A indústria, a maior parte é cooperativa e historicamente aposta no leite UHT, de baixo valor acrescentado, facilmente transportável e sujeito a concorrência internacional. A experiência que fez de diversificação para o mercado espanhol não correu bem porque os produtores deste país não o permitiram.
A distribuição organizada controla o preço de venda da maior parte do leite ao consumidor, utiliza marcas brancas com preço pouco acima do valor pago ao produtor. E o Governo, o que faz para resolver o problema?
O Governo fez publicar o despacho n.º 8819/2021 de 7 de setembro que determinou a constituição de uma subcomissão específica, no âmbito da Plataforma de Acompanhamento das Relações na Cadeia Alimentar, dedicada ao setor do leite e produtos lácteos, para elaborar em dois meses um relatório de diagnóstico.
Entretanto, a indústria cooperativa anunciou o aumento do preço em 3 cêntimos/litro a partir de 1 janeiro 2022. Pela primeira vez na história da AGROS, o Plano e Orçamento para 2022 foi chumbado pelos produtores por não prever qualquer valor como aumento para a valorização do leite.
No final do ano de 2021 ficou concluído o relatório pedido pelo Governo. Li o documento, composto por 32 páginas, e fiquei estarrecido. Como é possível que, em 2022, se elabore um relatório tão fraco, sem números de compra e venda da indústria e da distribuição, não indique um esboço de estratégia para eliminar o défice da balança comercial dos produtos lácteos.
Um relatório que apenas propõe ações que representam atirar dinheiro público para cima dos problemas. Não há coragem para dizer que o rei vai nu. Todas as partes, os produtores, a indústria e a distribuição, ficam mal na fotografia. Na crise do leite aplicou-se aquele velho princípio da política – quando não se quer resolver um problema cria-se uma comissão!