Genuinamente mato-grossense e há 43 anos industrializando leite, principalmente de pequenos produtores do Estado, a Lacbom deu início aos trâmites necessários para exportar seus produtos. O público-alvo da cooperativa, cuja fábrica fica localizada em Araputanga (340 km de Cuiabá), é inicialmente o boliviano.
Segundo o presidente da Lacbom, Misael Barreto, o interesse surgiu quando o grupo percebeu que a distância que os produtos percorreriam até chegar ao país vizinho seria menor do que para muitas localidades dentro do próprio Mato Grosso. Atualmente, a marca atende 90% do território Estado, chegando também ao Amazonas e Rondônia.
Para exportar, a Lacbom contratou um serviço de consultoria que vai apresentar um relatório sobre a viabilidade da transação. Entre as medidas necessárias, está construir novas câmaras frias – que também devem auxiliar a cooperativa no lançamento de novos produtos – e aprovação do governo federal.
Hoje a Lacbom já tem prontos, aguardando apenas aval da União para serem comercializados, três novos tipos de queijo e três novos sabores de bebidas lácteas. Tudo produzido com leite vindo de propriedade, em sua maioria, de pequenos pecuaristas.
Espalhando desenvolvimento
Dos cerca de 1,2 mil produtores de leite associados, espalhados por 19 municípios de Mato Grosso, 60% são considerados pequenos e médios produtores. “É aquele cara que tem uma média de 12 a 20 vacas e que produz 80 litros de leite por dia, o que dá para criar os filhos e ele sobreviver tendo uma vida razoável”, explica Barreto.
Justamente por conta desse perfil, a cooperativa investe em assistência técnica aos associados, o que vai de treinamento para controle do dinheiro que entra na propriedade até a inseminação dos animais para promover um melhoramento genético das vacas leiteiras.
“Mais de 3,5 mil vacas já foram inseminadas em 2018. Em 2019, a gente já tem uma missão de chegar a 6 mil”, pontua o médico veterinário Fernando Vieira, segundo quem os técnicos responsáveis por esse trabalho, a cada visita, também orientam os produtores sobre as condições de alimentação e cuidado com os animais.
A nutrição das vacas é outro ponto feito em parceria entre cooperativa e associados. Quem quer manter os animais apenas no pasto, recebe orientação sobre como fazer o manejo das áreas e o armazenamento, para não faltar comida nas épocas de seca.
Já os adeptos da ração, recebem subsídio na compra do produto. O valor, ano passado, de R$ 2 por saco de ração, neste ano subiu para R$ 9, o que ajuda a aumentar o lucro no final do mês para quem é associado da Lacbom.
“Além disso, na cooperativa temos quatro lojas veterinárias: em Araputanga, Salto do Céu, Figueirópolis e Jauru. Nelas, a gente tem todos os produtos que os produtores precisam para manter seus animais”, afirma o presidente.
Barreiras no caminho
As ações em prol dos cooperados são desenvolvidas, apesar das barreiras que o poder público, quando não impõe, não auxilia a serem vencidas. Misael Barreto diz que uma das principais dificuldades hoje é com o transporte.
“Sempre vai ter um lugar que o caminhão não consegue ir e o problema sempre é estrada. Um buraco que abriu, uma ponte com problema. Daí liga para o prefeito, ele diz que não pode fazer nada. Nisso vai dois, três dias e o produtor jogando o leite fora”, ele lamenta.
Além disso, desde 2017, o governo do Estado cobra uma taxa de R$ 0,005 por litro de leite produzido em Mato Grosso. O recurso vai para um fundo que deveria servir para fomentar a atividade, mas do qual Barreto disse nunca ter visto sair qualquer investimento.
“Não existe apoio do poder público. O governo não reconhece quem produz leite. Não dá um centavo”, afirma o presidente, segundo quem o arrecada em nome desse fundo, só no primeiro ano de vigência dele, foi de aproximadamente R$ 1,2 milhão.
O Fundo
O presidente da Associação dos Produtores de Leite, Valdecio Fernandes, reconhece que o fundo existe e que, até hoje, nenhum centavo foi investido em favor da cadeia produtiva. Ele esclarece, entretanto, que o motivo é que nenhum projeto foi apresentado.
Para o que o recurso saia do fundo, é necessário que um plano de como esse dinheiro será empregado seja apresentado a um grupo gestor – o que envolve diversas instituições públicas e privadas ligadas ao setor – e aprovado. Necessariamente, o investimento tem que ser feito em algo que traga benefícios aos pecuaristas.
“O primeiro projeto tem previsão de ser entregue em breve pela Embrapa [Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária]. Trata-se de uma pesquisa para descobrir qual a melhor raça de gado para o Estado”, ele explica, sem detalhar datas para a apresentação dessa proposta.
Ainda conforme Fernandes, a Aproleite trabalha no sentido de direcionar esses eventuais projetos ao grupo que fará a análise da viabilidade deles.