Em meio à presença de empresários, pesquisadores e representantes de associações de criadores de gado, o Centro Nacional de Pesquisa de Gado de Leite da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
 

Em meio à presença de empresários, pesquisadores e representantes de associações de criadores de gado, o Centro Nacional de Pesquisa de Gado de Leite da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Gado de Leite) lançou, nesta quinta-feira (12), o edital “Desafio de inovação aberta” para celebrar parcerias com empresas de base tecnológica e produtores rurais para o desenvolvimento de soluções tecnológicas para a cadeia leiteira. A Embrapa Gado de Leite investirá até R$ 1,5 milhão no chamamento, sendo até R$ 1 milhão em infraestrutura e recursos humanos e até R$ 532 mil em recursos, envolvendo mais de 20 áreas do setor. O modelo de inovação aberta está no âmbito do Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação – Lei 13.243/2016. Além disso, a Embrapa Gado de Leite apresentou o projeto “Silo – Inovação aberta”, primeiro espaço de inovação dedicado à cadeia de leite no Brasil, cuja instalação na própria unidade juiz-forana está ainda em andamento.

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Em solenidade, a Embrapa Gado de Leite apresentou, nesta terça (12), o edital “Desafio de inovação aberta” e o projeto do espaço de inovação “Silo – Inovação aberta” (Foto: Marcos Lopes La Falce/Embrapa/Divulgação)

Como explica o chefe-adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Gado de Leite, Pedro Braga Arcuri, o modelo de inovação aberta tem a prerrogativa de estabelecer parcerias de riscos comuns com o setor privado. “O edital não visa a uma região, mas, sim, uma interação da Embrapa, e o foco disso é exatamente o desenvolvimento de soluções para a cadeia do leite. Então, não é um edital que visa ao investimento direto em empresas da região ou em soluções locais. O que a gente está buscando é interagir com empresas e outras instituições, como, por exemplo, produtores rurais que queiram desenvolver alguma tecnologia. (…) A Embrapa vai investir uma parte, e a instituição, como um produtor rural, uma empresa local ou uma empresa multinacional – no nosso caso, pensamos em empresas de base tecnológica, ou seja, startups – que seja da cadeia leite ou que tenha propostas para a cadeia do leite, outra parte.” Como se trata de um edital pioneiro e, portanto, em “fase de maturação”, conforme Arcuri, não há ainda estimativa de quantas empresas serão contempladas e como se dará o processo.

De acordo com o chefe-geral da Embrapa Gado de Leite, Paulo do Carmo Martins, além dos R$ 532 mil, a empresa pode oferecer às parceiras 83 pesquisadores, 16 laboratórios e a Fazenda Experimental de Coronel Pacheco. “Queremos que as empresas façam propostas para nós. Se as empresas enxergam um problema tecnológico no mercado, elas nos dizem e vamos estudar se encontramos uma solução. (…) Não vamos virar consultores de empresas. Queremos levar tecnologia para o setor produtivo. (…) Estamos dando um mês para as empresas aparecerem. É a primeira vez que o Poder Público chama o setor privado para fazer pesquisa junto e fala que tem recursos monetários e não monetários para celebrar a parceria.” Segundo Martins, a intenção é quebrar a visão da indústria multinacional de que o mercado brasileiro apenas vende, em vez de gerar conhecimento.

Conforme o presidente nacional da Embrapa, Celso Luiz Moretti, o fomento à inovação aberta é uma política estabelecida em todas as unidades. “Quando há a presença de empresas que estão dispostas a fazer parcerias e elas aportam uma parte do recurso, que vai financiar as pesquisas, a Embrapa aplica uma outra parte do recurso em capital financeiro e, obviamente, uma outra parte do recurso em capital humano e infraestrutura. É uma modalidade que o Instituto Fraunhofer, na Alemanha, e a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial adotam.” De acordo com Moretti, os recursos serão aplicados de maneira proporcional ao captado pelas unidades. “Então, se uma unidade captar R$ 100 mil, colocamos R$ 100 mil, mais a mão de obra e a infraestrutura, até um teto que pode chegar a R$ 1,4 milhão.”

Primeiro espaço de inovação da cadeia leiteira

Além do edital “Desafio de Inovação Aberta”, a Embrapa Gado de Leite apresentou aos atores da cadeia leiteira o projeto “Silo – Inovação aberta”, que será o primeiro espaço de inovação dedicado à cadeia de produção pecuária no Brasil. Embora não tenha data de inauguração, uma vez que há necessidade de equipá-lo, a estrutura de 1.400 metros quadrados será instalada na unidade juiz-forana. A Embrapa Gado de Leite, inclusive, está em vias de firmar parcerias com a Microsoft – que, conforme Paulo do Carmo, quer conhecer o agro brasileiro -, para capacidade de processamento de informação, e com a Tim Brasil, para a área de conectividade do Silo. Portanto, tais parcerias dizem respeito ao aporte de serviços e não recursos.

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O chefe-geral da Embrapa Gado de Leite, Paulo do Carmo Martins, destaca parcerias encaminhadas com a Microsoft e a Tim Brasil para o “Silo – Inovação aberta” (Foto: Marcos Lopes La Falce/Embrapa/Divulgação)

“A Microsoft vai entrar com uma coisa que para nós é muito cara: a armazenagem de dados. A Microsoft está, inclusive, discutindo a possibilidade de fazer isso com outras unidades da Embrapa. Na nossa, queremos capacidade de processamento de informação, ou seja, nuvem. O mundo está caminhando para não ter mais computadores fixos. Nós já estamos reservando coisas na nuvem. Queremos uma capacidade de nuvem que satisfaça não só aos nossos interesses de pesquisas, mas, também, às empresas e instituições que queremos trazer para dentro da Embrapa”, explica o chefe-geral da Embrapa Gado de Leite. “Já com a Tim Brasil, só não assinamos ainda porque o Diretor de Assuntos Governamentais da Itália determinou que nenhum dos empregados de seu setor no mundo pode participar de reuniões, porque ele está traumatizado (com o coronavírus). E, como não pode haver eventos governamentais sem o diretor, não há como assinar. Queremos conectividade, internet rápida. A Tim caminha para o 5G.”

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De acordo com Arcuri, a Embrapa Gado de Leite já assinou contrato com uma aceleradora de startups – Neo Ventures – para o Silo. “O espaço de inovação, que é separado do edital, já é uma realidade no sentido de que temos uma aceleradora, que está assinando uma parceria conosco, e três startups, que estão na iminência da assinatura do contrato, mas não temos ainda os recursos para equipar o espaço conforme apresentado no vídeo de lançamento. O prédio já existe, a decisão de construirmos já está sacramentada, então temos uma grande certeza que isso vai acontecer em um espaço de tempo relativamente curto.” A expectativa da Embrapa é inaugurá-lo ainda em 2020.

Estábulo com compostagem orgânica

A Embrapa Gado de Leite ainda inaugurou, na manhã desta quinta (12), um sistema de produção intensiva de leite em “compost barn” no campo experimental. A iniciativa trata-se de um estábulo que tem como principal característica uma ‘cama’ de material orgânico que realiza a compostagem das fezes e urina dos animais e proporciona maior conforto aos animais em espaço que também possui temperatura climatizada. A solenidade contou com a presença do presidente da Embrapa, Celso Luiz Moretti, e de dirigentes de entidades do setor e lideranças políticas da região. A ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, era aguardada para a inauguração, mas acabou ausente por problemas de agenda.

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O “compost barn” tem como principal característica uma ‘cama’ de material orgânico que realiza a compostagem das fezes e urinas do gado, proporcionando maior conforto aos animais (Foto: Marcos Lopes La Falce/Embrapa/Divulgação)

“A pesquisa trouxe uma contribuição fantástica nas últimas cinco décadas, o que fez com que o Brasil deixasse de ser um importador de alimentos para se tornar um grande exportador”, destacou Moretti. Ele ressaltou ainda que, no espaço inaugurado nesta quinta, a Embrapa busca “soluções para que o Agro siga competitivo e sustentável”. Assim, a atividade não é voltada para o comércio, mas para a pesquisa em produção de leite.

Chefe-geral do Centro Nacional de Pesquisa de Gado de Leite da Embrapa, o economista Paulo do Carmo Martins lembra que as experiências de “comport barns” já são utilizadas no país, mas agora a entidade quer colocar “inteligência no processo”. “Já temos cerca de dois mil confort barns no país. Isso está crescendo muito, mas têm funcionado meio que em um modelo de tentativa e erro. Estamos montando este espaço para avançar nas pesquisas e ajudar a reduzir os custos para os produtores que adotam o modelo.”

Para detalhar o que é feito no “compost barn” no campo experimental, o chefe-adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Gado de Leite, Pedro Braga Arcuri, explica que o espaço é voltado para o bem-estar dos animais. “É uma tecnologia de instalação de gado de leite. É um estábulo em que as vacas ficam numa superfície de camada de material orgânico, o que ajuda no processo biológico da compostagem. Este conforto para os animais visa a uma melhor produção. Para os consumidores, permite-se a possibilidade de adquirirem produtos em que não há sofrimento animal em seus processos.”

Conforto animal
Recém-inaugurado, o “compost barn” da Embrapa leva o nome de “Vacas e pessoas felizes”. Entre os parceiros do projeto estão a Associação Brasileira de Criadores de Gir Leiteiro (ABCGIL) e a Associação Brasileira dos Criadores de Bovinos da Raça Holandesa (ABCBRH), que, durante a solenidade, assinou parceria com a Embrapa para o desenvolvimento de pesquisas e novas tecnologias. No mesmo termo, a Microsoft também assinou parceria com a Embrapa. Para a consolidação do “compost barn”, a instituição também contou com outros parceiros, entre eles, além da Microsoft e da TIM, três startups que participaram do Desafio de Startups do Ideas for Milk, provido pela instituição: Cowmed, Onfarm e Bionexus.

O leite de égua é valorizado tanto em sua forma natural quanto fermentada.

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