Brasília (12/11/2020) – O Sistema CNA/Senar promoveu, na quinta (12), o 6º Seminário Nacional do Projeto Campo Futuro para apresentar os principais resultados dos levantamentos dos custos de produção de 22 atividades agropecuárias em 2020.
Durante o ano, os técnicos do Projeto realizaram 102 painéis virtuais em 19 estados. Os encontros reuniram produtores, pesquisadores e representantes de sindicatos rurais, de Federações de Agricultura e do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar).
Neste ano, em razão da pandemia do Covid-19, o evento foi totalmente virtual e dividido em blocos e salas de debates simultâneas. Pela manhã, foram apresentados os resultados de custos de produção de frutas, hortaliças, grãos, pecuária de corte e café. À tarde, foram a pecuária de leite, cana-de-açúcar, aves e suínos.
Frutas e hortaliças – No painel de frutas e hortaliças, moderado pelo presidente da Comissão Nacional de Hortaliças e Flores da CNA, Manoel Oliveira, os especialistas fizeram um balanço dos custos e falaram sobre como os produtores rurais devem se planejar para o próximo ano.
“A pandemia criou um ambiente volátil. No início, alguns setores foram muito afetados em razão do fechamento do comércio. Com o passar dos meses, o mercado aqueceu e a demanda por alimentos aumentou, ocasionando a falta de embalagens plásticas e de papelão para as frutas e hortaliças. Em contrapartida a essa demanda aquecida, os custos de produção têm subido consideravelmente”, disse Oliveira.
A pesquisadora do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), Margarete Boteon, participou do debate e falou que abril e maio foram os meses mais críticos da pandemia para o setor de hortaliças, principalmente para as folhosas. “A produção de alface foi muito afetada em termos de investimentos. Esperamos que a área perdida e não investida em 2020 se recupere em 2021”.
Já o sócio da Startagro, Luiz Gonzaga de Castro, apresentou os resultados dos painéis de banana em Minas Gerais, cacau na Bahia e mamão no Espírito Santo. “Com exceção do cacau produzido em Ilhéus (BA), as três culturas tiveram margem bruta positiva. A gente percebe que o grande desafio do produtor é a gestão. Ele precisa de informações gerencias para ter fluxo de caixa e saber identificar os gargalos da atividade. Dessa forma ele consegue tomar as melhores decisões para o seu negócio”.
O assessor técnico da Diretoria de Assistência Técnica e Gerencial do Senar, Cleber Sales Ramos, destacou o papel da entidade na capacitação do produtor. “É um processo educativo. O produtor está muito preocupado com preço, mas ele tem que entender que é necessário trabalhar a gestão da “porteira para dentro”. Definir metas e fazer planejamento é ter os custos de produção alinhados”.
Grãos – Os especialistas fizeram um panorama sobre os custos de produção na safra 2019/2020 e discutiram qual o reflexo financeiro disso para as culturas da soja, milho, trigo e arroz na próxima safra. O presidente da Comissão Nacional de Cereais, Fibras e Oleaginosas da CNA, Ricardo Arioli, mediou o debate e destacou o papel da Confederação na defesa dos produtores.
“Como produtor posso afirmar que a CNA tem uma das melhores equipes técnicas do Brasil, atuando em diversas ações para proporcionar competitividade e renda aos produtores rurais do País.”
O primeiro palestrante do painel, o pesquisador Mauro Osaki, do Cepea, apresentou os resultados dos custos de produção de soja, milho (primeira e segunda safras), feijão e algodão levantados em 30 regiões do País. O especialista dividiu as culturas em três grupos, sendo baixo, médio e alto desempenho, levando em consideração os fatores climáticos que levaram à quebra da safra, além dos fertilizantes, defensivos e sementes, insumos que segundo ele, contribuíram para o aumento do custo de produção dessas culturas.
“Na soja, o custo da terra, que é variável, é muito importante porque tem aumentado bastante o arrendamento e isso eleva o custo de oportunidade do produtor, que precisa ser mais eficiente para continuar produzindo.”
Em relação aos mecanismos de venda, na safra 19/20, Osaki afirmou que mais ou menos 50% da produção foi vendida antecipadamente por barter ou venda antecipada. “Além disso, boa tarde dos produtores fez venda na colheita e poucas regiões conseguiram aproveitar bons preços.”
O pesquisador dividiu os dados da cultura do milho em verão e segunda safra. Em relação ao milho verão, ele destacou que a produção apresentou um padrão altíssimo, com regiões produzindo acima de 12 toneladas/ha. “Com a rentabilidade, de modo geral, todo mundo conseguiu pagar seu custo operacional efetivo. Tivemos bom preço e boa produtividade.”
O milho segunda safra também teve uma produtividade muito boa, disse, com 50% da produção já comprometida por venda antecipada. “Esse é um milho importante principalmente para o segmento de carnes. Porém, esse milho não estará disponível no mercado interno. Isso é um sinal de que precisamos melhorar as ferramentas de proteção de preço para o setor de aves e suínos que são os principais demandantes.”
Segundo Mauro Osaki, o arroz irrigado, por sua vez, é um setor que vem apanhando nos últimos anos, com rentabilidade negativa. Ele argumentou que o setor sofre mais que o da soja, porque trabalha com mercado doméstico.
“O preço se forma em dólar, mas vende para o mercado doméstico em reais. Fora os custos de produção com fertilizantes, defensivos e energia elétrica (aumenta o custo da irrigação). Apesar disso a safra 2019/2020 foi positiva, com a produção de 173 sacas de 50 kg e a receita bruta pagou todos os custos.”
Sobre o trigo, a produtividade média foi de 50 sacas por hectare nos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. O principal problema da cultura é a falta ou excesso de chuvas, afirmou. Exceto a região de Castro (PR), que ultrapassou as 50 sacas/ha, os demais tiveram prejuízo e não conseguiram pagar seus custos totais. “Dificilmente os produtores permanecem na atividade. Podem permanecer para fazer rotação de defensivos, por exemplo, mas não para ganhar dinheiro,” disse.
Fábio Meneghin, da Agroconsult, apresentou uma análise dos custos e margens para soja e milho. Segundo ele, o principal vilão dos custos de produção foram os defensivos devido à taxa de câmbio. Segundo ele, a rentabilidade da soja esperada na safra 2020/2021 é um aumento de 1,5 milhão de hectares com potencial de 134 milhões de toneladas, uma média de 58 sacas/ha. “Há uma demanda de 15 milhões de toneladas puxada principalmente pela recuperação do setor de suínos na China”.
Em relação ao milho, Meneghin ressaltou que o milho segunda safra, com margem de aproximadamente R$ 2 mil reais por hectare é muito bom para o produtor. “Estimula a busca por tecnologia e mais produtividade.”
Segundo ele, a estimativa de produção para o ano que vem é de quase 111 milhões de toneladas e uma demanda também de quase 111 milhões de toneladas, que surge da nova indústria de etanol de milho, além da indústria de proteína animal e para exportação.
O assessor técnico da Diretoria de Assistência Técnica e Gerencial do Senar, Rafael Costa, apresentou um estudo de caso de produtores atendidos pela assistência técnica no programa Senar Mais, em Goiás. Em uma área de sete mil hectares, a produtividade média foi de 62,11 sacas/ha a um preço médio de venda de R$ 75,98.
“Segundo o estudo de caso, a soja é um negócio atrativo. A produção remunerou todos os custos necessários e ainda tem recurso para o produtor que pode ser retirado ou investido novamente na atividade.”
Pecuária de corte – No painel de pecuária de corte, os palestrantes discutiram o cenário em 2020 e as perspectivas de rentabilidade para 2021. Na abertura, o presidente da Comissão Nacional de Pecuária de Corte da CNA, Antônio Pitangui de Salvo, afirmou que o setor vive um momento positivo, mas a boa gestão da atividade garante melhores índices de produção e uma proteína de qualidade.
“Precisamos trazer a tecnologia de precisão para a nossa pecuária e tratar nossas pastagens e genética de maneira diferente. O pasto é a lavoura que alimenta o gado brasileiro de alta genética”.
Durante o debate, o analista de Mercado do Cepea, Caio Monteiro, citou alguns dados do Projeto Campo Futuro em 2020. Segundo ele, os painéis de corte foram realizados em 11 municípios de Goiás, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, onde foram mapeados 16 perfis de produção, dentre eles 7 propriedades de cria, 1 de recria, 7 de recria e engorda e 1 de recria e engorda de fêmeas.
Em sua apresentação, o diretor da Athenagro, Maurício Palma Nogueira, disse que o cenário para a carne bovina brasileira é favorável em longo prazo e que o Brasil continuará sendo o principal player no mercado. “No próximo ano devemos observar uma grande mudança nos hábitos de compra e consumo de proteína animal. para o produtor, o maior desafio é a gestão, pois pode haver redução das margens”.
A coordenadora de Projetos da ATeG Senar, Luana Frossard, falou sobre a importância da assistência técnica para o produtor rural, seja ele de grande ou pequeno porte. “Hoje a ATeG do Senar atende 10.357 propriedades de pecuária de corte. É um público muito variado, não existe um pacote tecnológico padrão, o atendimento é individualizado. O grande produtor, por exemplo, tem a área técnica bem estabelecida, mas precisa de acompanhamento na área econômica. Já o pequeno produtor precisa de suporte tanto na parte técnica, quanto na gerencial”, explicou Luana.
Café – No painel de café, o debate foi conduzido pelo presidente da Comissão Nacional de Café da CNA, Breno Mesquita. Ele afirmou que o levantamento dos custos de produção é um instrumento importante e valioso para o produtor rural da cadeia. “As palestras nos possibilitaram ter um bom panorama do setor, com orientações muito importantes para esse momento que estamos passando.”
O primeiro palestrante do painel foi o coordenador do Centro de Inteligência em Mercados da Universidade Federal de Lavras (CIM/UFLA), Luiz Gonzaga. Ele destacou a importância desse trabalho para a tomada de decisões dos produtores rurais e apresentou os resultados técnicos dos custos de produção do café arábica e robusta (conilon).
Para o especialista, um dos grandes desafios do setor é a variação do câmbio, porque o dólar fica muito valorizado e a tendência é ir perdendo competitividade com a elevação de custos.
“Muito da matéria-prima que utilizamos é importada. Isso é um grande desafio, porque gera uma incerteza muito grande e precisamos reduzir essas incertezas no ambiente doméstico. Quanto mais incertezas, mas dificuldades nós temos em termos de investimentos, por exemplo. É preciso que instituições públicas e privadas trabalhem para que isso seja minimizado.”
César de Castro Alves, consultor de agronegócio do Itaú BBA, apresentou um balanço global do café, com estimativa de produção no Brasil de 68 milhões de sacas/ha na safra 2020/2021, crescimento de 14,5% em relação à safra 2019/2020. O Vietnã, grande concorrente do Brasil no mercado de café, deve ter uma queda de 3,5% na mesma relação entre a safra anterior e a próxima, com estimativa de 30 milhões de sacas/ha.
Segundo o consultor, o que pode interferir na produção de café com quebra de safra são as questões climáticas, além das incertezas fiscais que permanecem elevadas com a pandemia, definição do orçamento, entre outros.
“O maior desafio da cafeicultura é o clima. Precisamos desenvolver mecanismos para os produtores se protegerem das intempéries climáticas como proteger as lavouras com matéria orgânica, desenvolver variedades de grãos. E o produtor precisa pensar em ter uma reserva financeira para anos críticos. Precisamos pensar adiante desse cenário que só vai aumentar.”
Breno Mesquita, presidente da Comissão de Café da CNA, ressaltou que a Confederação está trabalhando junto ao Ministério da Agricultura para que os cafeicultores tenham um seguro na atividade.
Mauro Faria, assessor técnico da Diretoria de Assistência Técnica do Senar, apresentou o trabalho da assistência técnica em Minas Gerais, Espírito Santo e Rondônia.
“Esses três estados são expressivos na produção de café. É a primeira vez que operamos um projeto de café em Rondônia, com resultados muito bons. No primeiro ano, tivemos margens positivas, tanto brutas quanto líquidas, com 37% de lucratividade para os produtores rurais. Esse resultado mostra que a introdução de tecnologias aliada à orientação e ao aprimoramento dos processos fornece um diferencial significativo para o produtor”.