processo traz implicações diretas para a ação governamental que favoreça o acesso às tecnologias, como acesso ao crédito, promoção da educação no meio rural, incluindo também a pesquisa agrícola.
Além disso, é preciso fomentar o fortalecimento das organizações sociais (associações, cooperativas, cooperativas de Ater), visando internalizar inovações sociais e tecnológicas de apoio aos sistemas agroalimentares regionais e aos circuitos curtos de comercialização e consumo.
BIBLIOGRAFIA E LINKS RELACIONADOS
VISÃO de futuro do agro brasileiro: Intensificação Tecnológica e Concentração da Produção. Brasília, DF: Embrapa, 2022. 8 p., 2022.
ALVES, E. R. A.; ROCHA, D. Ganhar tempo é possível. In: GASQUES, J. G.; VIEIRA FILHO, J. E. R.; NAVARRO, Z. (org.). A agricultura brasileira: desempenho, desafios e perspectivas. Brasília, DF, 2010. 298 p. Disponível em: https://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=6480. Acesso em: 28 set. 2021
ALVES, E. R. A.; SOUZA, G. S.; GOMES, E. G. A concentração do valor bruto da producao e a pobreza segundo o Censo Agropecuário 2017. In: NAVARRO, Z. (org.). A economia agropecuária do Brasil: a grande transformação. São Paulo: Baraúna, 2020. 224 p.
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MIELE, M.; MIRANDA, C. R. O desenvolvimento da agroindústria brasileira de carnes e as opções estratégicas dos pequenos produtores de suínos do Oeste Catarinense no início do século 21. In: NAVARRO, Z.; CAMPOS, S. K. (org.). A pequena produção rural e as tendências do desenvolvimento agrário brasileiro: ganhar tempo é possível? Brasília, DF: CGEE, 2013. p. 201-232.
NAVARRO, Z.; CAMPOS, S. K. (org.). A pequena produção rural e as tendências do desenvolvimento agrário brasileiro: ganhar tempo é possível? Brasília, DF: CGEE, 2013. 264 p.
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SOUZA, G. da S.; GOMES, E. G.; ALVES, E. R. A. Imperfeições de mercado e concentração de renda na produção agrícola. Revista de Política Agrícola, ano 27, n. 2, p. 31-38, abr./maio/jun. 2018.