Uma restrição à estimativa das proporções para os estados é a falta de informações sobre a magnitude do comércio interestadual de carne bovina.
Aspectos metodológicos
Na abordagem pela demanda, estima-se a quantidade de animais necessária para atender ao volume de carne bovina demandada por estado, seja essa para consumo interno ou para comercialização com outras localidades.
Para cada um dos estados em análise, tal volume é definido pelas seguintes variáveis: consumo de carne bovina estadual, comércio interestadual (animais vivos e carne bovina), exportação, importação e autoconsumo. Esta metodologia evidencia a importância do autoconsumo, uma prática legal e comum na zona rural, mas que não entra nas estatísticas oficiais.
A quantidade estimada pelo lado da demanda é confrontada com os dados oficiais de abate divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os dados oficiais incluem os animais abatidos sob os três sistemas de inspeção – federal (SIF), estadual (SIE) e municipal (SIM). A diferença residual entre a estimativa da quantidade demandada e os dados oficiais é interpretada como o abate não fiscalizado.
No caso da abordagem da oferta, estima-se a quantidade de bovinos que estariam aptos para abate em 2015. Esse cálculo é realizado com base nos dados oficiais de rebanho, divulgados pelo IBGE, nas Guias de Trânsito Animal (GTA), emitidas pelos serviços oficiais dos estados e que são informadas ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), e nos índices zootécnicos das fazendas típicas analisadas pelo Cepea, em parceria com a Confederação Nacional da Agricultura (CNA).
Confronta-se, então, a quantidade de animais aptos para o abate com os dados de abates divulgados pelo IBGE, sendo estes, por sua vez, corrigidos conforme a movimentação de animais. Considera-se que a diferença entre as duas variáveis é a quantidade de bovinos abatidos sem qualquer tipo de fiscalização.
Um coeficiente de correção é aplicado, pois as estatísticas consideram animais abatidos no estado, sejam eles produzidos no mesmo estado ou trazidos de outras unidades da federação. Logo, utilizando-se o saldo da movimentação animal entre os estados, obtém-se uma estimativa do abate somente de animais produzidos naquele estado.
Estudo anterior
Em 2012, o Cepea já havia estimado o percentual de abate não fiscalizado nacional em torno de 7,6% a 8,9%. No entanto, há diferenças metodológicas entre o estudo de 2012 e o atual e, por isso, não devem ser comparados. Pela atual metodologia, segregou-se a demanda de carne para população urbana e rural e refinou-se a metodologia para estimar a oferta de animais, considerando-se regiões distintas dentro dos estados e ampliando o uso das informações das GTAs.
Há desafios para avançar, ainda mais, nas estimativas do abate não fiscalizado, diz o Cepea. Além da evidente necessidade de registro e divulgação de estatísticas de movimentação de carnes entre os estados, há oportunidades de se aprofundar os levantamentos de campo para detalhar o autoconsumo de carne nas áreas rurais.
A pesquisa foi elaborada com a coordenação dos professores Sílvia Helena G. de Miranda e Sergio De Zen, que contaram com a equipe de pesquisadores formada por Ana Paula Negri, Caio Monteiro, Giovanni Penazzi, Gabriela Garcia Ribeiro, Graziela Nunes Correr, Marianne Tufani, Maristela de Mello Martins, Natália Salaro Grigol e Regina Mazzini Rodrigues. O estudo foi patrocinado pela ONG Amigos da Terra.