Embora Mato Grosso seja um dos expoentes do agronegócio nacional, ocupando o primeiro lugar do ranking na produção de soja, milho, algodão e gado bovino de corte, ainda engatinha quando se trata de pecuária leiteira.  

Embora Mato Grosso seja um dos expoentes do agronegócio nacional, ocupando o primeiro lugar do ranking na produção de soja, milho, algodão e gado bovino de corte, ainda engatinha quando se trata de pecuária leiteira.

Segundo os dados preliminares do Censo Agropecuário 2017, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Estado produz 745,75 milhões de litros de leite, retirados de 455,51 mil vacas ordenhadas em 34,8 mil propriedades, com uma produtividade de 2,511 litros anuais por vaca.

Em relação aos dados do Censo de 2006 (553,8 milhões de litros, retirados de 452,46 mil vacas em 33,86 mil propriedades, produtividade de 1,618 litros anuais) houve um incremento de 33,85% na produtividade estadual. Ainda abaixo da nacional, cujo crescimento foi de 55,19%.

Mas, se depender das várias instituições que nos últimos anos vêm trabalhando na melhoria da cadeia produtiva do leite – Secretaria de Estado de Agricultura Familiar (Seaf), Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (Empaer), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), Sebrae, Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), Aproleite e prefeituras municipais – o cenário tende mudar, pra melhor.

“Temos condições de produzir muito mais e melhor do que atualmente”, diz Armando Urenha, coordenador de Assistência Técnica e Gerencial do Senar, responsável por desenvolver desde 2015, no Estado, o Senar Tec Leite.

“Não se muda uma cultura em apenas uma visita. É preciso muito trabalho para transferir conhecimentos, o que não dá para ser feito apenas com palestras. Temos que ir até o produtor”, completa Aureliano da Cunha Pinheiro, do programa Nosso Leite, do Sebrae-MT.

Nosso Leite

Desenvolvido há 10 anos no Estado, em parceria com a Embrapa e antes chamado de Balde Cheio, o programa está presente em 32 municípios, atendendo atualmente 563 propriedades.

Segundo Aureliano Pinheiro, a estratégia é escolher uma região com potencial de crescimento, como ocorreu com Nossa Senhora do Livramento (30 km distante de Cuiabá), em parceria com a prefeitura municipal, onde 30 produtores familiares são atendidos, entre eles Gonçalo Guadalupe Guimarães, que, desse o início do atendimento há quatro anos, aumentou a produção de 35 litros para 280 litros diários, com o mesmo plantel de vacas ordenhadas.

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“A meta foi estabelecida por eles”, diz Aureliano, acrescentando que eles já estão com uma nova meta de 500 litros. “Até este patamar, eles dão conta sozinhos, mas acima disso terão que contratar mão de obra, o que pode limitar o estabelecimento de uma nova meta”.

Se antes a atividade não era vista como um negócio, a realidade mudou. Segundo Aureliano, eles já dominam os conceitos de produção, manejo do rebanho, alimentação, digestão, reprodução e controle. Também melhoraram geneticamente seu rebanho. “Para buscar uma boa genética, três fatores devem ser considerados: a) que o animal tenha um longo período de lactação, b) produza leite no mínimo 10 meses por ano e c) sem bezerro ao pé (mamando)”.

Ele lembra ainda que a evolução da genética permite, desde que a propriedade comece a trabalhar bem e possa investir, comprar sêmen já com o sexo definido. Assim, a amamentação de uma bezerra, com aptidão para produzir leite, não será desperdiçada e ainda terá valor no mercado. “Ou seja, estabelecido o rebanho, pode-se ter uma segunda renda, com a venda dessas bezerras”.

Para atingir este estágio, é preciso intervir na realidade atual, em que a maioria dos pecuaristas familiares tem entre 50 e 60 anos, nível de estudo muito baixo e são resistentes a mudanças.

“A transição só acontece, quando se olha o leite de forma diferente. Não como o pai, que só fala mal da atividade e não dá abertura ao filho, visto como concorrente. É preciso que o filho passe a se interessa pelo negócio e perceber que tem área, animais e equipamentos. E, assim, buscar acesso a novos conhecimentos e tecnologias. Por isso, muitos estão estudando”, conclui Aureliano Pinheiro.

 

Senar Tec Leite

Desenvolvido desde 2015, iniciado na região de Pontes e Lacerda (distante 440 km de Cuiabá) com 120 famílias, em 2015, o Senar Tec Leite, do Serviço Nacional de Aprendizado Rural, atende atualmente cerca de 600 produtores em 20 municípios do Estado.

“Nossa intervenção junto ao produtor é ensiná-lo a gerir sua propriedade. Colocar as peças em seu devido lugar, para utilizá-las da melhor maneira, especialmente aumentando a quantidade e a qualidade do seu leite”, diz Armando Urenha, coordenador de Assistência Técnica e Gerencial do Senar/MT, acrescentando que os resultados não vêm pela persistência, mas por saber onde intervir e mudar.

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Armando Urenha, do Senar: “Temos condições de muito mais e melhor” 

Segundo ele, a metodologia do Senar Tec Leite prevê atendimento de quatro horas, em cada propriedade, durante todos os meses do ano, em prazo máximo de três anos. O técnico entra na propriedade, faz o diagnóstico, mensura e coleta dados e informações, tamanho e categoria do rebanho, analisa com o produtor onde ele quer chegar e se tem condições de atingir o objetivo pretendido.

“Deve-se ter um objetivo a ser alcançado. A cada ano é montado um plano de ação. Para saber se está funcionando e, paralelamente, detectar as dificuldades do produtor. Para isso, contamos com o Sisateg, que facilita a coleta de informações e dá mais segurança na tomada de decisões. Caso seja necessário, busca-se sanar estas dificuldades, por meio de cursos, sempre em grupo de produtores, e por meio dos sindicatos rurais, que são a base do Senar”.

Armando explica que a cada quatro meses, o Senar mensura os resultados, para saber se o produtor deve avançar ou ser mais agressivo. “A cada dois anos, temos o workshop do leite, quando são apresentados todos os resultados de uma determinada frente. O que acontece de bom ou ruim. Premia-se s três melhores produtores, os que mais se desenvolveram, com uma missão técnica. A última foi em Goiás, onde conheceram um grande laticínio e a propriedades atendidas pelo Senar”.

São feitos também dias de campo, para um público menor, onde são apresentados casos de sucesso. Os exemplos podem ser o rebanho, instalações, plantação de milho, cana ou gramínea.

Urenha explica que o Senar trabalha sempre em parcerias, não atendendo produtores que estejam sendo assistidos por outros parceiros e lembra, sempre, que quem produz leite é a vaca, não o produtor. “Portanto, todo este trabalho tem uma única finalidade: retirar leite da vaca. Se um profissional se esquece disso, não tem como atuar em assistência técnica”, conclui.

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