O preço do litro de leite pago ao produtor já chegou a R$ 1,40, ante cotações de até R$ 1,70 no início de março, em algumas regiões produtoras. A informação foi dada pelo pesquisador da Embrapa Gado de Leite, em Juiz de Fora (MG), Glauco Carvalho, doutor em economia agrícola pela Texas A&M University. “Nestes dias, a média está em R$ 1,55/R$ 1,56, por litro”, afirma Carvalho. “O consumo de lácteos tem a ver com a renda da população e a pandemia do novo coronavírus é algo desconhecido, sem parâmetro.”
Carvalho destaca que no ano passado o produtor de leite atravessou o primeiro semestre recebendo um preço melhor, na comparação com 2018. Mas o segundo semestre de 2019 foi mais tímido. “Agora, neste primeiro trimestre de 2020, o preço caiu 1%”, afirma ele. “E com uma relação de troca menos favorável, por conta do custo da produção puxado pelo milho.”
Com as medidas de restrição social, o mercado consumidor de lácteos vem passando por três ondas. A primeira foi a do pânico, com o consumidor indo às compras para estocar alimentos. Isso fez o preço do leite UHT subir no varejo. A segunda onda está em curso, com o consumidor comprando apenas o necessário e desacelerando os preços finais. Para Carvalho, a terceira onda é a mais preocupante, porque ela se caracteriza pela certeza de que haverá perda de renda. “É algo nocivo não apenas para a cadeia do leite, mas para todos os setores da economia”, diz ele.
Planejamento de negócios
O Brasil produz, por ano, cerca de 35 bilhões de litros de leite, dos quais 10 bilhões não têm inspeção sanitária. Do total inspecionado, as cinco principais empresas do setor captam 30%. Entre elas estão Nestlé, Lactalis e Bela Vista. Do total processado, um terço vai para o processamento de queijos e o restante para o leite fluído, entre pasteurizado e UHT.
Para o pesquisador da Embrapa, está na hora do produtor de leite tomar decisões que podem interferir em seu negócio no próximo período. “Hoje, é preciso baratear a dieta dos animais”, afirma. Carvalho dá algumas sugestões. A primeira delas é analisar alimentos que possam ser substitutos do milho na dieta das vacas, como o DDG (cooproduto do etanol de milho), caroços, cascas, entre outros.
A segunda medida é analisar o estoque de vacas e o descarte de animais menos produtivos. E tentar gerar caixa sem quebrar a produção futura, ou mesmo aumentar lá na frente, com o descarte de novilhas e bezerras que poderiam ser incorporadas à produção. Nesse ponto, o economista da Embrapa chama a atenção porque nesse descarte é preciso avaliar uma possível retomada da produção. “Se a estratégia no volume de descartes não for equilibrada, o produtor pode levar até 4 anos para recompor o rebanho e isso não é bom”, afirma ele.
A terceira medida é manter o diálogo aberto com o laticínio ou cooperativa. “Estar perto da indústria, nesse momento, é importante para monitorar a rentabilidade e tomar decisões”, diz Carvalho. Ele dá como exemplo algum tipo de ajuda, como financiamentos, levantamento de caixa e até compras de insumos.