A silagem “é o produto formado quando forragens ou outro material com teor de umidade suficientemente alto, suscetível à deterioração por microrganismos aeróbicos, é armazenado anaerobicamente” (Woolford, M.K. – The silage fermentation, 1984).
A silagem “é produzida pela ensilagem, ou seja, a deposição do material proveniente da cultura agrícola dentro de um reservatório ou de uma estrutura chamada silo” (Wilkinson, J.M.; Bolsen, K.K.; Lin, C.J. – History of Silage in Silage Science and Technology, 2003).
O que é ensilagem?
A ensilagem é uma técnica de conservação ou preservação de alimentos para uso na alimentação de animais, com grande aplicação em dietas de ruminantes.
O produto deste processo é a silagem e os alimentos conservados podem ser forragens, plantas inteiras ou partes de plantas, grãos, coprodutos, subprodutos ou resíduos da agroindústria que possuem potencial de inclusão na dieta destes animais.
As silagens podem ser utilizadas em diferentes estratégias alimentares para bovinos, de acordo com o interesse do sistema produtivo, seja para suprir deficiências alimentares em períodos de escassez de forragem a pasto (como períodos de seja) ou para compor dietas de animais em sistemas de confinamento independentemente do período do ano.
Como exemplos de maior utilização das silagens temos: seu uso como alimento volumoso suplementar ao pasto para os animais nos períodos de seca ou escassez, silagens como ingrediente volumoso/fibroso de dieta para vacas leiteiras (Free stall ou Compost barn) ou gado de corte em sistemas de recria ou terminação em confinamento.
O uso estratégico de silagens resulta em maior estabilidade da produção na fazenda e, principalmente, pode resultar em intensificação da produção.
O Brasil vem experimentando esta intensificação nos últimos anos (Figura 1), fato evidenciado pelo incremento na produtividade da pecuária leiteira que alcançou no ano de 2021 o valor de 2.214,2 L/vaca/ano (IBGE, 2021).
Dez anos antes a produtividade era de 1.381,7 L/vaca/ano e 20 anos antes era de 1.127,2 L/vaca/ano, praticamente metade da produtividade atual. Isso é reflexo do aumento na produção anual mesmo com a redução no número de vacas ordenhadas, e as estratégias alimentares são a base para esta importante evolução.
Figura 1. Evolução da produtividade de leite no Brasil, comparativo entre número de vacas ordenhadas e produção de leite. Adaptado a partir das informações da Pesquisa Pecuária Municipal (IBGE, 2021).
Qual é o principal objetivo na ensilagem?
O foco deve ser “melhorar” o alimento ou “preservar” o alimento? Por se tratar de uma técnica de conservação, o principal objetivo da ensilagem é a preservação do valor nutricional do material ensilado durante o período de armazenamento, para que depois de ensilado ele tenha o máximo de semelhança ao material original.
Em outras palavras: o objetivo principal é que durante o período de estocagem o alimento conservado perca o mínimo possível!
Existem perdas inerentes ao processo que são inevitáveis, e o manejo deve buscar mantê-las mais reduzidas possível! Mas, existem perdas que podem ser previstas e evitadas, tomando-se atenção ao adequado planejamento e manejo em todas as etapas do processo (Figura 2).
Figura 2. Perdas evitáveis e inevitáveis durante a ensilagem. Adaptado de Lanes et al. (2006).
Após o acondicionamento do material no silo, provavelmente haverá oxigênio remanescente após a sua vedação, isso resulta em respiração (fase aeróbia) no início do processo e pode resultar em perdas de matéria seca (MS). Há também algumas perdas provenientes de produtos de fermentações por microrganismos dentro do silo, inerentes ao processo.
Mas, é importante atentarmos às perdas que podem ser evitadas, como àquelas causadas por fermentações secundárias (indesejáveis), perdas por efluentes, perdas por deterioração aeróbia (respiração) dentro do silo e após a abertura do silo. Estas perdas podem ser previstas e evitadas ou minimizadas quando compreendemos os princípios da técnica e intervimos adequadamente.
Há também situações específicas de ensilagem nas quais o alimento produzido pode ter seu valor nutricional incrementado durante o período de estocagem, como acontece com silagens de grãos (úmidos ou reidratados/reconstituídos) ou com elevada participação de grãos ricos em amido (milho e sorgo) que tem a digestibilidade do amido incrementada em função do período de armazenamento.
Como ocorre a conservação do alimento na ensilagem?
O princípio ou mecanismo de conservação é baseado em fermentações, principalmente a fermentação lática. O ambiente para conservação (interior do silo) deve ser anaeróbio (ausência de oxigênio) e o material ensilado deve estar com umidade adequada, ter baixa capacidade de tamponamento (resistência a alterações no pH) e possuir carboidratos fermentescíveis, que servirão de substrato para o desenvolvimento de bactérias produtoras de ácidos orgânicos (principalmente as BAL – bactérias produtoras de ácido lático).
O conjunto destes processos tornará o ambiente ácido (pH entre 3,5 e 4,2) e isto fará com que os microrganismos que poderiam deteriorar o material ensilado sejam inativados ou tenham sua atividade paralisada, tornando o ambiente estável e com possibilidade de preservação do alimento armazenado (Figura 3).
Figura 3. Alterações no silo que promovem a preservação do material ensilado. Adaptado de Collins & Owens (2003).
O entendimento dos princípios da técnica de ensilagem e seus impactos sobre a qualidade da conservação são essenciais para quem trabalha ou deseja atuar na produção de silagens.
Autores
Rafael Henrique Pereira dos Reis – Instituto Federal de Rondônia Campus Colorado do Oeste – Pós-Doutorando em Ciência Animal e Pastagens – ESALQ/USP
Greiciele de Morais – Pós-Doutorando em Ciência Animal e Pastagens – ESALQ/USP
