Volume enviado pelo Brasil ao mercado internacional no último mês foi 16% do total importado.
Mesmo impulsionado pela desvalorização do real, volume enviado pelo Brasil ao mercado internacional no último mês foi 16% do total importado. Assim como outras cadeias agropecuárias, o setor lácteo no Brasil tem se beneficiado dos efeitos da alta do dólar sobre as exportações brasileiras. Em outubro, os embarques ao mercado internacional saltaram 79,6% em volume e 87,5% em valor. Os números absolutos, contudo, apontam um comércio tímido e desproporcional às importações brasileiras no período. Enquanto o Brasil vendeu 3,6 mil toneladas de lácteos no último mês, as importações somaram 22,3 mil toneladas – crescimento de 122,7% ante outubro do ano passado.
“Hoje o produtor brasileiro está recebendo na faixa de US$ 0,32 a US$ 0,38 por litro de leite. Isso dá uma diferença bem representativa frente a Argentina e ao Uruguai, que têm custos menores que o nosso”, explica Darlan Palharini, secretário executivo do Sindicato das Indústrias de Laticínios do Rio Grande do Sul (Sindilat).
Com preços até 20% menores que o do Brasil no último mês, Argentina e Uruguai responderam por mais de 94% das importações brasileiras no período e, considerando a tendência de alta dos grãos no país, os negócios devem se manter aquecidos nos próximos meses.
“É importante ressaltar que não é a Argentina que manda leite para cá, são os brasileiros que vão lá buscar”, observa Ronei Volpi, presidente da Câmara Setorial do Leite e Derivados do Ministério da Agricultura, ao detalhar as importações brasileiras no período, a maioria de leite em pó.
“É claro que a indústria, principalmente a que usa esses produtos como ingredientes para bolachas, biscoitos, panificação, tendo a oportunidade de importar leite em pó mais barato que o mercado interno, vai buscar isso”, reconhece Volpi.
Gargalos – Para fazer frente a seus vizinhos do Mercosul, contudo, o Brasil enfrenta gargalos. “No Brasil, cada propriedade produz, em média, de 70 a 100 mil litros por ano. No Uruguai, é quase 500 mil litros por ano em cada propriedade. Já na Argentina, isso chega a quase um milhão de litros”, ressalta Palharini.
À menor produtividade, somam-se os elevados custos de captação gerados pela pulverização da produção em mais de um milhão de produtores distribuídos em um território de dimensões continentais, com 8,5 milhões de quilômetros quadrados.
Para o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite), Geraldo Borges, a baixa competitividade do leite brasileiro é um problema da cadeia láctea como um todo e demanda ações conjuntas.
“Temos questões pontuais do produtor, mas isso é um problema da cadeia. Claro que, se o produtor tem um custo maior para produzir, a indústria tem um custo maior pra captar e todo mundo tem dificuldades estruturais, de falta de estradas e pavimentação, a cadeia inteira está perdendo. Por isso, Argentina e Uruguai estão colocando leite aqui dentro mesmo com o dólar alto”, ressalta o produtor, que não descarta a possibilidade de outros países enviarem leite ao Brasil no futuro, como a Nova Zelândia.
“A tarifa de importação para países de fora do Mercosul ajuda a segurar bastante as importações, mas tem outros fatores. A Nova Zelândia está abastecendo a China e outros países da Ásia e, por isso, não tem estoques para enviar leite para cá. Mas, se tiver, vai enviar, com tarifa ou sem tarifa de importação”, analisa Borges.