Mesmo internamente, com produção suficiente para suprir a demanda, a indústria acaba importando de países vizinhos, onde o litro custa menos
A produção de leite no Brasil é mais do que suficiente para atender a demanda interna. Mesmo assim, no ano passado, o país importou 150 mil toneladas de lácteos, principalmente da Argentina e do Uruguai. A explicação está no preço do produto: enquanto o litro custa cerca de R$ 1,50 no mercado interno, nos nossos vizinhos sai por R$ 1.
“Na maioria das vezes, as importações não atendem o anseio do consumidor, mas de grupos que fazem esse comércio visando oportunidades. Importam para comercializar, o que é normal em um país capitalista”, diz o coordenador da Câmara de Leite da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), Vicente Nogueira.
Os produtores brasileiros se sentem prejudicados desde o fim da tarifa antidumping, em fevereiro. A tributação estava em vigor desde 2001 e abrangia as compras de leite em pó, integral ou desnatado da União Europeia e Nova Zelândia. “Tem que ter uma política mais protecionista para os nossos produtos. A gente importa leite do Uruguai e do Paraguai, e isso prejudica a cadeia”, afirma o pecuarista César Oliveira Junior.
O volume de exportações brasileiros, por sua vez, é muito pequeno: não chega a 1% da produção nacional. Nogueira diz que não é fácil conquistar espaço no mercado internacional, principalmente no caso de lácteos. “É um mercado pequeno. De todo o leite produzido no mundo, apenas 5% ou 6% é comercializado entre os países”, conta.
Recentemente, a China, um dos países que mais consomem leite no mundo, decidiu abrir mercado para lácteos brasileiros. Apesar de ser uma boa notícia, os produtores sabem que precisam investir em genética, nutrição e infraestrutura para ter qualidade e preço competitivo.
“A agricultura deu um salto enorme nos últimos anos e a pecuária de corte vem dando esse salto também, mas o leite ainda está engatinhando”, diz o pecuarista Caio Rivetti.