Uma das principais preocupações dos agentes no Brasil que mantêm posicionamento contrário ao fim da obrigatoriedade de vacinação contra a febre aftosa no País – discussão em pauta neste momento – é a possibilidade de não existir estoques suficientes da vacina em casos emergenciais envolvendo o reaparecimento da doença em rebanhos supostamente controlados. Pois nos Estados Unidos, que não registram um surto de febre aftosa há 90 anos, há o mesmo tipo de inquietação de representantes do setor produtivo.
Segundo o canal norte-americano de notícias online Feedstuffs, entidades ligadas ao segmento da carne vêm manifestando o desejo de que sejam tomadas medidas concretas – em relação aos estoques estratégicos da vacina – para preservar as exportações e impedir o abate de milhões de animais.
Representantes do Conselho Nacional de Produtores de Carne Suína (NPPC, sigla em inglês), da Federação Nacional de Produtores de Leite (NMPF), da Associação Nacional dos Produtores de Milho (NCGA), além da Universidade Estadual de Iowa, pediram ao Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) que se movesse o mais rápido possível para estabelecer um banco de vacinas contra a febre aftosa, conforme exigido pela lei agrícola de 2018.
De acordo com uma pesquisa da Universidade de Iowa, um surto resultaria em US$ 128 bilhões em perdas para os setores de carne bovina e suína; US$ 44 bilhões para agricultores de milho e US$ 25 bilhões para produtores de soja, além de perdas de mais de 1,5 milhão de empregos na agricultura dos EUA em dez anos, segundo relata o texto divulgado pelo site da Feedstuffs.
Atualmente, o USDA não tem um estoque de vacina suficiente para evitar consequências econômicas devastadoras para a economia dos EUA, caso ocorra um surto de febre aftosa, diz a reportagem.
James Roth, professor do departamento de microbiologia veterinária e medicina preventiva da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Estadual de Iowa, explicou que existem apenas 2,0-2,5 milhões de doses de vacinas contra febre aftosa nos EUA, volume que se esgotaria nas primeiras semanas após um surto de febre aftosa. Com sete sorotipos diferentes e 65 subtipos, existem 23 vacinas diferentes para cobrir todas as diferentes cepas potenciais da febre aftosa. “Precisamos armazenar várias vacinas diferentes”, disse Roth, acrescentando que, se os EUA registrarem um grande surto de febre aftosa, poderá ser impossível controlá-lo sem a rápida disponibilidade de suprimentos adequados de vacina”.
Ainda segundo o professor, o banco de vacinas dos EUA seria a melhor apólice de seguro para responder a um surto de febre aftosa no país. “Como na maioria das apólices de seguro, esperamos nunca precisará acioná-lo, mas é fundamental que tenhamos acesso rápido a um volume de vacinas suficiente, em caso de necessidade emergencial”, enfatizou Roth, no texto do portal da Feedstuffs.
O financiamento fornecido na lei agrícola de 2018 fornece um bom incentivo para a criação de um estoque de vacinas mais robusto, lembrou Roth. Ele observou que qualquer país que detecta a doença febre aftosa no rebanho não pode mais exportar carne ou leite. “Esforços para vacinar e controlar rapidamente a possível disseminação da febre aftosa podem permitir que as exportações voltem a ocorrer em questão de meses”, declarou.
Atualmente, a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) pode declarar um país livre de febre aftosa ou livre de febre aftosa com vacinação. Segundo Jamie Jonker, vice-presidente de assuntos científicos e de sustentabilidade da Federação Nacional de Produtores de Leite, os padrões da OIE permitem regionalização, portanto, se ocorrer um surto de febre aftosa na região Nordeste dos EUA, por exemplo, outras áreas no país poderão ser declaradas livre de febre aftosa. “A hora de construir um melhor banco de vacinas contra febre aftosa é agora”, ressaltou Jonker.