A marca que ainda hoje dá nome à categoria de leite pasteurizado em Portugal tem sabido resistir à concorrência, à democratização do leite UHT e, mais recentemente, à má imprensa associada ao consumo da lácteos.
Gestora de desenvolvimento da marca Vigor

A marca que ainda hoje dá nome à categoria de leite pasteurizado em Portugal tem sabido resistir à concorrência, à democratização do leite UHT e, mais recentemente, à má imprensa associada ao consumo da lácteos. 70 anos depois, Vigor continua a liderar este segmento com vendas de nove milhões euros e uma produção anual de 13 milhões de litros.

A marca Vigor fundou a categoria de leite pasteurizado (leite do dia) em Portugal corria o ano de 1951, já lá vão 70 anos. “Durante longos anos, a marca defendeu, praticamente sozinha, o segmento e garantiu a sustentabilidade desta tipologia de leite em Portugal. Foi e é um percurso que requer persistência e inovação”, resume Daniela Cardoso, gestora de desenvolvimento da marca Vigor, em entrevista ao Hipersuper. Hoje, concorre com as marcas Mimosa, Prado Verde e, mais recentemente, com a marca própria de leite fresco do Pingo Doce. A cadeia de supermercados do grupo Jerónimo Martins lançou no final de 2019 o primeiro leite pasteurizado de marca própria produzido em Portugal, na unidade de produção que o grupo retalhista tem em Portalegre. Apesar do alargamento da concorrência, a marca que faz parte do universo Lactogal desde o início do novo milénio continua a liderar este segmento com vendas de nove milhões euros, uma produção anual de 13 milhões de litros e uma quota de mercado de 87% em valor, segundo dados da Nielsen IQ, citados pela marca. O leite pasteurizado representa cerca de 3% do total das vendas da categoria de leite em Portugal.

Daniela Cardoso está convicta que a marca reúne credenciais para competir com a recente marca própria. “A Vigor compete com atributos distintivos que vão da embalagem sustentável à produção local, passando por uma técnica de pasteurização a baixas temperaturas que permite uma maior conservação de nutrientes”. A gestora vê com expectativa oportunidades de crescimento para a marca icónica junto dos novos conceitos de cafetaria que estão a surgir no País, nos quais os baristas dão preferência ao leite fresco para preparar as suas iguarias.

70 anos depois, o propósito da marca mantém-se inalterado: ser a marca de referência da categoria de leite fresco em Portugal. “A forma de concretizar esse objetivo é que evoluiu”, afirma a gestora da marca. “A aposta em inovação segue alinhada com a preservação dos valores que estão na sua génese: uma marca próxima, local, de produtores nacionais e sempre atenta ao melhor que a tecnologia pode oferecer, para manter a integridade do leite mais fresco, e com consciência ambiental”.

Para assinalar o 70º aniversário, a Vigor lançou uma campanha de comunicação e uma nova embalagem. “A campanha começou por trazer as boas memórias da #frescura icónica e seguiu para o movimento “Começar de fresco”, “o mote que nos vai acompanhar nos próximos tempos”, adianta.

Sendo uma marca apreciada pelos “verdadeiros apreciadores de leite”, Vigor tem “uma legião de fãs” e “um património de memórias que a torna uma marca de culto”. Por isso, “há um percurso, uma pedagogia necessária na nova campanha que a marca procura atender, mostrando o que diferencia o leite fresco, onde é que este se encontra nos pontos de venda e porque é que nunca fez tanto sentido optar por leite fresco”.

Qual é, então, o perfil de consumidor da marca? “O consumidor Vigor é talvez um dos seus maiores fatores de sucesso. Não fala de leite, fala de Vigor. Falamos verdadeiramente de uma legião de fãs, que se manifesta, que expõe as suas dúvidas e dá as suas sugestões. Reside maioritariamente na zona sul do País, resultado de uma história de distribuição local”, descreve a responsável, acrescentado ainda que é um consumidor “mais exigente, verdadeiro apreciador do leite autêntico, menos dependente da promoção, com maior consciência ambiental e estando, por isso, disposto a pagar mais por alimentos amigos do ambiente, que não contenham aditivos artificiais. Compra produtos de pequenos produtores sempre que disponíveis e gosta de experimentar novos produtos na sua alimentação”.

Nova embalagem feita com 93% de materiais renováveis

A nova embalagem é única na categoria de lácteos na Península Ibérica, garante Daniela Cardoso, por ser constituída por 93% de materiais renováveis: 61% de cartão proveniente de florestas certificadas e 32% de origem vegetal, que correspondem à tampa, camadas protetoras e topo da embalagem fabricados a partir de cana-de-açúcar de produção sustentável. Além de ser a embalagem com a maior composição de materiais renováveis, o novo packaging “permite uma redução de 41% das emissões de carbono”, calcula Daniela Cardoso.

A marca que começou com leite engarrafado em vidro, evoluiu para a segmentação por teores de gordura, formatos e tipologias de embalagem, diversificou com leite com chocolate, foi pioneira a apresentar um leite fresco sem lactose e criou Kefir, um leite fermentado com propriedades probióticas. “Kefir lidera este segmento em ano móvel com uma quota em valor superior a 20% e o mercado evidencia um bom desempenho com crescimentos a dois dígitos”, adianta a responsável.

O leite Vigor é recolhido nas proximidades de Oliveira de Azeméis, onde a Lactogal concentrou quatro fábricas especializadas em lácteos frescos, uma delas especialmente vocacionada para leite pasteurizado. A marca controla a cadeia desde a origem. “O leite é recolhido diariamente e entregue em Oliveira de Azeméis. Ainda no produtor, o leite é recolhido em salas de ordenha dotadas de equipamentos que mantêm as suas propriedades naturais através da sua refrigeração (temperatura entre 0 °C e 4 °C). Assim que chega à fábrica, é sujeito a análises microbiológicas com os mais modernos equipamentos laboratoriais”

Estratégia: captação e conversão

Captar novos consumidores e acelerar a conversão são os objetivos da estratégia que a marca tem em curso no mercado português. A gestora partilha a estratégia para este ano. “Como alavanca chave identificámos a captação. Assim, é fundamental acompanhar e intervir na customer journey. Para tal, focamo-nos em garantir mais visibilidade e atratividade do espaço “leite fresco” em loja, sempre que o consumidor visita um ponto de venda, seja uma loja de proximidade, um supermercado ou mesmo um hipermercado”. Depois, acrescenta, a comunicação gera notoriedade e identificação “e com a promoção aceleramos a conversão”. “Trabalhar a lealdade é outro eixo fundamental, uma vez que quem experimenta a tipologia fresco, se torna facilmente fã. Identificámos ainda a necessidade de apostar em outros touch points, sobretudo com afinidade com a compra de leite fresco, e diretamente associados à natureza e à frequência da compra”.

Não havendo por parte dos lares nacionais uma cultura de compra de leite do dia, a performance das vendas da marca está associada a uma boa taxa de fidelidade, sublinha a gestora. “Em 2020, e fruto do contexto, as vendas de leite pasteurizado foram fortemente penalizadas, apesar do crescimento da categoria leite como um todo. Este decréscimo decorre naturalmente de uma diminuição de atos e da frequência de compra, sendo que o cenário atual é de recuperação”, conclui Daniela Cardoso

A história da marca 

A marca Vigor nasceu em 1951 em Odrinhas, perto de Sintra, com a designação comercial de Leite Especial Vigor Pasteurizado. O eixo Estoril Cascais era, na altura, o local de eleição de uma elite europeia, nomeadamente britânica, que ali se instalou e a quem se conhecia o gosto por leite fresco. Foi neste contexto que um grupo de empresários do setor dos laticínios decidiu replicar a tradição inglesa de beber leite “do dia” no mercado português. O grupo de empreendedores concretizou em tempo recorde um projeto de entrega de leite porta-a-porta, em garrafas de vidro em três formatos (1L, ½ L e ¼ L) seladas com uma tampa de alumínio. Com a passagem do tempo, a marca chega aos cafés e pastelarias mais conceituadas da região de Lisboa, numa altura se pedia leite Fresco pelo nome Vigor.

Na década de 80, a par da clássica garrafa de vidro, a marca apresenta-se num revolucionário saco de plástico para dar resposta a questões ligadas à praticidade e redução de desperdício. 10 anos depois, surgem as primeiras embalagens de cartão, que passam a coabitar com a garrafa de vidro.

É na viragem do século que a marca passa para as mãos da Lactogal. A integração neste grupo português representa um novo alcance geográfico para a marca e um novo ciclo de inovação. Mantendo o conceito “fresco” como ADN da marca, a embalagem de cartão foi ganhando relevância e competitividade. Em 2002, a imagem foi renovada, e a forma da célebre garrafa de vidro foi afirmada como ícone da marca, passando a integrar o seu código genético, com valores como frescura e autenticidade que se mantêm até hoje.

Mais leves, fáceis e seguras de transportar e reciclar, e mais higiénicas, as novas embalagens permitiram à marca evoluir para um método de pasteurização a baixa temperatura que acabou por ser introduzido em 2006. Com a integração na Lactogal, a marca diversificou o portefólio. Lançou leite com chocolate, leite fresco sem lactose e, mais recentemente, a gama Kefir, um leite fermentado probiótico com 12 culturas de Kefir.

Bryce Cunningham, um produtor de leite escocês, proprietário de uma fazenda orgânica em Ayrshire (Escócia), lançou um produto lácteo para agregar valor ao leite de sua fazenda, que é um produto de ótima qualidade, sem aditivos, e é um exemplo de economia circular.

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