A Comissão Técnica da Pecuária de Leite da Federação da Agricultura e Pecuária de Minas Gerais (FAEMG) soltou nessa segunda-feira (12) um comunicado dizendo que acompanha com apreensão o comportamento do mercado de leite e seus reflexos para produtores e consumidores. O presidente da Comissão Técnica, Jônadan Ma, diz que a nota é um “manifesto de indignação e total desaprovação à forma desproporcional com que as indústrias e cooperativas de laticínios vêm impondo reduções de preços ao produtor rural”.
“A indústria (incluindo cooperativas) e o varejo se aproveitaram da situação ocorrida no primeiro semestre do ano em que houve uma baixa oferta de leite por parte dos produtores e alta demanda dos consumidores, impondo preços excessivos ao varejo e obtendo elevadíssimas margens de lucro”.
Agora, segundo ele, a conta desse desequilíbrio chegou porque houve uma retração do consumidor, os estoques sobraram e os preços caíram muito. “Novamente, querem que apenas o pequeno produtor arque com esse prejuízo. Tanto a indústria quanto o varejo erraram na dose da precificação e, agora, todos amargam o retrocesso do mercado. O que não podemos aceitar é que essa “conta” seja paga somente pelos produtores de leite”, disse o presidente.
Jônadan comentou ainda que a situação é preocupante porque pode haver ‘uma debandada geral da atividade leiteira’. Muitos produtores já vêm desistindo e trocando de ramo. “Caso se mantenha esse cenário de baixa remuneração dos produtores, a situação poderá se tornar ainda mais grave, com consequências inimagináveis”, alertou Jônadan.
SILEMG diz que não houve ‘margem elevada’ e que a indústria é uma extensão do produtor
O presidente do Sindicato das Indústrias de Leite e Produtos Derivados de Minas Gerais (SILEMG), Guilherme Abrantes, disse não discordar totalmente da nota da Comissão de Pecuária de Leite da FAEMG e se solidariza com a situação dos produtores. “Somos totalmente sensíveis à causa deles. Somos uma extensão deles. Precisamos uns dos outros. O produtor não vive sem a indústria e vice-versa”
Por outro lado, ele disse não ser verdade que as indústrias “lucraram absurdamente” porque custos como embalagens, energia elétrica e combustíveis também tiveram aumentos consideráveis que impactaram nos custos de produção da indústria. “Além disso, é preciso levar em consideração que, de janeiro desse ano pra cá, o preço do leite pago aos produtores teve um aumento de 60,7%. A remuneração pelo litro do produto passou de R$ 2,13 para R$ 3,57”.
Abrantes avalia ainda que a alta dos preços ao consumidor é reflexo da estiagem prolongada no ano passado que afetou os pastos, a alimentação das vacas, os índices de prenhez e, consequentemente, a disponibilidade do leite no mercado. Como fenômeno mais recente, o executivo citou o contexto do mercado internacional (especialmente Europa e Mercosul) que, com preços mais competitivos, estimulou a importação do leite em pó, forçando a queda nos preços do mercado interno.
O presidente do Silemg reconhece não se tratar de uma equação fácil, que precisa levar em conta muitas variáveis e cita a criação do Conseleite – que, mensalmente, analisa números passados pela indústria, cooperativas e produtores para obter um valor de referência do litro de leite a ser pago ao produtor – como um avanço. “O caminho é esse: o do diálogo, da empatia pelos entraves e desafios de cada um dos elos da cadeia”, afirmou. Se pudesse dar um conselho aos produtores de leite, ele diria: “observem atentamente os números de suas propriedades: custos, investimentos e lucro. Gerenciem bem esses números, reduzam custos onde for possível e, se possível, invistam na qualidade do leite. Nós, da indústria, sempre reconhecemos e nos esforçamos para remunerar melhor o produto de alta qualidade”.
Veja trechos da nota da Comissão de Leite:
“Os produtores de leite vêm sofrendo prejuízos operacionais desde agosto de 2021. E neste último trimestre, voltaram a ser remunerados com elevadíssimas reduções no valor do litro do leite e, consequentemente, a trabalhar com prejuízos.
Em nome dos produtores de leite de Minas Gerais, os quais esta Comissão Técnica de Pecuária de Leite se propõe a defender e lutar, manifestamos que:
1- Este lastimável quadro foi consequência de desmedida busca do lucro, que notadamente não era sustentável;
2- Transferir esta conta negativa integralmente para os produtores é uma medida inconsequente, pois eles não terão como restabelecer sua capacidade produtiva perante os altos custos que ainda permanecem;
3. Como consequência, a curto e médio prazos, a captação de leite não será restabelecida como deveria já estar acontecendo.
4. Já é hora de trabalharmos unindo forças, entre todos os elos da cadeia – produtores, indústria, varejo e consumidor, para criarmos uma estrutura justa e equilibrada para todos.