Deise Froelich / Emater-RS/Divulgação
No Rio Grande do Sul, clima já consolidou perdas na produção de milho, criando cenário de custos em alta e busca de alternativasDeise Froelich / Emater-RS/Divulgação

Com a variável pandemia ainda na equação, projetar o ano de 2021 é tarefa de alto risco. Na temporada de balanços e estimativas, aberta ontem pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a evolução do quadro da covid-19 no mundo aparece como fator que pode desequilibrar. A exemplo do que se viu ao longo de 2020, pode tirar do eixo a lógica de produção e consumo.

— Temos um desafio sanitário que não foi superado ainda. Em que pese estar melhor encaminhado, há muitas dúvidas de como se acomodará — ponderou Bruno Lucchi, superintendente-técnico da entidade.

E se a tendência é de acomodação entre oferta e demanda, sem grandes acelerações de preço, um ponto aparece no radar de preocupação. É o milho, insumo essencial para as atividades de pecuária de corte e de leite que, neste ano, acumula valorização expressiva. Na comparação com igual mês de 2019, o preço da saca em novembro era 81,5% maior, de acordo com dados do Cepea/Esalq/USP.

As cotações dos produtos (boi gordo, terneiro e leite) também estão em alta, mas ficam abaixo do aumento do custo do grão, nem sempre trazendo a melhor relação de troca.

– Câmbio e milho preocupam, principalmente nas atividades que não são grandes exportadoras, como pecuária de leite, avicultura de postura, frutas e hortaliças. Porque absorvem a alta do dólar, porém não têm o equilíbrio das vendas internacionais como em outras cadeias – pontua Lucchi.

Na produção, a influência do La Niña, pode trazer impactos na segunda safra do grão no Brasil – que é maior, em volume, do que a primeira. E na de verão, há estragos consolidados, como se vê no Estado. Nada que, por ora, comprometa a perspectiva de nova safra nacional recorde.

Por outro lado, a demanda da China por milho deverá crescer de quatro a cinco vezes em 2021, em razão da profissionalização adotada para a recomposição do rebanho suíno do pais asiático. O Brasil não poderá exportar diretamente, mas deve ocupar espaço deixado pelos outros fornecedores globais do grão.

– A demanda ficará bem ajustada à oferta que iremos ter, que pode ser restrita em razão dos problemas climáticos – reforça o superintendente.