ESPMEXENGBRAIND
12 maio 2025
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12 maio 2025
Dona da La Serenísima enfrenta baixa rentabilidade, mas aposta em exportações e em um cenário político mais favorável.
Mastellone
A DONA DA LA SERENÍSIMA COMEÇOU 2025 COM BAIXA RENTABILIDADE, MAS ESPERA MELHORAS COM MAIORES EXPORTAÇÕES E MEDIDAS DO GOVERNO

No final de abril passado, a Arcor surpreendeu o mercado alimentício argentino ao apresentar uma oferta para assumir o controle acionário da Mastellone. O grupo da família Pagani fez essa proposta em parceria com a multinacional francesa Danone, no âmbito de uma estratégia para assumir o controle acionário da principal produtora de laticínios local, iniciada em 2015.

Naquele ano, por meio da Bagley Latinoamérica, na qual ambos os conglomerados possuem cerca de metade do capital cada um, ingressaram na Mastellone adquirindo 25% das ações da empresa em troca de US$ 25 milhões.

Nos anos seguintes, essa sociedade conjunta foi aumentando sua participação na Arcor até atingir 49% do capital da fabricante do Bon o Bon. Com essa nova operação anunciada no mês passado, buscam ficar com o restante do capital que hoje está nas mãos do fundo Dallpoint Investment e dos herdeiros de Pascual Mastellone.

No entanto, em um primeiro momento, os acionistas majoritários da dona da La Serenísima recusaram ceder suas participações para poder negociar um preço melhor, conforme admitiu na época Carlos Agote, presidente da empresa de laticínios local e fundador da Dallpoint.

Negociações aceleradas

Neste momento, vendedores e compradores buscam alternativas para avançar com a operação antes do fim do prazo de 30 dias estabelecido pelo contrato inicial, que se encerra no próximo dia 28 de maio.

A partir desses dados, Arcor e Danone já começaram também a analisar a estrutura financeira e comercial da empresa de laticínios levando em conta os resultados do último balanço geral referente ao primeiro trimestre de 2025, no qual foi registrado um aumento de 6% no volume de vendas no mercado interno em comparação com o mesmo período de 2024. Trata-se de um resultado que, para os executivos da empresa, foi comparativamente superior aos indicadores do mercado de consumo massivo, “demonstrando mais uma vez a força de nossos produtos e marcas e o acerto das inúmeras ações comerciais”.

Sinais positivos

Pelo menos é isso que se destaca em um relatório elaborado pelo conselho de administração da Mastellone, publicado no site da Comissão Nacional de Valores (CNV), e no qual também se reconhece uma queda nas exportações “em função de estoques reduzidos e da baixa rentabilidade causada pela taxa de câmbio do peso frente ao dólar, que não acompanhou o aumento dos custos de produção, apesar da manutenção dos preços internacionais”.

De todo modo, para os atuais acionistas majoritários da companhia, os resultados alcançados entre janeiro e março apresentam sinais positivos e contribuirão para enfrentar os desafios do restante do ano.

“Nesse sentido, temos a obrigação de redobrar nossos esforços para tornar mais eficientes os serviços e a estrutura de custos, especialmente os relacionados à logística de distribuição, dado o peso que ela representa em nossos resultados”, aponta o relatório.

Essas palavras parecem buscar justificar a necessidade da Mastellone de gerar melhores negócios, levando em consideração que o balanço do primeiro trimestre mostra um lucro integral de $2.512 milhões, muito distante dos $45.572 milhões registrados no mesmo período do ano passado.

Ainda assim, a empresa considera que o início de 2025 foi positivo em termos de vendas no mercado local e que isso estabelece uma base importante para manter esse caminho até dezembro. Além disso, os executivos da Mastellone consideram “fundamental” o papel das exportações, dado que o mercado internacional apresenta uma demanda consistente.

O plano da empresa para aumentar suas vendas externas passa por manter a competitividade, mas também por um apelo ao governo de Javier Milei para que seja possível reduzir os custos e contar com uma taxa de câmbio que favoreça adequadamente as exportações do país.

“Acreditamos que as recentes medidas tomadas pelo governo nacional são, sem dúvida, um bom sinal nesse sentido”, destaca a empresa de laticínios em seu comunicado enviado à CNV.

Danone com vantagem

Atualmente, a Danone já opera várias das marcas da Mastellone, que foi adquirindo ao longo dos anos, como em 2013, quando pagou US$ 22 milhões pela divisão de leite infantil da companhia argentina, que era comercializada sob a marca Crecer. Mas já em 1996 havia fechado uma joint venture com o gigante francês para a produção, comercialização e distribuição de iogurtes e sobremesas da La Serenísima.

Da mesma forma, controla desde a década de 1990 o processo logístico da Mastellone, de modo que a sinergia entre as duas empresas tem longa data. Esses antecedentes dariam vantagem em relação aos seus sócios da Arcor para desembarcar com gestão qualificada para operar a nova empresa de laticínios que surgirá da fusão de seus ativos locais com os da Mastellone.

Mais do que isso, há algum tempo vêm trabalhando na formação de uma nova companhia unificada, conhecida internamente como “La Serenísima Unida”. O objetivo é que ambas as empresas tenham uma participação de 50% nessa nova produtora de laticínios para evitar que o controle majoritário fique de um único lado.

Além disso, pretende-se concentrar todas as operações da marca no país sob uma única estrutura, dentro de uma operação impulsionada quase totalmente pela Danone, que vem enfrentando um cenário complexo na Argentina devido à queda do consumo, pressão de custos e dificuldades para escalar seu negócio local de produtos refrigerados.

De fato, em 2020 o grupo esteve prestes a abandonar o país ao colocar em revisão sua estratégia e operações locais, incluindo um plano de desligamentos voluntários e a avaliação de seus ativos. Naquele momento, o objetivo do grupo europeu era alinhar seu portfólio com suas metas globais, especialmente após enfrentar desafios no mercado local, como a queda do consumo e o aumento dos custos.

Ganhar exportações

Nesse contexto, a possível entrada na Mastellone permitiria à Danone sair do modelo de nicho e ganhar peso real no mercado de laticínios local, onde a dona da La Serenísima é uma das principais players. A partir desse cenário, o mercado considera que o gigante francês do setor lácteo quer desempenhar um papel central na fusão operacional entre seus ativos, os da Arcor e os da Mastellone.

A eventual unificação também busca aumentar a eficiência, desenvolver uma estratégia de marca mais integrada e reforçar o posicionamento frente a um contexto “desafiador” para a indústria de laticínios argentina. No plano internacional, o processo resultaria em uma forte expansão, considerando que atualmente a companhia concentra 90% de sua produção para abastecer o mercado interno. A ideia é internacionalizar a marca La Serenísima, considerada seu principal ativo em um ambiente de forte concorrência, tanto no mercado local quanto global de laticínios.

Como etapa prévia, no final do ano passado, o conselho de administração da Mastellone autorizou um endividamento financeiro de até US$ 30 milhões, condicionado a uma série de requisitos, como obter US$ 10 milhões por meio de operações de pré-financiamento de exportações e/ou acordos de cheque especial com os bancos com os quais a Mastellone já opera, com vencimento até 30 de junho de 2025 e sem garantias.

A segunda condição é avaliar a emissão e colocação por oferta pública de Obrigações Negociáveis (ON) por um valor de até US$ 20 milhões, também com vencimento até 30 de junho. A terceira possibilidade é aprovar que, caso por razões de mercado de capitais a emissão das ON não seja viável de forma parcial ou total, a Mastellone possa recorrer a empréstimos bancários em substituição, com vencimento até 30 de junho de 2025, também sem garantias.

O dinheiro seria utilizado para enfrentar os futuros planos de investimento e expansão que a empresa de laticínios tem em sua agenda, com foco principalmente no mercado externo, ou seja, no aumento da rentabilidade das operações de comércio exterior. Isso demonstra que, diante da recessão no mercado doméstico, a Mastellone passou a concentrar seus esforços no crescimento “porta afora”, liderando as exportações de leite em pó, além de ter forte presença em mercados regionais como Brasil, Paraguai, Bolívia, Peru e Uruguai, e também em outros mercados externos como Argélia e China.

Com essa estratégia, conseguiu oferecer ao mercado um nível de qualidade de crédito acima da média em comparação com outras empresas locais do setor, demonstrando também maior capacidade de cumprir suas obrigações com dívidas sênior não garantidas de curto prazo.

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