Federação internacional do Leite (FIL), com sede em Bruxelas, vê problema maior em relação à qualidade do leite

A Federação Internacional do Leite (FIL) vai ajudar o Brasil a utilizar as melhores práticas internacionais na produção e transformação de lácteos, afirma sua diretora-geral, Caroline Emond. O Brasil passou a integrar a entidade no ano passado. Recentemente foi instalado o comitê nacional com dez subcomissões para unir esforços de produtores, processadores, academia e governo.

“O Brasil tem enorme potencial no setor lácteo, que deve ser visto como um motor de desenvolvimento econômico”, diz Caroline, que fica sediada em Bruxelas. A FIL tem 40 países membros e cobre 75% da produção global de lácteos. O Brasil é o quinto maior produtor de leite, atrás apenas de Índia, Estados Unidos, Paquistão e China.

Guillaume Tessier, membro do comitê brasileiro, afirma que o Brasil é autossuficiente, mas tem problemas com a qualidade do leite, que não é suficiente para exportar. “O maior problema é a contagem de células somáticas no leite que, quanto maior, pior a qualidade”, afirma. “A infraestrutura obsoleta, associada ao longo tempo de transporte até o laticínio, derruba a qualidade”.

Em termos de produtividade por vaca, o Brasil ocupa a 87ª posição em um ranking liderado por Israel e que tem a Argentina no 43ª posto. Já o custo de produção de 100 quilos de leite era de US$ 30 a US$ 40 em 2016 no Brasil, ante US$ 30 no México, no Uruguai e na Argentina. Na China, no Japão e em Israel, o custo superava US$ 50.

O brasileiro consome principalmente leite fresco e iogurte, enquanto a demanda por queijo e manteiga segue baixa. O consumo per capita de manteiga é de 0,4 quilo por ano, ante 1,6 quilo no Uruguai. Já o de queijo é de 3,8 quilos por habitante ao ano no Brasil, abaixo dos 10 quilos na Argentina e 26 na França.

Assim, diz Caroline Emond, o potencial para crescimento do consumo de lácteos no Brasil é significativo, assim como na Ásia e na África. Lácteos frescos são consumidos principalmente nos países em desenvolvimento, enquanto produtos processados como manteiga e queijo predominam nos países ricos. Conforme a FAO, a Agência da ONU para agricultura e alimentação, o crescimento da produção global de leite poderá chegar a 22% até 2027, e grande parte desse aumento deverá ocorrer no Paquistão e na Índia. Em 2027, esses dois países deverão representar, juntos, 32% da produção global. A maior parte dos produtos será consumida internamente. Ao mesmo tempo, a fatia da União Europeia nas exportações globais deverá passar de 27% a 29%. Com exceção do leite em pó, os preços de lácteos deverão recuar em termos reais nos próximos anos.

Nesse contexto, o domínio dos produtos frescos deverá aumentar nesse mercado, com uma expansão de 2,2% ao ano do consumo, a mais alta taxa entre as commodities cobertas pela FAO. O aumento será puxado sobretudo pela Índia, onde os lácteos são componentes integrais da dieta. Na Ucrânia e no Cazaquistão, o consumo per capita também tende a aumentar fortemente.

Enquanto países em desenvolvimento ampliam o consumo de lácteos frescos e deverão acrescentar 8,2 quilos per capita até 2027, o consumo de leite fresco nos países desenvolvidos tende a cair 1,7 quilo per capita com o consumo voltando-se para produtos processados.

Bryce Cunningham, um produtor de leite escocês, proprietário de uma fazenda orgânica em Ayrshire (Escócia), lançou um produto lácteo para agregar valor ao leite de sua fazenda, que é um produto de ótima qualidade, sem aditivos, e é um exemplo de economia circular.

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