O engenheiro agrônomo Vinícius Soares deixou o emprego em uma multinacional do setor de laticínios para colocar em prática um projeto ousado: produzir o primeiro queijo Canastra orgânico do país. Foi necessário fazer todo o processo de conversão da propriedade, utilizando-se apenas pastagens orgânicas durante um ano (sem adubo químico e agrotóxicos), com controle biológico das pragas e alimentação natural: as vacas consumiram durante seis meses apenas pasto e ração orgânica, como farelo de amendoim e núcleo mineral. “Milho e soja transgênico não pode de jeito nenhum”, explica Vinícius.
Sua ideia inicial era produzir leite tipo A orgânico. Por isso, fez várias adaptações no Sítio Pontal das Araras, em Piumhi, sua terra natal: manteve a mata nativa e priorizou o manejo onde as vacas são criadas a pasto e tratadas com homeopatia. Foram três anos de adaptações.
Mudança de planos
No meio do processo, o engenheiro agrônomo foi convencido pela zootecnista Valéria Rodrigues da Associação dos Produtores de Queijo Canastra (Aprocan) a investir na produção de queijos, aproveitando a vocação natural da região e o terroir favorável. Terroir, para quem não sabe, é a junção de fatores como clima, solo, trabalho humano e altitude e que interferem no sabor e no aroma dos queijos.
Mergulho no universo do Canastra
Na pequena propriedade da família, no portal da Serra da Canastra e à beira do ribeirão Araras, afluente do Rio São Francisco, Vinícius arregaçou as mangas.
Ficou surpreso ao constatar as conquistas feitas pelos produtores locais e com o imenso prestígio do produto com dezenas de prêmios em concursos nacionais e internacionais.
Aprendendo com os mestres
O próximo passo era visitar produtores locais como os premiados Ivair Oliveira e Guilherme Capim para aprender a fazer o tal do queijo. “Só que veio a pandemia e ficamos confinados em casa. O jeito foi aprender ‘na marra’ com a ajuda da minha mãe, dona Vânia. Fomos testando a receita básica, errando e fazendo de novo. Até que deu certo”.
Vinícius levou uma provinha da iguaria para uma tia experimentar. “Ela degustou calmamente, fechou os olhos, como se quisesse voltar no tempo e, por fim, disse que tinha o mesmo sabor do ´queijo da vozinha’”. Ou seja, a bisavó de Vinícius, que fazia queijos 100 anos antes, bem próximo dali.
Era o incentivo que faltava. o produtor acredita que ele e a mãe, naturalmente, fizeram um ‘resgate cultural, histórico e familiar’ do produto. “Fiquei pensando que a forma de conduzirmos as pastagens, o manejo do gado e a medicação homeopática, era o que se fazia naturalmente há 50, 60 e até 100 anos atrás”.
Selo chegou esse mês
Como sua ideia desde o início era produzir de forma orgânica, a propriedade já estava no “jeito”. Dos 25 hectares do sítio, 11 são de mata nativa e 3,4 hectares integram o sistema silvipastoril intensivo, com árvores, arbustos, gramíneas e leguminosas.
Em uma área de pastagem de pouco mais de três hectares foram plantadas cerca de 200 árvores e milhares de arbustos. As vacas são criadas soltas, a pasto e tratadas com homeopatia, fitoterapia, vacinação e controle biológico.
Todos estes critérios já estavam dentro dos padrões exigidos pela certificadora IBD, credenciada pelo Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) para a produção de orgânicos. Esse mês, finalmente, Vinícius recebeu o selo “Brasil Orgânico” e está feliz da vida. “É recompensador. Sinto que todo o investimento e trabalho valeu a pena. Agora, vamos confeccionar os novos rótulos e divulgar a conquista para alcançarmos as prateleiras dos supermercados, empórios e casas especializadas”.
Atualmente, com os cerca de 80 litros de leite produzidos por dia, são feitos 8 queijos por dia, que ganharam o sugestivo nome de “Faz o bem Orgânicos”.
Além da mãe, trabalham com Vinícius, seu pai Vagner a esposa Virgínia, cunhados, irmãs e dois colaboradores, o Wilson e a Regina.