Além das Federações de Agricultura estaduais, os levantamentos contaram com o apoio do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) e o Centro de Inteligência de Mercados da Universidade Federal de Lavras (CIM/UFLA).
Grãos
Os painéis para o levantamento dos custos de produção nas culturas do arroz, milho, soja e trigo no Rio Grande do Sul ocorreram entre segunda (30) e quinta (02) e reuniram produtores das regiões de Tupanciretã, Camaquã, Cruz Alta e Bagé.
Os custos de produção e as características da propriedade modal foram atualizados para o ciclo 2021/22. De acordo com os produtores, em decorrência da forte estiagem, a produção de grãos foi bastante comprometida. Tupanciretã foi a região mais afetada, com média de 13 sacas de soja por hectare. Por outro lado, Camaquã apresentou um regime mais regular de chuvas beneficiando os cultivos de arroz e soja, com a obtenção de 52 sacas de soja e 174 sacas de arroz por hectare, respectivamente.
Nas áreas irrigadas, foram alcançadas boas produtividades, como em Cruz Alta, com a colheita de 200 sacas por hectare do grão. A soja safrinha na região também apresentou bom desenvolvimento devido à regularidade de chuvas observadas no começo do ano, com a colheita média de 50 sacas por hectare. Já o trigo, nas regiões produtoras – Tupanciretã, Carazinho e Cruz Alta – foi a cultura com melhor resultado em termos de produtividade e preço, com média de 55 sacas por hectare.
Em Bagé, produtores com alto nível tecnológico obtiveram produtividade média de 75 sacas de soja por hectare em sistema irrigado. No sequeiro, o rendimento ficou em 40 sacas por hectare. No entanto, os produtores que plantaram fora da janela ideal tiveram quebras na produção. Apesar disso, os prejuízos na região ficaram dentro do esperado.
Conforme o assessor técnico da CNA, Tiago dos Santos Pereira, o seguro rural foi mencionado durante os painéis como importante ferramenta para garantia de renda frente às adversidades climáticas. “Mesmo com os problemas de quebra, os custos de arrendamento não recuaram e em alguns casos aumentaram. Foi constatado também que os produtores que anteciparam a compra de insumos pegaram melhores preços”, disse.
Pecuária de leite
Os dois encontros aconteceram em Santa Catarina. Durante o painel realizado em São Miguel do Oeste, na segunda (30), foram caracterizadas propriedades de 17 hectares, com média de 300 litros/dia obtidos com a ordenha de 25 animais Jersolando de produtividade de cerca de 12 litros/dia.
A produtividade por área destinada à atividade gira em torno de 7,8 mil litros/ha/ano, denotando média-alta tecnologia. Entre os principais itens que pesaram no bolso do produtor figuram a alimentação concentrada, comprometendo 40% da receita com o leite, seguida pela alimentação volumosa.
Nesse contexto, explica o assessor técnico da CNA, Guilherme Souza Dias, a receita com o leite obtido permitiu a remuneração apenas dos desembolsos, sinalizando a sustentabilidade do sistema no curto prazo. “Contudo, ao considerarmos a depreciação da estrutura, bem como a remuneração do capital investido na atividade, a propriedade passa a operar no vermelho, expondo a produção à insegurança no médio e longo prazos”, afirmou.
Na quarta (1°), em Chapecó, o levantamento identificou um período de transição na atividade leiteira, na qual a produção da propriedade típica da região está saindo do modelo de semiconfinamento para o confinamento, em sistema Compost Barn. O modelo identificado conta com a produção de 1,2 mil litros diariamente, denotando o maior aporte tecnológico entre os painéis catarinenses. Mesmo assim, os resultados permitiram a remuneração apenas dos custos operacionais efetivos, ficando negativa ao considerar os custos operacionais totais e custo total. “Fica evidente, portanto, que a crise vivida pelo setor leiteiro nacional tem impactado todos os portes de propriedade”, declarou Dias.
A seca que acometeu a região nos últimos anos reduziu expressivamente a produtividade das culturas de ensilagem como o milho, produzindo apenas 35 ton/ha, e ainda com um material de qualidade inferior. Dessa forma, aumentaram-se os desembolsos com a aquisição de volumosos de fora da propriedade, onerando a produção. Ademais, a estiagem ainda prejudicou o fornecimento de água para a dessedentação animal, obrigando os pecuaristas a buscar fontes alternativas para hidratar as vacas.
Café
O painel para levantamento dos custos de produção de café conilon aconteceu na região de Jaguaré (ES), na quarta (01), e contou com a participação do presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Espírito Santo (Faes), Júlio Rocha, e do presidente do Sindicato Rural de Jaguaré, Jarbas Nicole Filho, além de cafeicultores.
A propriedade modal foi caracterizada com 20 hectares de área produtiva, produtividade média de 65 sacas por hectare, sistema de condução semimecanizado e irrigado. Segundo a assessora técnica da CNA, Raquel Miranda, em comparação com o painel realizado em 2021 para a mesma propriedade modal, o desembolso com os principais componentes do custo de produção sofreu aumentos expressivos: 38% para custos com mecanização, 44% com mão de obra, 106% com defensivos e 119% com fertilizantes.