No mundo da nutrição, teorias e mitos se espalham tão rápido quanto às informações, tornando-se verdades aceitas sem muita reflexão. Um dos mais insistentes é que o consumo de laticínios leite, queijos, iogurtes estaria associado ao desenvolvimento de vários tipos de câncer. No entanto, segundo especialistas em nutrição e gastroenterologia, essa crença não tem respaldo e, de fato, a evidência emergente aponta para o lado oposto: os laticínios podem ter um papel protetor.
Por que surgiu esse mito?
A combinação de estudos epidemiológicos preliminares, conclusões midiáticas amplificadas e compreensão incompleta do papel da microbiota intestinal alimentou a desinformação. De acordo com a doutora em nutrição María Elena Torresani e o gastroenterologista José Tawil, os laticínios não só não causam câncer como também ajudam a equilibrar a microbiota, e uma microbiota saudável reduz a presença de bactérias produtoras de toxinas e metabólitos inflamatórios que podem favorecer o câncer.
O que diz a ciência sobre os laticínios
- Não há evidência sólida de que o consumo de produtos lácteos aumente o risco de câncer.
- Em contrapartida, há dados que relacionam o consumo de leite e derivados com diminuição de até 20 % no risco de câncer colorretal.
- Entre os mecanismos propostos estão:
- O cálcio presente nos lácteos como possível modulador antitumoral.
- Compostos naturalmente presentes nos laticínios (como ácido butírico, lactoferrina, ácido linoleico conjugado e vitamina D fortificada) com potenciais efeitos protetores.
- A chave para a prevenção também parece ser a microbiota intestinal: quando está desequilibrada, pode favorecer a inflamação crônica, fator de risco reconhecido para tumores.
O papel de destaque do iogurte e dos probióticos
Dentro do universo dos laticínios, iogurtes fermentados com probióticos merecem atenção especial. Esses produtos ajudam a manter uma microbiota mais saudável, favorecendo bactérias benéficas e inibindo as nocivas. Segundo especialistas, isso pode explicar parte de seu efeito protetor frente ao câncer. Além disso, já se buscam aplicações que vão além da prevenção via alimentação: alguns estudos avaliam probióticos como coadjuvantes em terapias oncológicas para melhorar a resposta ao tratamento ou aliviar efeitos colaterais.
Como aplicar no dia a dia?
- Inclua laticínios regularmente, se sua dieta e tolerância permitirem.
- Prefira iogurtes com probióticos ativos: verifique etiquetas com “culturas vivas”, “probióticos”.
- Acompanhe os laticínios com uma dieta rica em fibras, frutas, vegetais, leguminosas e peixes azuis, itens-chave para uma microbiota saudável.
- Evite alimentos pró-inflamatórios em excesso (gorduras saturadas, trans, açúcares simples) e adote um estilo de vida ativo.
- Consulte sempre um profissional de saúde ou nutrição, especialmente se houver condições médicas ou dúvidas específicas.
Dicas para interpretar estudos de nutrição
- Verifique o tipo de estudo: observacional vs. experimental. Estudos observacionais sugerem associações, não causação.
- Considere o tamanho da amostra, duração do seguimento e possíveis vieses de reporte alimentar — variáveis que podem enfraquecer conclusões.
- Mantenha postura crítica: manchetes que dizem “Alimento X causa câncer” costumam simplificar demais uma investigação complexa.
- Observe a consistência dos resultados: um único estudo não define uma diretriz; o relevante é o conjunto das evidências.
Conclusão
O mito de que os laticínios provocam câncer foi superado por dados mais sólidos: hoje, sabemos que, em muitos casos, seu consumo moderado pode fazer parte de uma estratégia nutricional saudável e até preventiva. Em especial, os iogurtes fermentados com probióticos ocupam um lugar destacado por sua capacidade de modular a microbiota intestinal e reduzir fatores de risco vinculados à inflamação crônica e tumores. Claro que isso não significa que sejam “a única solução”: devem integrar um estilo de vida completo que inclua alimentação equilibrada, atividade física e acompanhamento médico quando necessário.
Além disso, a revalorização dos laticínios no cenário global também representa um desafio para a comunicação científica: combater fake news e promover informações baseadas em evidências é essencial para que o público volte a confiar nesses alimentos tradicionais. Em tempos de dietas extremas e desinformação nas redes, recuperar o papel dos laticínios como aliados da saúde é também uma forma de fortalecer a educação nutricional e o consumo responsável.
Adaptado para eDairyNews, com informações de Ámbito.com






