A ideia de que “tudo o que é natural é melhor” vem ganhando força nas redes sociais, impulsionada por influenciadores e defensores de uma alimentação mais “pura”. Nesse contexto, o consumo de leite cru aquele que sai direto da vaca, sem qualquer tipo de aquecimento tem sido promovido como um alimento “vivo” e “mais nutritivo”. Mas o que dizem os especialistas e as evidências científicas sobre esse hábito?
O que é o leite cru e por que preocupa
O leite cru não passa por nenhum processo térmico antes de ser consumido. Embora pareça inofensivo, ele pode conter bactérias perigosas, como Brucella, Listeria, Salmonella e E. coli. Esses microrganismos são responsáveis por doenças graves, podendo causar febre, abortos e até sequelas permanentes.
Por isso, desde 1969, o Ministério da Agricultura proíbe a venda de leite cru diretamente ao consumidor no Brasil. A medida visa proteger a saúde pública e garantir que o produto chegue com segurança à mesa das famílias.
Pasteurização e UHT: segurança sem perder valor
Para eliminar os riscos, processos como a pasteurização (aquecimento em torno de 72 °C seguido de resfriamento rápido) e o tratamento UHT (temperaturas ultra-altas por poucos segundos) se tornaram padrão na indústria.
Esses métodos eliminam os patógenos sem comprometer significativamente o valor nutricional do leite, permitindo que o alimento continue sendo uma excelente fonte de cálcio, proteínas e vitaminas. A tecnologia garante qualidade, durabilidade e segurança pilares essenciais para o consumo diário.
O mito da “inflamação” causada pelo leite
Um dos argumentos mais populares nas redes é que o leite seria “inflamatório”. No entanto, diversos estudos mostram que, em pessoas saudáveis, o consumo de leite e derivados não aumenta marcadores inflamatórios. Em alguns casos, há até indícios de efeito protetor contra doenças cardiovasculares e melhora na composição corporal.
A confusão é comum: quem sente desconforto após consumir leite tende a associar o sintoma à inflamação. Mas, na maioria das vezes, trata-se de intolerância à lactose, que é a dificuldade de digerir o açúcar natural do leite. Já a alergia às proteínas do leite é uma condição muito mais rara e de natureza imunológica.
E o famoso leite A2?
Outro ponto que chama atenção é o leite A2, proveniente de vacas que produzem uma versão diferente da proteína beta-caseína. Esse tipo de leite pode ser mais fácil de digerir para algumas pessoas sensíveis, mas não contém menos lactose portanto, não é indicado para intolerantes.
Leite seguro continua essencial
Independentemente da forma, o leite continua sendo um dos alimentos mais completos da dieta humana. É fonte de proteínas de alta qualidade, cálcio, fósforo, potássio e vitaminas do complexo B. Por isso, é especialmente importante em fases de crescimento, gestação, menopausa e envelhecimento.
Além disso, o consumo regular de leite está ligado à manutenção da massa muscular e à saúde óssea, dois pilares fundamentais do envelhecimento saudável.
Nos últimos anos, a redução no consumo de leite em certos grupos da população brasileira tem preocupado os especialistas. A ausência desse alimento pode favorecer deficiências nutricionais, especialmente de cálcio. Reintroduzi-lo de maneira segura é uma forma simples e eficaz de cuidar da saúde.
Ciência, segurança e consciência alimentar
A crença de que o leite cru é mais “natural” ou “saudável” ignora décadas de evidências científicas e de vigilância sanitária. A pasteurização não é inimiga da nutrição, mas sim uma garantia de segurança que permite que o leite continue sendo um alimento acessível e confiável.
Defender o leite cru é também minimizar o risco de doenças evitáveis, algo que vai contra a lógica de uma alimentação equilibrada e baseada em evidências.
Um equilíbrio entre tradição e responsabilidade
O leite tem um papel simbólico forte: é um alimento ancestral, presente em culturas de todo o mundo. Mas a forma como é produzido e consumido precisa acompanhar a evolução da ciência. A verdadeira “vantagem natural” está em escolher o que é seguro e sustentável, e não em resgatar práticas que colocam a saúde em risco.
Adaptado para eDairyNews, com informações de Veja Saúde