Projeto do deputado Hervázio Bezerra (PSB) foi aprovado em junho de 2018 e aguarda regulamentação

Publicada no Diário Oficial do Estado em junho do ano passado, a lei 11.140, que institui o código e bem-estar animal do Estado da Paraíba, tem assombrado os produtores locais com a proibição do uso de inseminação artificial em bovinos. De autoria do deputado Hervázio Bezerra (PSB), o texto traz em seu inciso IV artigo 59 a proibição de procedimentos que “prejudiquem o ciclo biológico da vaca” sem detalhar quais condições seriam essas.

De acordo com o vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária da Paraíba (Faepa-PB), Vanildo Bezerra, a lei está em vigor, porém ainda não foi regulamentada. Falta a designação do órgão fiscalizador por parte do executivo. Bezerra afirmou ao Portal DBO que os produtores pretendem buscar a conciliação de interesses em reunião junto a ambientalistas e representantes do setor produtivo nos próximos dias. Se não houver consenso, a saída será buscar medida judicial.

“Não iremos suspender as atividades de inseminação enquanto a lei não for concedida. Já fui questionado por produtores se eles podem continuar fazendo [a inseminação artificial nas vacas], e a informação é que sim. Não está havendo fiscalização quanto a isso, nós estamos em fase de negociação”, afirma o vice-presidente da Federação.

A pesquisadora e médica-veterinária da Embrapa Gado de Leite, Alessandra Nicácio, diz não acreditar que a inseminação sozinha possa trazer prejuízos ao animal, já que a técnica não manipula o ciclo reprodutivo, mas aproveita o momento ideal observado durante o cio das fêmeas (momento fértil do animal apresentado, em média, a cada 21 dias) . “O procedimento da inseminação, quando bem executado, não causa mal ao animal”, explica.

“Fazer inseminação ou colocá-la junto com um touro não influencia o ciclo biológico da vaca. Há influência  quando se trabalha com inseminação artificial em tempo fixo, porque se aplica uma série de hormônios e altera o ciclo da vaca”, ressalta a pesquisadora, ao apontar que seriam esses os casos mais afetados pela nova lei.

Produtividade

Ainda assim, a pesquisadora destaca que a melhor técnica é justamente a da Inseminação Artificial por Tempo Fixo (IATF), uma vez que ela possibilita um intervalo mais adequado para o procedimento e também o agendamento da inseminação. “A grande vantagem da IATF é que ela não depende do momento do cio da vaca. Você pode juntar 100 vacas e inseminá-las no mesmo dia, dando assim maior agilidade ao processo. Facilita muito o manejo, com animais mais homogêneos, e favorece a desmama dos bezerros no período adequado”, pontua Alessandra ao apontar a IATF como um grande benefício ao produtor.

Atualmente, acredita-se que entre 10 a 12% do rebanho brasileiro seja inseminado artificialmente – metade deles por tempo fixo. “A IATF é um manejo e existe um estresse [inerente] desse [processo]. Por mais que se trabalhe o bem estar animal, há uma linha de agitação ao levá-los para o curral e ao aplicar as injeções hormonais necessárias. A gente não vê isso como mau-trato, é uma atividade corriqueira de aplicação de fármaco”, comenta a pesquisadora.

Mais eficiente, a IATF chega a ser mais cara por conta do protocolo – há um custo maior com hormônios. De acordo com Nicácio, trabalhar observando apenas o cio é uma desvantagem: “Há vacas que dão cio à noite, muitas vezes deixa-se de inseminar os animais que estão em momento adequados por falha humana”, ressalta.

A médica-veterinária lembra que, quando se trabalha com inseminação artificial, é realizada uma seleção prévia do touro utilizado para o acasalamento, priorizando aqueles de potencial genético melhorado. Além disso, uma bateria de exames sanitários e avaliações também são feitos para que o sêmen do animal comercializado não dissemine doenças às vacas.

Caso a lei seja regulamentada, o produtor deverá trabalhar com a monta natural, deixando touros e vacas juntos para que aconteça o acasalamento. Recomenda-se que antes dos touros serem colocados juntos com as fêmeas haja uma avaliação andrológica, o que inclui a parte sanitária e as condições gerais do animal, além da reprodutiva.

Bryce Cunningham, um produtor de leite escocês, proprietário de uma fazenda orgânica em Ayrshire (Escócia), lançou um produto lácteo para agregar valor ao leite de sua fazenda, que é um produto de ótima qualidade, sem aditivos, e é um exemplo de economia circular.

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