As importações de leite voltaram ao centro do debate no Nordeste e reacenderam um movimento nacional de produtores e indústrias em defesa da competitividade da cadeia láctea brasileira. Em Alagoas, o Sindicato das Indústrias de Laticínios de Alagoas (SILEAL) formalizou à Federação das Indústrias do Estado de Alagoas (FIEA) e à Confederação Nacional da Indústria (CNI) um pedido categórico: a suspensão temporária das licenças de importação de produtos lácteos. A medida, segundo o setor, é urgente para conter um desequilíbrio que já compromete empregos, renda e produção em todo o estado.
O pleito foi apresentado pelo presidente do SILEAL, Arthur Vasconcelos, durante reunião realizada na Casa da Indústria em Maceió. A entrega formal foi feita ao presidente da FIEA e também presidente do Conselho Temático da Agroindústria da CNI (Coagro), José Carlos Lyra de Andrade, que recebeu o documento e encaminhou o caso à análise da Confederação.
De acordo com o SILEAL, as importações de derivados, sobretudo leite em pó originário de países do Mercosul, cresceram de forma acelerada nos últimos meses. O aumento da entrada desses produtos, vendidos a preços artificialmente baixos, estaria comprimindo as margens da indústria local e derrubando o valor pago ao produtor alagoano. Como consequência, propriedades reduziram a produção, indústrias lidam com estoques elevados e postos de trabalho foram eliminados ao longo da cadeia.
O sindicato argumenta que essa concorrência desigual vem acompanhada de um cenário interno ainda mais desafiador: custos produtivos muito superiores aos praticados nos países exportadores, ausência de políticas de estímulo ao setor e dificuldades na manutenção do equilíbrio econômico-financeiro das empresas locais. Para Vasconcelos, “a situação é de urgência”. Ele reforçou que a suspensão temporária das licenças de importação seria um passo necessário para evitar o colapso de produtores e indústrias. “As importações têm inviabilizado a operação das indústrias e comprometido a sobrevivência dos produtores de leite em Alagoas”, afirmou.
Competitividade e segurança alimentar
O presidente da FIEA, José Carlos Lyra de Andrade, classificou os argumentos como justos e relevantes e reforçou que a cadeia láctea é estratégica tanto para a segurança alimentar quanto para a geração de empregos no campo. Ele sinalizou apoio à avaliação das medidas de defesa comercial no âmbito da CNI, destacando que o setor exige soluções rápidas para restabelecer o equilíbrio competitivo no mercado interno.
O pleito de Alagoas será analisado pela CNI por meio do Coagro, instância responsável por acompanhar questões relacionadas à sustentabilidade e competitividade da agroindústria. A expectativa é de que o tema avance em meio ao crescente descontentamento nacional com a política atual de importações.
Mobilização nacional: do Nordeste ao Sul
O pedido alagoano chega em um momento de forte mobilização em todo o país. Produtores enfrentam margens negativas, retração de preços e dificuldade para competir com lácteos importados, especialmente leite em pó proveniente de Argentina e Uruguai.
Na Câmara dos Deputados, uma audiência pública recente reuniu entidades para discutir medidas antidumping como forma de conter os efeitos das importações. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) defendeu que mudanças recentes no entendimento do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) sobre o conceito de “produto similar” dificultam a aplicação de ferramentas de defesa comercial para produtores de leite in natura.
Segundo representantes da CNA, enquanto a reavaliação do processo segue em andamento, as importações continuam avançando e pressionando os preços pagos aos produtores. A entidade alerta que, sem ação imediata, mais propriedades poderão encerrar atividades.
Estados reagem com medidas próprias
A preocupação não está restrita ao Nordeste. No Sul, o Paraná sancionou recentemente uma lei que proíbe a reconstituição de leite e derivados importados, como forma de preservar a competitividade da produção estadual. Além disso, adotou ajustes tributários eliminando benefícios fiscais para produtos importados e ampliou incentivos à cadeia local.
Em Minas Gerais e Ceará, projetos de lei buscam limitar o uso de leite em pó importado em programas públicos, especialmente na merenda escolar, priorizando a compra de leite fresco e regional como estratégia de estímulo à produção interna.
Esses movimentos estaduais mostram que o tema deixou de ser uma preocupação isolada e passou a representar um debate nacional sobre soberania produtiva e sustentabilidade econômica do setor lácteo.
Próximos passos
Com o aumento da pressão política e setorial, a expectativa é de que a CNI avalie o pedido alagoano com celeridade. Produtores e indústrias aguardam sinais do governo federal sobre possíveis ajustes na política comercial, sobretudo diante das evidências de impacto socioeconômico nas regiões produtoras.
Para Alagoas — e para o Brasil — o debate sobre importações de leite se tornou central para definir o futuro da cadeia láctea e sua capacidade de competir, gerar renda e manter famílias no campo.
Escrito para o eDairyNews, com informações de Movimento Económico






