A dinâmica das principais economias mundiais tem indicado bom crescimento econômico, tanto para 2021 quanto para 2022. Os pacotes de estímulos econômicos disponibilizados ajudaram a suportar esse crescimento, mas também provocaram pressão sobre diversos preços, especialmente das commodities. O petróleo é um bom exemplo desse aumento de preços, passando de US$40/barril em julho/2020 para US$83/barril no início de novembro/2021. No mercado de leite também houve valorização nos preços, com o último leilão do Global Dairy Trade (GDT), de 02 de novembro, indicando leite em pó integral a US$3.921/tonelada e manteiga a US$5.350/tonelada. O baixo crescimento da oferta nos principais exportadores e uma boa demanda por lácteos tem sustentado os preços internacionais.
No mercado brasileiro a situação está mais complicada. O maior volume de leite oriundo do período de safra e uma demanda interna fraca acabou colocando pressão baixista nas cotações do mercado atacadista, do mercado Spot e ao produtor.
O leite Spot em Minas Gerais recuou de R$2,58/litro na primeira quinzena de setembro para R$2,00/litro no início de outubro. O leite UHT registrou queda também acentuada, passando de R$3,60/litro para cerca de R$3,10/litro no mesmo período. Queijo muçarela e leite em pó, em linha com os demais produtos, registraram recuo nas cotações no mercado atacadista. Tais quedas acabaram sendo parcialmente repassadas para o produtor. Após altas consecutivas iniciadas em março, com o período de entressafra, o cenário dos últimos dois meses foi de recuo. Em outubro o preço médio brasileiro do leite ao produtor foi de R$2,33/litro, um recuo de 5 centavos em relação a setembro. Para novembro, referente ao leite entregue em outubro, a queda foi mais acentuada, mas os dados ainda não foram publicados pelo Cepea.
É um momento particularmente desafiador, já que que as margens estão reduzidas em toda a cadeia produtiva. Tanto produtor quanto laticínio tem observado piora na rentabilidade, em função da alta acentuada nos custos de produção e redução nos preços recebidos.
No caso do produtor, o custo com alimento concentrado segue mais alto e tem sido observado incrementos significativos nos preços dos defensivos e fertilizantes, encarecendo a adubação das pastagens e a produção de silagem.
É importante lembrar que o Brasil importa cerca de 70% dos fertilizantes utilizados e esse mercado é bastante concentrado, com China, Rússia, Canadá, Estados Unidos e Marrocos dominando boa parte da produção e comercialização. Alguns desses países têm colocado restrições às exportações, o que provocou fortes altas internacionais. Somado a isso, a elevação no frete internacional e a desvalorização do real frente ao dólar acabam encarecendo ainda mais os fertilizantes importados para o mercado brasileiro. O fato é que o cenário de custos mais elevados tende a persistir, afetando a rentabilidade da pecuária de leite nos próximos meses. Esse aperto de margens é uma situação já vivenciada em outros momentos e acaba refletindo em ajuste negativo da oferta e posterior repique de preços do leite.
O ambiente macroeconômico brasileiro segue complicado. As previsões de crescimento econômico pioraram, bem como o cenário de inflação e juros. A inflação acumulada em 12 meses, medida pelo IPCA, atingiu 10,67% em outubro. Já no IGP-M, essa alta atinge 21,73%. Com isso, a expectativa é de taxa de juros Selic já chegando a 11% em 2022. Essas altas acumuladas de preços corroem o poder de compra das famílias e prejudicam o consumo em geral e de lácteos em particular. O mercado de trabalho tem mostrado recuperação ao longo do último ano, mas ainda não refletiu em maior consumo de lácteos.