Em um mundo onde nós temos uma grande força contra o consumo de proteína animal, leite e seus derivados, é preciso coragem e uma certa dose de ousadia para ajustar a trajetória e seguir por novos caminhos. Qualidades essas que não faltam a Fernanda Krieger Bacelar, que, após construir uma sólida carreira na área de Marketing e Comunicação, decidiu migrar para o campo e dedicar-se à pecuária leiteira em Arapoti, cidade situada na região dos Campos Gerais, no Paraná.
“E pensar que há poucos anos atrás jamais imaginei que mudaria de vida, trocaria uma carreira já estabelecida na publicidade e comunicação, para montar minha própria leiteria, sem ter o menor conhecimento do setor. Mas cá estou eu, sete anos depois, muito feliz com minha escolha, grata pelos desafios encontrados e orgulhosa do caminho até aqui” – disse ela em suas redes sociais.
Iniciamos o empreendimento com 80 vacas prenhas, que gradualmente foram incorporadas à produção de leite à medida que iam parindo. No início, a quantidade de leite produzida era modesta, mas ao longo do tempo dobramos a produção, até atingir, após sete anos, a marca de 400 animais em lactação e uma produção diária de 14 mil litros de leite”, conta Fernanda, orgulhosa.
Através das redes sociais a produtora conta um pouco do seu dia-a-dia na produção de leite. “Aqui na leiteria a gente tem uma relação de longo prazo com os animais. Eu sei tudo sobre a vida das minhas vacas. Eu sei o nome da mãe, sei quem são as filhas, quando foi o último parto delas, se ela ficou doente no último mês, ou o que ela comeu ontem. Por isso o bem-estar animal é super importante pra gente. Pra que a gente consiga ter uma vaca que produza bem e fique longos anos aqui com a gente na leiteiria. Então a vaca, pra ela produzir bem, ela tem que estar num ambiente limpo, higienizado, ela tem que estar confortável, iluminando, descansando, deitada umas 12 horas por dia. Então é tipo aquele resort all inclusive, que é o que a gente tem aqui” – ressaltou a produtora.
Segundo Fernanda a dieta dos animais é toda balanceada e organizada por um nutricionista. As quantidades diárias de proteína, energia e minerais estão todas garantidas. “Eu não sei como é que está a dieta de vocês. A minha não está tão organizada assim, mas a das minhas vacas está” – disse ela.
Fernanda conta que as suas vacas usam um colar de identificação e com esse colar ela consegue saber se a vaca está no cio, se está doente, o colar pega até quatro dias antes do animal ficar doente. O colar garante o bem-estar das vacas, antecipando o tratamento dos animais antes que o estado fique um pouco mais grave.
“Muita gente comenta também sobre o antibiótico no leite. Na verdade nós temos uma super preocupação com isso em todas as fazendas leiteiras também porque, de verdade, não tem leite no tanque com antibióticos. Então as vacas que têm mastite são medicadas por um veterinário e o leite é descartado. Todo leite com medicação é jogado fora. No tanque só vai o leite de vacas saudáveis. Até porque todo leite que sai das nossas leiterias é testado na indústria.” – ressaltou a produtora.
Atualmente, a propriedade tem um rebanho de 850 animais, composto por 483 vacas e 367 novilhas. Há seis anos, a Bacelar Agroleite tem sido reconhecida como uma das melhores leiterias em termos de qualidade do leite no Paraná, distinção concedida pela Associação Paranaense de Raça Holandesa e pela Capal Cooperativa Agroindustrial. “Essa premiação é resultado do nosso compromisso em produzir leite de alta qualidade, respeitando os mais elevados padrões sanitários e de bem-estar animal”, ressalta a gestora de negócios.
Fernanda teve desafios desde a busca de conhecimento sobre a criação de gado leiteiro até a adaptação das instalações e do manejo dos animais. No entanto, sua dedicação, perseverança e vontade de aprender foram essenciais para seguir adiante. “Começar uma atividade do zero, sem nenhum conhecimento prévio, experiência anterior ou repertório foi complicado, porque é muito difícil tomar decisões com base em algo que você ainda não vivenciou, especialmente considerando o fato de que comecei com poucos animais em lactação”, pontua.
Fernanda destaca ainda que sua relação com o leite é B2B. Como cooperada da Capal, sua produção leiteira é vendida por meio dessa cooperativa. “Não tenho uma marca para meu leite, mas tenho uma marca para o meu negócio, que é a Bacelar Agroleite, a qual representa nossa busca constante pela qualidade, eficiência, gestão e preservação do patrimônio familiar”, enfatiza, acrescentando: “Meu objetivo é me tornar cada vez mais eficiente, para que meu negócio seja cada vez mais lucrativo, para que eu possa trabalhar com o bem-estar dos animais e focar na qualidade de vida dos meus funcionários. Quando alcançar isso minha empresa vai se tornar completa e eu uma gestora muito satisfeita com o meu negócio. Por isso que eu, no momento, não tenho interesse em produzir uma marca própria”.
A produtora de leite destaca que sua busca constante é pela qualidade, colocando o bem-estar animal e a excelência do leite como seus principais focos. Para Fernanda, produzir alimentos é uma grande responsabilidade, especialmente quando se trata de um alimento nobre como o leite. Desde o início da Bacelar Agroleite, ela direcionou seus esforços para produzir leite com a máxima qualidade, o que se reflete nos índices de contagem de células somáticas (CCS), bactérias mesófilas (CTB) e ausência de resíduos de antibióticos ou outros contaminantes, certificada com as melhores médias anuais nestes indicadores. “Recebemos bonificação no preço do leite pela qualidade do produto entregue quando atingimos todos esses indicadores.
“O que me traz muito orgulho também é de talvez servir de inspiração para futuras gerações de mulheres. Não tem nada mais poderoso do que uma mulher estar onde ela deseja estar. O agronegócio evoluiu muito nos últimos e as mulheres chegaram para ficar, para estar à frente dos negócios, primando por uma gestão com muita firmeza, foco, consistência e atenção aos detalhes” – finalizou a produtora.