Conjuntura elaborada pela Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento busca traçar cenários e perspectivas das principais culturas agropecuárias, diante da pandemia da Covid-19
O Governo de Goiás, por meio da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), publicou nesta sexta-feira, 8/05, um boletim especial de análise do setor agropecuário no Estado, diante do enfrentamento da pandemia do novo coronavírus (Covid-19). Elaborado pela Gerência de Inteligência de Mercado da Superintendência de Produção Rural Sustentável, com o apoio da Comunicação Setorial da Pasta, o documento busca situar o setor agropecuário diante das ações pontuadas pelo Governo de Goiás, segundo orientações do governador Ronaldo Caiado, e pelo governo federal, apontando cenários e perspectivas.
A ideia, segundo informa o secretário de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Antônio Carlos de Souza Lima Neto, é munir o setor econômico vinculado ao agronegócio com uma análise aprofundada, baseada nos dados existentes, para entender os próximos passos e diminuir impactos sobre a economia do Estado e a renda das pessoas ligadas ao campo. “É inegável que o setor agropecuário continuará produzindo, gerando emprego e renda, para levar comida à mesa das pessoas. Mas como um setor diversificado, é necessário entendermos como as diferentes culturas lidam com as medidas adotadas até agora, já que há impactos positivos e negativos a depender do tipo de produção”, explica. “Por isso, essa análise é importante, para podermos medir impactos e tomar medidas relacionadas aos diferentes setores.”
O documento destaca, nesta edição, os impactos nos setores de floricultura, hortifruticultura, produção de soja, milho e cana-de-açúcar. Também traz perspectivas sobre a bovinocultura de leite, bovinocultura de corte, suínos, aves e ovos. Confira um resumo de cada item:
Floricultura: O impacto negativo nesse setor é ainda maior devido sua perecibilidade, dependência do mercado doméstico e sensibilidade à queda da renda. As consequências ao desenvolvimento da cadeia são significativas, sobretudo por ser um segmento intensivo em mão de obra e pelos efeitos da paralisação a jusante da produção, no setor de distribuição e comercialização. O cenário de incerteza não permite sinalizar recuperação dessa atividade no curto prazo.
Hortifruticultura: Em Goiás, a dinâmica dessas cadeias não é homogênea. Por um lado, somos grandes produtores de hortaliças, não havendo risco de desabastecimento. Por outro, somos importadores de frutas e, portanto, dependentes da oferta de outros estados. Em Goiás, as estatísticas de consumo de março apontam pequeno recuo na demanda, explicado pela vedação de feiras no início das medidas de enfrentamento ao vírus. Na Ceasa, no mês de março, foram comercializadas quase 43 mil toneladas de hortaliças e 27,3 mil toneladas de frutas, representando crescimento de 16% e diminuição de 24,9%, respectivamente, em comparação com o mesmo período de 2019. O recuo na comercialização de frutas reflete a situação de sermos importadores e, como a maioria das frutas aqui comercializadas vêm de outros estados, os problemas de transporte atingiram, em um primeiro momento, o abastecimento. Na primeira quinzena de abril já se observa incremento de 20% nas vendas da Ceasa, em relação ao mesmo período de março. A retomada das feiras de hortifrutigranjeiros, com certeza, colaborou com a elevação dessa demanda.
Bovinocultura de leite: De acordo com os dados divulgados pelo Cepea, houve leve alta no preço registrado do leite. Em Goiás, o preço médio do litro do leite cru em fevereiro foi de R$ 1,39; já em março, R$ 1,41, variação positiva de 1,43%. O preço médio do litro de leite no País é um pouco maior, registrando R$ 1,44, em março. Em relação à demanda, no primeiro momento das medidas de isolamento, verificou-se um aumento da procura de leite UHT. Segundo o índice de preços proposto pela Câmara Técnica e de Conciliação da Cadeia Láctea de Goiás, para o indicador no mês de abril, houve uma variação positiva de 7,31%, sendo esse resultado o reflexo de um choque extraordinário, e não permanente, que ocorreu no setor em virtude dos impactos causados pela pandemia da Covid-19. Esse impacto é explicado pela corrida aos supermercados a fim de fazer estoques, nas primeiras semanas de isolamento social. Em Goiás, há 72.353 estabelecimentos produtores de leite, ou seja, quase 50% das propriedades rurais do Estado, o que ratifica a importância socioeconômica da cadeia láctea em Goiás. Apesar de termos em um primeiro momento a expansão da procura, o que reflete no preço pago ao produtor, a tendência aponta recuo da demanda e de seu preço. Isso porque se verifica contração do consumo de alguns produtos lácteos de maior valor agregado, como queijos, iogurtes, manteigas, entre outros, que são bastante sensíveis à retração da renda. Ainda contribuem com a diminuição da demanda o fechamento ou funcionamento parcial de bares, restaurantes e lanchonetes. Assim, esse setor é bastante sensível às incertezas provocadas pela crise do coronavírus.
Bovinocultura de corte: Para as exportações, a carne bovina representou 3,7% das vendas brasileiras e 15,1% das vendas goianas, no primeiro trimestre de 2020. Para Goiás, o crescimento foi de 4,9%, em valor, em comparação com o mesmo período de 2019, tendo como principais destinos a China (51,7%), a Rússia (11,6%) e Hong Kong (11,4%). Verifica-se ainda a ampliação de novos destinos para a carne bovina. Goiás possui o segundo maior rebanho de bovinos dentre os estados brasileiros e, segundo o Ministério da Economia, há registro na RAIS estabelecimentos de 66 frigoríficos de bovinos. Em 2019, 3 milhões de bovinos foram abatidos e o peso de carcaças foi de 783 milhões de quilos. No primeiro trimestre de 2020, segundo os dados preliminares de abate de bovinos para Goiás, do Mapa, houve redução de 21,5% na quantidade de bovinos abatidos, em comparação com o mesmo período de 2019. Em relação ao preço, conforme o indicador Cepea/B3, a arroba do boi gordo (15 kg) foi vendida a R$ 204,15 em 2 de março. Desde então, vem sofrendo oscilações e fechou em R$ 199,95 no dia 24 de abril. Por conta dessas oscilações, o pecuarista está aproveitando o retardo do período chuvoso para segurar o gado por mais tempo no pasto e aguardar uma normalização do preço da arroba. Para Goiás, o preço da arroba comercializada em março de 2020, segundo a Conab, foi de R$ 185,10. Embora os dados preliminares de abate sejam de queda na quantidade de bovinos abatidos, para Goiás a estimativa do valor bruto de produção de bovinos é de R$ 9,77 bilhões, para 2020, crescimento de 18,5% em relação a 2019. Há risco de queda nas vendas e consequentemente nos preços, no longo prazo, uma vez que o preço está dilatado devido à alta do dólar. Em relação ao consumo interno, a perspectiva é de queda, por ter sua demanda retraída em decorrência da diminuição da renda das famílias.
Suínos: A demanda externa por carne suína já vem em crescimento desde 2019, decorrente da peste suína na China. No primeiro trimestre de 2020, a procura continua crescente, resultando em elevação das exportações brasileiras em 32,8%, em comparação com o mesmo período de 2019, tendo Hong Kong como principal destino. Para essa proteína animal, espera-se queda no consumo de importantes países consumidores, como os Estados Unidos, como consequência do fechamento de restaurantes devido à pandemia. Outro fato que também se verifica é que a China está em processo de recuperação de seu plantel, o que pode vir a afetar as exportações futuras do Brasil. Embora Goiás possua o sexto maior plantel de suínos do País, com 1,97 milhões de cabeças criadas em mais de 70 mil estabelecimentos rurais, não temos exportações significativas e, considerando os maiores mercados internacionais demandantes, há apenas um frigorífico habilitado a exportar, situado no município de Rio Verde, segundo relatório do Mapa. Para 2020, a estimativa do Mapa, para o valor bruto de produção de suínos em Goiás é de R$ 882,5 milhões, representando 4,3% do total nacional, e a estimativa é de aumento no valor bruto de produção. Segundo o Cepea, em 2 de março de 2020, o preço do quilo do suíno vivo foi de R$ 5,38 e registrou alta até o dia 20 de março, cotado a R$ 5,63. Posteriormente, vem sofrendo quedas diárias, registrando R$ 3,54 em 24 de abril, variando negativamente em 34,2% entre 2 de março a 24 de abril. Para Goiás, o preço pago ao produtor, segundo a Conab, foi de R$ 4,27 em 1º de março e R$ 4,23 em 1º de abril, ou seja, a oscilação verificada no preço em outros estados não ocorreu em Goiás. A demanda por essa proteína animal também deve sofrer recuo em decorrência da queda da renda.
Aves: Goiás possui 103.078 estabelecimentos com aves, com de mais de 90 milhões de cabeças. O valor bruto de produção do frango estimado para 2020 é de R$ 4,55 bilhões. O Estado é um importante exportador de carne de frango. A demanda externa está aquecida e Goiás exportou, em volume, no primeiro trimestre de 2020, 165,8% a mais que no mesmo período de 2019. Em relação à dinâmica de preços, segundo o Cepea, a carne de frango vem sofrendo leves quedas diariamente. Em 02 de março registrou preço de R$ 4,95 para o quilo e R$ 4,05 em 24 de abril, ou seja, variação negativa de 18,2%. A corrida ao supermercado no início da pandemia aumentou as vendas e a média de preço de março se manteve em alta. Passados isso, outras medidas de controle decorrentes da pandemia, como a suspensão das aulas e a consequente redução das compras de carne de frango para a merenda escolar, além do fechamento ou funcionamento parcial de bares e restaurantes, afetaram a demanda interna por essa proteína animal, impactando os preços. Em relação ao consumo, a perspectiva é que as demandas interna e externa pela carne de frango sigam firmes, sobretudo, por ser uma proteína animal de menor preço e substituta das demais carnes. Ademais, a maior parte dos agentes do setor acredita que o ritmo de negócio no atacado e no varejo deva seguir com relativa normalidade, sendo as baixas de preços um movimento de ajuste do próprio mercado.
Ovos: Embora no ranking estadual de produção Goiás ocupe o 8º lugar, aqui há 81.851 estabelecimentos com produção de ovos. São 38,5 milhões de galinhas poedeiras e produção de 218,8 milhões de dúzias de ovos em 2019. A estimativa do valor de produção de ovos para Goiás em 2020 é de R$ 848,2 milhões, aumento de 19,4%, em relação a 2019. A queda da renda do brasileiro, como consequência do encolhimento da economia, provoca um aumento da demanda por ovos, que é um produto substituto das demais proteínas animais, e isso refletiu, no mês de março, em variações positivas no preço de ovos. Nesse cenário, a tendência é que o consumo de ovos siga crescendo.
Soja: A soja é o grão que tem maior peso na agricultura goiana: representa 28,1% do valor bruto da agropecuária de Goiás, estimada para 2020 em R$ 16,1 bilhões, crescimento de 22,9% em relação a 2019. Goiás é o quarto maior produtor de soja do País. Na Safra 2019/20, a Conab estima crescimento de 9,0%, na comparação com a safra 2018/2019, com produção superior a 12 milhões de toneladas. Essa super safra, somada à crescente valorização do dólar no momento da colheita, tem favorecido o produtor. Em 2020, no primeiro trimestre, as exportações do complexo soja já atingiram o montante de U$ 609,2 milhões, tendo como principal destino a China. Os efeitos da pandemia na China fizeram recuar a demanda no mês de fevereiro, mas em março a recuperação veio forte. Segundo o Cepea, o preço da soja vem registrando aumentos sucessivos. A saca de 60 kg no porto de Paranaguá (PR), que era de R$ 90,30 em 2 de março, registrou R$ 106,16 no dia 24 de abril, aumento de 17,6%. Ainda de acordo com o centro de pesquisa, o elevado valor do grão ocorre por fazer parte da suplementação dos animais que, por sua vez, está demorando mais tempo para serem abatidos, pois os produtores estão aguardando melhores preços da carne, principalmente de bovinos e suínos. No cenário internacional, nesse momento de maior competitividade do grão brasileiro, a China tem elevado a compra dessa commodity a fim de repor seu estoque, aumentando, assim, a atratividade para a exportação de soja. Ademais, o preço do grão no mercado interno é pressionado pelo elevado valor do dólar. Nesse cenário de desvalorização da moeda brasileira, a aquisição de insumos importados elevam os custos de produção, de forma que a tendência seja afetar a relação de troca futura para o produtor.
Milho: O Brasil é o terceiro maior produtor de milho do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos e da China. Em 2019, o Brasil ganhou espaço no cenário internacional e foi o maior exportador dessa commodity. O Estado de Goiás foi responsável por 11,8% dessa quantidade de milho comercializada no mercado externo. Para a safra 2019/2020 brasileira, a estimativa de produção deste grão é superior a 100 milhões de toneladas, sendo a participação goiana de 11,4% da produção nacional. A estimativa total de milho goiano é superior a 11 milhões de toneladas e um valor bruto de produção estimado para 2020 de R$ 8,1 bilhões. Em 2019, as exportações brasileiras de milho bateram recordes, mas em 2020 esse crescimento não se sustentou devido às crises que têm atingido fortemente a demanda por essa commodity no mundo. A expectativa para 2020 é de queda, em resposta às incertezas da demanda diante da crise do petróleo e da pandemia. O recuo nas exportações desta commodity já é observado em Goiás no primeiro trimestre de 2020, em que a queda superou os 15%. Nesse período houve exportação de 302 mil toneladas deste grão para 14 países, sendo o principal destino Taiwan. Em relação à dinâmica do preço, segundo o Cepea, em 2 de março o registro foi de R$ 53,55 a saca de 60 kg, preço à vista. Houve leves aumentos diários até seu pico em 31 de março com R$ 60,14 e, posteriormente, quedas diárias, chegando a R$ 47,60 no dia 24 de abril. Em Goiás, segundo Relatório Agroeconômico do Centro-Oeste, a média do preço do milho, no primeiro trimestre de 2020, foi de R$ 44,63 a saca. As oscilações no preço desta commodity refletem as incertezas do mercado, causadas pela crise do petróleo e pela queda no consumo em decorrência das medidas de combate ao coronavírus. A conjuntura internacional reforça a perspectiva de queda no preço e, na Bolsa de Chicago, os contratos futuros têm sido pressionados. Nos EUA, a produção de etanol consome grande parte da produção de milho e as medidas de isolamento social causaram recuo na demanda, reduzindo a procura energética que, somado ao declínio do preço do petróleo, refletiram negativamente na competitividade do etanol. Esse cenário impacta o milho brasileiro, deixando-o também menos competitivo, salvo pelo dólar que está segurando os preços elevados, o que tem garantido bom resultado no curto prazo.
Cana-de-açúcar: Goiás é o segundo maior produtor de cana-de-açúcar do País, com produção de 75,3 milhões de toneladas, o que representa 11,7% da produção nacional. Dessa produção, segundo dados do fechamento da Safra 2019/2020, divulgados pela Conab, 82,7% foi destinada ao etanol e 17,3% ao açúcar. Com a queda da demanda pelo etanol, como consequência das medidas de isolamento social, e também com a crise do petróleo, o cenário é de forte queda nos preços. Diante desse choque econômico, o armazenamento é o indicado. Contudo, a capacidade de armazenagem desse produto em Goiás é limitada. Nessa conjuntura, a tendência é que os preços se mantenham baixos. Em Goiás, no mês de março, os preços do etanol hidratado e anidro caíram 14,55% e 16,06%, respectivamente, em comparação com fevereiro. O Indicador Cepea/ESALQ do etanol anidro registrou queda no mercado spot, de 8,5%, em março. A média do preço do etanol hidratado comercializado nos postos de combustíveis goianos registrou queda de 6,0% em relação a fevereiro. Essa redução já é reflexo das medidas adotadas, que frearam o consumo a partir de meados de março, com a paralisação de vários setores da economia, somadas à queda no preço do petróleo, que em 30 de março, o tipo Brent atingiu queda de 6,3%. Com a redução de preço da gasolina, gera-se uma pressão negativa na demanda do etanol, ao se tornar menos competitivo para escolha do consumidor. Sobre a dinâmica do preço do açúcar, segundo o Cepea, no mercado spot paulista, no dia 2 de março, a saca de 50 kg foi vendida à R$ 80,67, oscilando negativamente e chegando ao valor de R$ 75,13, no dia 30 de março de 2020. Os valores foram elevados até o final da primeira quinzena de abril e, em seguida, voltaram a cair, registrando R$ 76,58 no dia 24 de abril. Verificou-se que os valores domésticos não reagiram nem mesmo à elevação do dólar. Ainda assim, segundo cálculos do Cepea, as vendas internas do açúcar remuneraram, em média, 3,41% a mais que as externas em março. As reações no mercado foram limitadas pelas incertezas na economia mundial devido à pandemia. No mercado doméstico, as vendas de açúcar aumentaram em decorrência da corrida aos supermercados, o que impactou o Indicador de Cristal Empacotado, que registrou alta de 8,2% no acumulado do mês. A tendência, no mercado interno, é que os preços caiam, sobretudo, por não termos sofrido com problemas no abastecimento nos supermercados e por termos sinalizações positivas do lado da oferta. No cenário global, as previsões sustentam que a produção mundial de açúcar continuará abaixo do consumo e, segundo estimativa da Rabobank, o déficit atual é de 6,7 milhões de toneladas e que, mesmo com a pandemia, em geral, a demanda mundial por açúcar deve permanecer estável, com exceção da União Europeia, em que a projeção aponta redução no consumo. Dessa forma, para a produção de açúcar o cenário é favorável, mas a recomendação aos produtores é cautela na tomada de decisões, com avaliação de sua capacidade de resposta a esse movimento do mercado.
Confira a publicação na íntegra.