No Chile, onde a população consome mais leite longa-vida, semi-desnatado e sem lactose, o Not Milk é mais adocicado e aguado. No Brasil, onde predomina o leite longa-vida integral, foi criada uma fórmula específica com mais gordura vegetal, para que a bebida tivesse uma consistência mais pesada. Também serão vendidas no país as versões semi-desnatadas e achocolatadas do produto.
“A partir do leite, nós podemos produzir todos os tipos de derivados, como iogurtes, queijos”, conta Silva. Segundo ele, o objetivo da startup é entregar produtos que permitam que as pessoas “mudem sem mudar”, entregando um sabor que remeta à memória afetiva, mas com uma cadeia produtiva sustentável.
Not IceCream: sorvete feito à base de abacaxi, ervilha e repolho tenta simular a textura do produto feito com leite animal
Not IceCream: sorvete feito à base de abacaxi, ervilha e repolho tenta simular a textura do produto feito com leite animal (NotCompany/Divulgação)
O “não-sorvete”
No caso do sorvete, o presidente garante que a textura do produto é muito próxima do tradicional. “Um sorbet, feito com base de água, é diferente de um sorvete tradicional. Nosso produto não, a ideia é que o consumidor imagine que está tomando um sorvete à base de leite”, diz.
O Not IceCream também foi adaptado ao paladar brasileiro. O sabor de chocolate, que é o primeiro lançado no país, precisou ser mais doce e com forte sabor de cacau para atender às demandas do público local. A versão chilena, ainda que tenha bastante cacau também, é mais amarga.
Em breve, os sabores baunilha, cookies & cream e morango serão oferecidos no Brasil.
Fabricação terceirizada
A fabricação da maionese, do sorvete e do leite da NotCo são terceirizadas no Brasil. Silva conta que a startup adotou um modelo semelhante ao da Coca-Cola, em que a fórmula é protegida e as indústrias se responsabilizam pela mistura e envase dos produtos. No futuro próximo, a empresa considera abrir uma fábrica própria no país.
Mas para isso, o presidente aponta que é preciso aumentar a distribuição dos três produtos em solo nacional, o que deverá ser o grande desafio de 2020. “Temos recebido muito feedback positivo com a maionese, mas precisamos que mais gente prove”, diz Silva.
Além da questão da distribuição, ele cita a alta tributação como um desafio de mercado para a NotCo. “A Not Mayo chegou com um preço premium devido aos altos impostos sobre produtos à base de plantas no Brasil”, disse o executivo. Para ele, é preciso que os regulamentos descrevam os novos produtos que estão surgindo no mercado para que os preços entre as versões veganas e tradicionais não sejam tão distintos.
A história da não-companhia
A The Not Company foi criada há quatro anos pelo economista Matías Muchnick, pelo cientista da computação Karim Pichara e pelo especialista em biotecnologia Pablo Zamora. A startup possui um algoritmo por trás de seus alimentos à base de plantas. Ao usar as informações corretas, a inteligência artificial replica sabores, texturas e consistências vistos nos produtos de origem animal. Há muito material para ser usado: o mundo possui 300 mil espécies de plantas comestíveis, mas só consumimos 200 delas.
A NotCo começou com um investimento de 250 mil dólares dos três fundadores. No final de 2017, obteve um investimento de 3 milhões de dólares do fundo KaszeK Ventures, criado pelos fundadores do marketplace Mercado Livre. A startup obteve um investimento de 30 milhões de dólares de nomes como Jeff Bezos no início de março deste ano.
Seu capital foi usado para o desenvolvimento de produtos e para a expansão da startup chilena pela América Latina e pelos Estados Unidos.