A produtividade dos animais leiteiros na Índia é de cerca de um oitavo da média global.
As crises também apresentam oportunidades de mudança. O Centro, na Índia, por meio de uma série de iniciativas, iniciou reformas em vários setores, incluindo o agronegócio. O pano de fundo do Covid-19 proporcionou às partes interessadas uma oportunidade de reorientar o pensamento sobre os lácteos. Para que isso ocorra, serão necessárias mudanças, ações definitivas e uma trajetória de crescimento diferente para o setor, apesar do fato de que hoje a Índia é o maior produtor de leite do mundo.
O setor pecuário – dentro dele, laticínios – precisa desempenhar um papel maior na meta do primeiro-ministro de dobrar a renda do agricultor até o ano fiscal de 2023. Além disso, a promoção do setor lácteo também levará a uma renda mais equitativa e esse aspecto precisa ser apreciado. A bovinocultura de leite é muito mais equitativa que a exploração de terras. Cerca de 85% do total de produtores são pequenos e marginais. Estes são proprietários de 47% das terras agrícolas e cerca de 75% dos animais leiteiros. A produtividade dos animais leiteiros na Índia é de cerca de um oitavo da média global. Os preços da terra na Índia são muito altos, o que inviabiliza a administração de grandes fazendas leiteiras. Assim, a produção leiteira continuará sendo dominada por pequenos e marginais produtores.
As estimativas sugerem que 48% do leite produzido é consumido pelos próprios produtores de leite e 52% é comercializável. Um estudo realizado por uma agência privada estimou que, do excedente total, 20% é processado no setor cooperativo, 30% por empresas de laticínios privadas de marca e o restante pelo setor não-organizado (leite para confeitarias, leite a granel, etc.).
Uttar Pradesh, Andhra Pradesh, Rajastão, Gujarat, Maharashtra, Madhya Pradesh, Haryana e Punjab juntos representam 65% da produção de leite do país. A capacidade de processamento, medida em termos de infraestrutura de refrigeração de leite (cooperativas), é altamente distorcida, sendo que Gujarat sozinho representa 46% disso. O crescimento futuro de laticínios deve vir de áreas mais novas e com tecnologia modernizada adequada para pequenos produtores de leite.
Atualmente, a maioria das fábricas de processamento de leite com cooperativas é antiga e precisa ser ampliada ou modernizada. A tecnologia nessas plantas pode não ser eficiente em termos de energia em comparação com as tecnologias modernas disponíveis. Estima-se que a capacidade adicional de 7,5 milhões de litros por dia, a capacidade de modernização de 7,5 milhões de litros e a capacidade de processamento de leite de 125 milhões de toneladas por dia possam ser aumentadas com um investimento de 50 bilhões de rúpias (US$ 658,15 milhões). O sistema de pagamento transparente e a modernização do processo de compra são fatores essenciais para a infraestrutura organizada de comercialização de leite e podem ser alcançados instalando-se estações automáticas de coleta de leite e unidades de resfriamento de leite a granel, respectivamente. Um processo moderno de compras também ajuda na produção higiênica de leite, aumentando os esforços do Estado para promover a indústria de laticínios voltada para a exportação.
O recentemente anunciado Fundo de Desenvolvimento de Infra-Estrutura de Pecuária Animal de 150 bilhões de rúpias (US$ 1,97 bilhão) pode atender aos requisitos de infraestrutura do setor.
No final da produção e da produtividade, as lacunas nos serviços de inseminação artificial (IA) e de criação precisam ser superadas – para cobrir pelo menos 60% da população reprodutiva, o requisito é de 200 milhões de doses de IA e apenas 115 milhões de doses estão sendo produzidas. Com a terra cada vez mais destinada a usos não agrícolas, a restrição de oferta em relação aos recursos de forragem é real. Estima-se que a lacuna no caso de concentrados, forragens secas e forragens verdes seja de 39%, 36% e 57%, respectivamente. Propagar o modelo de pequenos laticínios agrava o problema. No que diz respeito ao crédito, existem dois desafios: fluxo de crédito vis-à-vis o potencial e incompatibilidade entre o fluxo regional de crédito para o setor e os recursos pecuários.
Os desenvolvimentos tecnológicos abriram várias possibilidades para o setor de laticínios que precisam ser integradas e alavancadas para aumentar a produtividade. A IoT e a análise de dados devem ser aproveitadas para digitalizar a produção, aquisição, processamento e comercialização de leite. Essa digitalização pode se concentrar em soluções para gerenciamento de rebanho, aquisição inteligente de leite, gerenciamento de cadeia de frio, seguro de gado, tecnologia de fintech para produtores de leite para transações sem interrupção, etc.
Embora não sejam firmes, algumas estimativas sugerem que a penetração de refrigeração na Índia não é superior a 10-20% no nível doméstico e no varejo – menor, na zona rural da Índia (1-2%). A refrigeração é crítica nos países tropicais quando se trata de crescimento de produtos lácteos normais, em oposição a produtos com temperatura ultra alta.
Haverá dois principais fatores de demanda de produtos lácteos – aumento nos níveis de renda e urbanização – estimulando a demanda das famílias por produtos lácteos embalados, como ghee, requeijão, manteiga, etc. Quando à demanda por produtos de valor agregado (PVAs), como paneer e queijo, espera-se que cresça mais no segmento HoReCa (hotel, restaurante e café). Até 2020, é provável que a participação dos PVAs no mercado organizado de leite aumente para 30% dos atuais 23%. Os PVAs geram lucros mais altos para as empresas de laticínios do que o leite líquido, o que proporciona uma lucratividade maior para os agricultores na forma de preço de aquisição de leite. As cooperativas de laticínios produzem em grande quantidade o leite fluido, manteiga, queijo fatiado processado e sorvete há muitas décadas. Assim, embora grande parte do leite seja vendida como leite líquido embalado e processado, o foco seria aumentar a participação das cooperativas de laticínios no segmento PVA.
O futuro dos laticínios na Índia depende do apoio aos pequenos produtores de leite, promovendo o setor em áreas mais novas, criando (e modernizando) a infraestrutura de laticínios, preenchendo as lacunas nos requisitos de forragem e dando um impulso tecnológico ao setor.