A principal processadora de leite fluido dos EUA, a Dean Foods, iniciou um processo voluntário de reorganização do Capítulo 11 da Lei de Falências dos Estados Unidos no Tribunal do Distrito Sul do Texas, em 12 de novembro de 2019.

A empresa pretende usar esse processo para proteger e apoiar suas operações comerciais em andamento e lidar com as dívidas e obrigações de pensões não financiadas.

A Dean Foods possui 65 fábricas em 29 estados em todo o país. Emprega 15.000 pessoas. Essa combinação de capacidade de processamento, funcionários e produção faz da Dean Foods a maior processadora e distribuidora direta de leite fluido fresco e outros produtos lácteos nos Estados Unidos.

Para manter os negócios em funcionamento após 12 de novembro, a empresa recebeu aproximadamente US$ 850 milhões em financiamento de alguns credores existentes, liderados pelo Rabobank, declarou a Dean Foods em um comunicado à imprensa.

Vendas perdidas, infraestrutura envelhecida da fábrica e problemas relacionados à inovação de produtos foram os catalisadores que levaram à declaração de falência, se alguém perguntasse aos principais analistas de lácteos.

O próximo passo é trabalhar para conseguir uma venda ordenada e eficiente da empresa fundada em 1925 por Samuel Dean Sr., que começou com uma instalação de processamento de leite evaporado em Franklin Park, Illinois. Porém, essa venda pode levar até um ano para ser concluída com base nas declarações emitidas pela Dean Foods.

Quem é o provável comprador?

Dairy Farmers of America (DFA) – a maior cooperativa de lácteos do país – se envolveu em discussões avançadas sobre a compra. Essa organização nacional de comercialização de leite possui 14.500 membros produtores de leite em 48 estados que, coletivamente, enviam 23,9 bilhões de quilos de leite por ano. Isso representa 24% do suprimento de leite dos EUA.

A DFA se tornaria o licitante vencedor da Dean Foods somente após a aprovação regulatória e estaria sujeito a ofertas mais altas ou melhores em caso de falência. Em outras palavras, a DFA é o provável comprador dos ativos da Dean Foods, após o encerramento dos processos de falência.

A decisão de comprar a Dean Foods provavelmente se deve a esse fato: “Como a Dean Foods é o maior cliente da DFA, nosso foco é garantir que tenhamos um mercado seguro para o leite de nossos membros”. Essa declaração veio de Monica Massey, vice-presidente executiva e chefe de pessoal da Dairy Farmers of America.

“Graças ao planejamento estratégico e gerenciamento de nosso conselho de administração, a cooperativa tem posição financeira para suportar uma situação como esta”, continuou Massey, que inclusive, será uma das palestrantes do Dairy Vision 2019, evento que ocorrerá nos dias 26 e 27 de novembro em Campinas/SP.

Pagamento pelo leite

Os produtores de leite que vendem direto para a Dean Foods perguntarão: “Eu serei pago pelo meu leite?” Após a data do registro de 12 de novembro, a resposta é direta: “Pretendemos pagar integralmente os fornecedores, em condições normais, por bens e serviços fornecidos na data ou após a data do registro”.

O pagamento de antes do pedido de falência, em 12 de novembro, é arriscado. De acordo com a lei dos EUA, dívidas não pagas por bens e serviços fornecidos à Dean Foods antes da data do registro, também conhecidas como ‘pedidos de pré-petição’, geralmente não podem ser pagas sem a aprovação específica do tribunal.

A Dean Foods posteriormente acrescentou em uma seção de comentários: “Lamentamos sinceramente qualquer inconveniente que isso possa causar.”

Queda nas vendas

A Dean Foods se acomodou ao se tornar a líder em processamento de leite fluido. Para chegar ao auge, comprou marcas regionais na ‘velocidade da luz’. Como resultado, a empresa sediada em Dallas, Texas, recebeu US$ 12,4 bilhões em vendas em 2008. Desde então, tudo passou ao declínio, com as vendas derrapando para US$ 7,7 bilhões em 2018. Isso representou uma queda livre de 37% em apenas uma década (de US$ 12,4 bilhões para US$ 7,7 bilhões).

O ano novo não começou melhor. As vendas do primeiro trimestre de 2019 caíram 9% em relação ao ano anterior, atingindo US$ 1,8 bilhão e isso ficou muito abaixo das previsões dos analistas, que eram de US$ 7,2 bilhões (quando estendida para o ano todo).

Essa situação fez com que alguns dos principais talentos saíssem da corporação, como Ralph Scozzafava, que era o CEO por quatro anos e Eric Beringause, que assumiu as rédeas em agosto. O CFO que a Dean Foods havia contratado no ano passado, Jody Macedonio, saiu no final de setembro.

Em maio de 2013, as ações da Dean Foods foram negociadas em mais de US$ 40 por ação. Em outubro de 2018, caíram para US$ 8. Na segunda-feira, 11 de novembro, antes da declaração de falência, ela alcançou US$ 1 por ação. Vale destacar que em 2007, a revista Dairy Foods classificou o conglomerado como a principal empresa de laticínios da América. Naquele ano, teve US$ 11,8 bilhões em vendas.

Em 2018, a Dean Foods caiu para a terceira posição, com a Nestlé EUA e sua empresa-mãe, a Nestlé da Suíça, em primeiro lugar, com US$ 14,1 bilhões em vendas. A holding número 2 é a Saputo Inc., com sede em Montreal, Quebec, Canadá e vendas de US$ 8,3 bilhões.

Leite fluido como foco central

Além de se especializar em leite fluido, a Dean também se concentrou no volume para competir. Esse modelo se tornou vulnerável quando contas-chave, como a Walmart e a empresa proprietária da cadeia Food Lion, cortaram laços e tomaram a decisão de processar seu próprio leite.

A situação tornou-se tão grave que a empresa “consideraria a sua própria venda, tornar-se privada, vender ativos, formar uma joint venture ou buscar uma fusão”, escreveu Heather Hadden em um artigo de 28 de fevereiro de 2019 no The Wall Street Journal.

A empresa atou suas mãos até certo ponto na reestruturação da dívida em fevereiro, quando acrescentou propriedade imobiliária como garantia contra seu endividamento. Essa medida deu aos credores o direito a algumas receitas se os ativos fossem vendidos. Também deu ao gigante do leite menos flexibilidade em futuras mudanças nos negócios. Essa decisão estabeleceu o caminho para o processo judicial de 12 de novembro no Distrito Sul do Texas.

Mais concorrência

A maioria dos analistas do mercado de lácteos concordaria que a Dean Foods não fez o suficiente para inovar. Embora tenha consolidado muitas marcas regionais com sua marca DairyPure, o que estava no recipiente – o leite fluido – permaneceu basicamente o mesmo. O DairyPure detém cerca de 10% do mercado nacional.

Em cinco anos, a Fairlife – uma concorrente inovadora da Dean Foods – aumentou as vendas de zero para US$ 450 milhões, observou uma fonte líder da indústria de laticínios em um artigo de 2 de novembro no The Wall Street Journal. Esse produto tem 50% mais proteína e metade da lactose do que o tradicional leite em garrafa.

Outros fatores

Além disso, o declínio pode ser atribuído a outros fatores, inclusive, à geração millennial, que é preocupada com o bem-estar animal, o tratamento de vacas leiteiras, trazem como popular os hábitos veganos e revisão constante dos seus menus.

O leite, sempre tão comum nas tigelas com cereais matinais, hoje é colocado ‘em cheque’. Há também hoje uma maior diversidade de bebidas sendo oferecidas, como águas engarrafadas (com ou sem sabor, com ou sem bolhas), sucos (prensados a frio ou tradicionais), chás (regulares, verdes, pretos, vermelhos) e refrigerantes. Sem contar as opções de bebidas vegetais, que são encontradas feitas com castanhas, aveia, arroz e soja. Não se esquecendo dos leites orgânicos ou especiais, como o leite de cabra.

Segundo Darren Seifer, analista da indústria de alimentos e bebidas da NPD, em 1989 o leite estava presente em 15% em todas as ocasiões em casa, e hoje, essa porcentagem é de 9%. “É um declínio bastante acentuado na frequência com que tomamos leite, sem mencionar as alternativas lácteas”. Na sua opinião, as bebidas à base de plantas deram um grande salto e influenciaram nessa ‘redução láctea’. A geração millenum está preocupada com o que colocam em seus corpos e sabem que há opções para substituir o leite que não são de vaca e que têm bom gosto.

Enquanto essas e outras inovações ocorreram, a Dean Foods continuou se arrastando. E, hoje, está em ruína financeira.

 

A distribuidora Gefrescos quer que a Danone seja condenada em tribunal a pagar cerca de 5 milhões e 500 mil euros. A Danone recusa ter feito imposição e fixação de preços.

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