Preço estável, estoques altos, queda no consumo, elevação dos custos de produção, são alguns dos elementos que compõem essa realidade.“Muitos produtores estão apreensivos, temerosos, ansiosos, inseguros com o futuro da atividade no curto e médio prazo”
Foto Arquivo BD
As perdas do setor agrícola, neste ano, são significativas e atingem toda estrutura produtiva nos mais variados segmentos. Inicialmente, e de maneira muito severa, a estiagem comprometeu as principais culturas de verão, soja e milho, causando danos aos agricultores e a economia regional que ultrapassam meio bilhão de reais na região. Além disso, se associa a essa realidade uma economia estagnada e, mais recentemente, todos os efeitos do isolamento social em função da pandemia do coronavírus (covid-19).
Perdas
O produtor de leite, Jonatan Costa, da Linha Coxilha Seca, interior do município de Marcelino Ramos, afirma que em função da estiagem houve perdas na qualidade da pastagem interferindo na produção e, consequentemente, na qualidade do leite. “A gente está calculando uma perda de pelo menos 30% na produção e se contar a qualidade chega a dar 50% de quebra na produtividade”, afirma.
Setor leiteiro
Segundo o engenheiro agrônomo e doutor em Agroecossistemas da Emater/RS-Ascar, Vilmar Fruscalso, a região possui 4.553 produtores comerciais de leite com um rebanho de 77.413 vacas e uma produção anual de 310.908.926 litros por ano.
Período
Segundo Fruscalso, o outono é o período mais difícil para os produtores de leite do Rio Grande do Sul em virtude do clima e da mudança da base forrageira. “Passamos das espécies de verão para as espécies de inverno. No outono, as de verão estão em final de ciclo, e as de inverno ainda não se estabeleceram. Para compensar a falta de pasto, os agricultores precisam utilizar alimentos conservados (fenos e silagens). Estes alimentos são mais caros, elevando o custo de produção do leite. Além disso, o preço do farelo de soja e do milho estão altos, o que encarece o preço das rações caseiras ou comerciais”, explica.
Preço
O engenheiro agrônomo explica que o preço não teve o tradicional aumento esperado para o período. “Manteve-se praticamente estável. Hoje, está em R$ 1,40, em média. Há uma variação grande em função da quantidade e da qualidade do leite. Parece que o aumento de preço verificado nos mercados não foi acompanhado pelo aumento de preço ao produtor. Por quê? Talvez por oportunismo, por especulação, ou da indústria ou dos mercadistas ou de ambos. Talvez pela queda no consumo, especialmente de derivados do leite, devido à queda da renda dos trabalhadores urbanos e do fechamento de bares, restaurantes, pizzarias”, observa.
Estoques
Fruscalso comenta que os estoques de leite estão altos devido à queda no consumo e ao próprio aumento de preço ao consumidor.
Tendência
Conforme ele, a tendência no período de inverno/primavera é aumentar muito a produção de leite no estado. “O preço cai naturalmente. Este ano, em função da pandemia, o consumo esperado é menor. Com isso, existe a real possibilidade dos preços, neste período, ficarem abaixo em relação ao mesmo período do ano passado”, afirma.
Preocupação
“Muitos produtores estão apreensivos, temerosos, ansiosos, inseguros com o futuro da atividade no curto e médio prazo. Temem a descontinuidade no fornecimento dos insumos e até da coleta do leite. Isso se a crise econômica se agravar. Também temem o oportunismo de vendedores de insumos e das próprias empresas compradoras de leite. Sabe como é: na balbúrdia, perde-se a referência, o que facilita os especuladores. Tudo vai depender dos rumos da economia nos próximos meses”, comenta.
Até o momento
Na avaliação de Fruscalso, a situação até o momento para os bovinocultores de leite é aumento dos custos de produção devido à estiagem e, também, em função da elevação no preço da soja e do milho. “Perda de potencial de receita devido à queda no consumo de leite, em função da pandemia. Gasto antecipado dos estoques de silagem, o que poderá ser um problema ali adiante”, analisa.
É possível falar em perdas econômicas, neste momento?
“Talvez. Se pensarmos nos custos de produção, sim. Isso em função da estiagem. E, se pensarmos que era esperado um aumento de preço, que não se concretizou, para o período, sim. Se pensarmos em redução de preço, não”, avalia.