Segundo a agência, esse tipo de informação foi o que apresentou melhor captura de atenção e compreensão nos estudos analisados por ela. O modelo apresentou bons resultados para auxiliar consumidores a identificar itens que costumam ser vistos como saudáveis, mas que possuem versões com alto teor de nutrientes negativos.
Inspirado em regulamentação adotada no Chile em 2016, esse modelo é defendido no Brasil pela Aliança pela Alimentação Adequada e Saudável, articulada pelo Idec (Instituto de Defesa do Consumidor) com associações de nutricionistas e ONGs.
João Dornellas, presidente-executivo da Abia (Associação Brasileira da Indústria de Alimentação), diz concordar que, do modo como as informações são dispostas hoje, em uma lista com a quantidade de cada nutriente do produto em letras miúdas, elas só são entendidas por uma parcela pequena da população.
Por outro lado, afirma que as advertências propostas não oferecem a melhor informação possível e criam mais alarme do que o necessário. “Se você coloca um alarme, vai causar pânico. Se estiver escrito que um produto tem teor alto de sódio, provavelmente não compra.”
A associação defende que sejam aplicados em todos os alimentos semáforos que indicam a quantidade de açúcar, gordura e sal e que podem estar nas cores verde (quantidade baixa), amarelo (média) e vermelho (alta).
Além deles, Dornellas propõe que seja disponibilizada a informação de qual o percentual da quantia diária do nutriente que deve ser consumida presente em uma porção do alimento. “Se, em vez de um alerta para não consumir, por ter muito sódio, recebo a informação de que a porção do alimento tem 16% da quantidade que posso consumir no dia, já posso fazer uma proposta de alimentação incluindo ele de acordo com meu estilo de vida”, diz.
Ana Paula Bortoletto, nutricionista e líder do programa de Alimentação do Idec, diz que, assim como a indústria já ressalta características positivas de produtos (com informações do tipo zero açúcar, integral ou fit), é importante que o consumidor seja alertado claramente sobre características negativas de alimentos.
Segundo ela, os alertas são melhores que os três semáforos porque, em sua avaliação, quando há informações positivas e negativas na mesma embalagem (um semáforo vermelho ao lado de dois verdes, por exemplo), a escolha entre consumir ou não fica mais difícil. “Quando comparamos o nível de entendimento do consumidor sobre a informação, a advertência aumenta o percentual de respostas corretas sobre o que contém o alimento.”
Citando o exemplo chileno, Bortoletto afirma que, mesmo que a venda de alguns produtos caia, a indústria é capaz de se adaptar e lançar alternativas mais saudáveis para compensar essa perda.
Resultados preliminares de estudo da Universidade do Chile, em parceria com a Universidade Diego Portales e a Universidade da Carolina do Norte (EUA), apontaram queda de 25% no consumo de bebidas açucaradas e 14% na compra de cereais matinais em período de 6 a 10 meses após a nova regulamentação.
Por outro lado, o consumo de chocolates e bolachas se manteve estável. Houve redução no uso de sódio e açúcar em alimentos industrializados consumidos no país. Em derivados de leites e cereais matinais, a redução de açúcar chegou a 35% e em queijos e embutidos o sódio caiu até 10%.
Segundo a pesquisa, 90% dos adolescentes e das mães de crianças afirmam valorizar e entender as advertências. Outro debate trata do critério para analisar se o alimento traz muito ou pouco do nutriente que deve ser consumido com moderação.
A Abia propõe que, para cada tipo de alimento, seja considerada uma porção diferente, dependendo da quantidade usualmente consumida.
Já o Idec leva em conta a quantidade de cada nutriente na composição calórica do alimento, enquanto a Abran (Associação Brasileira de Nutrologia), que apresentou uma proposta alternativa baseada em escala de cores dependendo da qualidade nutricional do produto, prefere que seja analisada a presença do nutriente a cada 100 gramas.
“Você compra um tablete de manteiga e são 200 gramas. Ninguém come um pão com 100 gramas de manteiga. A porção próxima do consumo seriam 10 gramas. Se o consumidor tiver a informação sobre quantidade de sódio em 100 gramas, terá de fazer contas”, diz Ornellas.
Em oposição, o médico Durval Ribas Filho, presidente da Abran, afirma que o uso da medida de 100 gramas dá objetividade à avaliação dos alimentos. “O que é uma porção de nozes? É um punhadinho? Usar 100 gramas é uma maneira de avaliar cientificamente”, diz.
Antonio Bernardo, presidente para o Brasil da consultoria Roland Berger, que produziu relatório sobre o debate da rotulagem dos alimentos, diz acreditar que o semáforo proposto pela indústria é o modelo de mais fácil compreensão e, por isso, adequado ao Brasil.
A consultoria afirma que, no Chile, os alertas levaram a redução de vendas no primeiros cinco meses de sua implantação. Porém o relatório afirma não ser possível saber se a queda foi causada por maior conscientização da população ou pela restrição da venda desses produtos em determinados locais, especialmente escolas. Em sua avaliação, para o controle da obesidade e de doenças relacionadas a ela, a disponibilização de mais informações é apenas uma parte da solução.
Outras medidas que poderiam ser adotadas são o incentivo ao uso de embalagens menores no caso de produtos que devem ser consumidos com moderação e a criação de grupos de trabalho envolvendo indústria, governo e consumidores para o incentivo a ações educacionais e ao desenvolvimento de alimentos mais saudáveis.
É esperado que a Anvisa avalie as contribuições recebidas e submeta uma proposta de regulamentação para consulta pública no início de 2019. No Brasil, a proporção de homens com excesso de peso passou de 18,5% em 1974 para 57,3% em 2013. Nas mulheres, foi de 28,7% para 59,8% no mesmo período.