A Embrapa Gado de Leite levou ao ar um debate sobre o papel da sanidade animal na fazenda do futuro. Parte do movimento Ideas for Milk,
23 March, 2018, Sanliurfa, Turkey - Cows at the dairy farm in Saniliurfa. FAO in Turkey is helping job seekers training both Syrian refugees and Turkish workers with the skills that are needed, and helping to get them into highly-skilled jobs in agriculture. Since 2017 FAO has been providing theoretical, practical and on-the-job training to Syrian refugees and unemployed Turkish citizens. Trainees learn about the different stages of the supply chain, from planting, irrigating and harvesting, to processing, packaging and ensuring hygienic practices.

A Embrapa Gado de Leite levou ao ar um debate sobre o papel da sanidade animal na fazenda do futuro. Parte do movimento Ideas for Milk, a live foi mediada por Humberto Brandão – pesquisador da entidade – e reuniu três grandes nomes do setor leiteiro nacional: Enrico Ortolani (professor da Universidade de São Paulo), Sérgio Soriano (gerente da Fazenda Colorado, maior produtora de leite do Brasil) e Nivaldo Granado (diretor da empresa Boehringer Ingelheim).

Abrindo o debate, o professor Ortolni lembrou que – na década de 70 – o Brasil tinha uma produção de leite “vergonhosa”, sendo um dos maiores importadores do mundo. Segundo ele, houve uma grande revolução na pecuária leiteira nacional, nos últimos, com as margens de lucro diminuindo 15%. Em 14 anos, saíram do setor 190 mil fazendas e o número de vacas ordenhadas diminuiu 1,3 milhão de cabeças. Esses números foram compensados por um aumento de produtividade da ordem de 47% em uma década e meia.

Para ele, “há no país três tipos de fazendas: a tradicional, que produz 4-6 litros/vaca/dia; as fazendas que eram tradicionais e por meio de programas como o Balde Cheio se recuperaram e elevaram a produção para uma média de 12,4 litros/vaca/dia e as ‘Top 200’ com média de produção de 26 litros/vaca/dia”. Desta forma, percebe-se o quanto o setor ainda passará por mudanças e terá que se adaptar a um mundo mais competitivo. Ortolani acredita que o grande desafio da fazenda do futuro – em termos de sanidade – está na prevenção, reduzindo custos com medicamentos e elevando a produtividade.

Com base na sua experiência, Soriano – então – citou a melhoria reprodutiva dos rebanhos como o melhor aliado do produtor. “É preciso trabalhar fortemente para melhorar os índices de reprodução. A Fazenda Colorado melhorou de 10% para 22% a taxa de prenhez usando as técnicas simples.” Ele afirmou, ainda, que é preciso se certificar de que a propriedade está livre de brucelose e tuberculose, além de reduzir a mortalidade ao parto, por meio do treinamento da mão-de-obra. “Na Fazenda Colorado, reduzimos a mortalidade dos bezerros ao parto de 9% para menos de 3%, com treinamento das equipes”.

Este ano, a Colorado atingiu a produção de 96 mil litros por dia e vendeu mais de 500 novilhas prenhas para parir. “Tudo isso numa fazenda de duas mil vacas”, comemorou Soriano, exemplificando o que se pode obter com ações feitas cotidianamente. E deixou o seguinte recado: “Faça o simples, mas faça todo o dia igual. Não se deve mudar a toda hora, pois mudanças constantes fazem com que você não saiba para onde está indo.”

Granado, por sua vez, concordou com os demais especialistas e disse que há um grande crescimento do mercado farmacêutico com novas tecnologias voltadas para a saúde e reprodução animal. Além disso, ele previu uma redução do número de vacas e de propriedades no futuro, apontando para uma grande pressão por competitividade. Segundo ele, muitas tecnologias já são uma imposição dessa competitividade. “Alguns anos atrás, o debate estava centrado no uso racional dos insumos farmacêuticos; hoje, a vacina é uma rotina. Utilizar as tecnologias que estão surgindo será outro desafio para os próximos anos.”

Investir na pecuária de diagnóstico foi outra prescrição de Granado. “Lançar uma nova molécula pode custar cerca de um bilhão de dólares: o alto custo pode inviabilizar o investimento. Estamos trabalhando com a mesma molécula há vários anos e não conseguiremos fugir da pecuária de diagnóstico e da pecuária de prevenção.”

A pecuária digital foi outro ponto abordado por Granado, que antecipou: “O que mais vai crescer na pecuária é o uso de dados que gerem valor para a cadeia produtiva (…) o que fará com que produtores abandonem a atividade é a falta de informação”.

Biosseguridade

Para Soriano, o grande salto das fazendas do futuro não será o antibiótico. “Precisamos reduzir o uso de antibióticos e apostar na medicina preventiva e na biosseguridade, gastando menos com sanidade a partir da prevenção como é o exemplo da Fazenda Colorado”. Granado emendou afirmando que a pandemia de Covid-19 vai dar grande impulso à biosseguridade nas fazendas. “A vida e o mundo mudaram e a pecuária leiteira no Brasil vai seguir por esses novos caminhos; a biosseguridade é um guarda-chuva completo”.

Ortolani citou a grande pressão global por sustentabilidade, afirmando que o mercado internacional usará cada vez mais os carimbos positivos e negativos num momento em que o Brasil ainda sofre com doenças antigas. “Há tecnologias presentes para melhorar o controle de brucelose e tuberculose nos rebanhos”. Pensar o futuro também significa fazer um acerto com o passado, resolvendo problemas antigos.

Quanto à biosseguridade, Soriano completou, na mesma linha das questões simples de serem resolvidas: “Se o produtor não tiver cuidado com o que entra na propriedade, não terá condições de garantir biosseguridade para o consumidor”. Ele ainda introduziu outra questão à sanidade do futuro: o bem-estar animal, que interfere significativamente na imunidade do rebanho.

A partir de segunda-feira, 18 de novembro, agricultores se mobilizam contra o acordo de livre-comércio entre a Europa e cinco países da América Latina, rejeitado pela França. François-Xavier Huard, CEO da Federação Nacional da Indústria de Laticínios (FNIL), explica a Capital as razões pelas quais o projeto enfrenta obstáculos.

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