Há uma tempestade no setor lácteo mundial e, na Argentina, em particular, estamos apenas alimentando-a.
O consumo de laticínios na Argentina está em declínio acentuado, acompanhando a queda no poder aquisitivo da população. Ele já estava despencando, mas a desvalorização pós-PASO agravou significativamente a situação. Pesquisas sistemáticas realizadas entre produtores e distribuidores resultaram em uma queda estimada de 19%, em linha com os dados gerais de consumo.
A situação local é agravada pela situação internacional, em um setor com valores globalizados. De fato, o preço dos produtos lácteos e derivados que o mercado internacional está pagando é um ponto de equilíbrio e a perspectiva é negativa para os próximos meses. Com o consumo doméstico despencando nessa magnitude, o risco de falência paira sobre todos os atores da cadeia de laticínios argentina.
O preço dos produtos lácteos e derivados que o mercado internacional está pagando é um ponto de equilíbrio e a perspectiva para os próximos meses é negativa.
A tempestade perfeita estava se formando no horizonte, mas as nuvens de tempestade que mês após mês se acumulavam na forma do dólar da soja ou do milho não permitiram que a previsão fosse atendida. Hoje, essa tempestade está assolando o setor lácteo mundial e, na Argentina, em particular, não fazemos nada mais do que alimentá-la.
O impacto da China
O colapso econômico da China está apenas começando, de acordo com especialistas, a crise que já teve sua primeira manifestação no mercado imobiliário, vem arrastando todas as outras variáveis.
O primeiro efeito é o de um processo deflacionário que se evidencia na desaceleração do crescimento econômico e pode se transformar em recessão se as medidas corretas não forem tomadas. Isso fez com que o valor das importações chinesas caísse em 9 dos últimos 10 meses, o que obviamente se reflete no setor de laticínios, que se tornou dependente da China.
As importações de laticínios do gigante asiático durante os primeiros sete meses do ano foram 38% menores do que no ano passado, com a produção mundial mantendo sua taxa de crescimento normal, o que está causando o desequilíbrio nos preços internacionais.
As importações de lácteos do gigante asiático durante os primeiros sete meses do ano foram 38% menores do que no ano passado,
Para ilustrar o que estamos falando, quando afirmamos a gravidade da queda de preços, usaremos um exemplo de operações concretas. Até dois meses atrás, Cingapura comprava Wpc35, (concentrado proteico de soro de queijo que encontra aplicações na fabricação de sobremesas lácteas, bebidas, iogurtes, alimentos para bebês e produtos nutricionais, entre outros) a US$ 2.900 por tonelada em negociações concluídas no eDairyMarket. Nesta semana, dois contratos para entrega de 300 toneladas em outubro e novembro foram fechados na mesma plataforma a US$ 1.580 cada, quase 50% menos.
Isso acaba sendo menor do que o preço ao produtor. Produtores que não só têm que enfrentar a queda dos valores internacionais, mas também suportar os descasamentos que ocorrem no país.
Risco argentino
A aplicação, nos últimos 12 meses, dos vários dólares de soja e milho apenas distorceu o mercado local, prejudicando especialmente os produtores de leite, pois afetou os dois custos mais importantes, o aluguel de campos e a alimentação do gado.
Os rumores, ainda não esclarecidos apesar da conferência dada nesta terça-feira por Juan José Bahillo, Secretário de Agricultura, Pecuária e Pesca da Nação, sobre um dólar de soja 4, somados aos efeitos da desvalorização que afetam diretamente todos os insumos, estão dificultando a atividade a cada dia.
O plano do governo não só não parece estar ajudando a aumentar o consumo, como também impõe um pagamento extra aos funcionários das empresas privadas. Para onde quer que se olhe, os custos estão subindo e as boas notícias são escassas.
No fim de semana, havia a esperança de que os anúncios da eliminação das deduções para as economias regionais chegassem ao setor de laticínios. Isso agora foi descartado, primeiro porque não será eliminado, mas reduzido, e segundo porque o setor de laticínios nunca foi incluído nas medidas anunciadas por Sergio Massa.
E para encerrar, lembremos que as chuvas não estão chegando e a esperada recuperação do solo continua atrasada. Hoje, todos os produtores sabem que boas notícias só podem vir do céu e olham para Santa Rosa com mais carinho a cada dia.
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