A oferta de leite global segue avançando em um ritmo superior ao que a demanda consegue absorver, criando um cenário de incertezas para produtores em 2025 e com projeções desafiadoras para 2026. O diagnóstico foi feito por Susie Stannard, analista-líder de lácteos do Agricultural and Horticultural Development Board (AHDB), órgão britânico de análise do setor agropecuário. Segundo ela, os sinais de desequilíbrio entre produção e consumo vêm se intensificando nos principais mercados exportadores.
Stannard afirma que os estoques de produtos lácteos continuam crescendo ao redor do mundo, o que indica que a indústria enfrenta uma combinação delicada: maior produção, consumo estável e cadeias globais que ainda se ajustam à volatilidade pós-pandemia e aos efeitos climáticos. De acordo com a especialista, mesmo que a produção seja moderada ao longo dos próximos meses, os preços internacionais devem levar tempo para reagir. “Os estoques elevados significam que, mesmo depois de um ajuste produtivo, a recuperação das commodities será lenta”, observou.
A leitura ficou evidente no comportamento mais recente do Global Dairy Trade (GDT), que registrou sua sexta queda consecutiva na semana passada. O cheddar sofreu a maior desvalorização do evento, recuando 6,6%, enquanto a manteiga teve queda de 4,3%. Para Stannard, esses movimentos reforçam o cenário de um mercado mais pressionado, especialmente quando a produção permanece em trajetória ascendente.
No varejo, porém, a analista vê algum espaço para melhora. Preços mais baixos no atacado tendem a se refletir nas gôndolas, o que pode estimular o consumo. “Existe uma demanda reprimida, especialmente por manteiga. Consumidores e fabricantes substituíram parte do produto por óleos vegetais mais baratos durante os períodos de preços elevados. Com a correção, esse movimento pode ser revertido”, explicou.
Outro ponto central da análise de Stannard é o comportamento da União Europeia, que segue como o maior produtor de leite entre os países exportadores, representando cerca de 48% da oferta do bloco dos seis principais exportadores globais. Nos últimos meses, no entanto, a UE apresentou crescimento tímido — e, em alguns países, queda efetiva.
Mercados como Irlanda e Polônia registraram avanços, mas esse movimento foi insuficiente para compensar o declínio observado entre produtores de maior volume, como França, Alemanha e Países Baixos. O fator determinante para a redução produtiva foi a disseminação do vírus da língua azul, que afetou significativamente rebanhos e reduziu a disponibilidade de leite. “O surto distorceu a curva de oferta europeia. Houve menos leite no primeiro semestre e mais no segundo”, detalhou a especialista.
Apesar disso, dados mais recentes do Eurostat, referentes a setembro, mostram que a produção europeia cresceu 6,0% na comparação anual. Mesmo assim, Stannard alerta que o cenário não deve ser interpretado como um sinal de alívio duradouro. A queda dos preços pagos aos produtores e a pressão sobre as margens devem se intensificar ao longo dos próximos meses. “A redução dos preços e o aumento dos custos devem comprimir as margens, e isso tende a influenciar decisões produtivas”, afirmou.
O setor também segue atento ao risco sanitário. Embora o impacto da língua azul tenha diminuído, Stannard destaca que outras doenças podem afetar a produção europeia em 2026, tornando o ambiente ainda mais imprevisível. A combinação entre oscilações sanitárias e respostas produtivas mais lentas pode prolongar o desequilíbrio entre oferta e demanda.
No panorama global, a analista reforça que a soma desses fatores — produção ainda elevada, margens comprimidas, risco sanitário e consumo mundial estabilizado — deve manter o mercado lácteo sob pressão prolongada. As maiores regiões produtoras do mundo caminham para manter o excesso de oferta até pelo menos meados de 2026. Só então, segundo ela, a oferta e a demanda tendem a reencontrar um ponto de equilíbrio.
Para produtores, a mensagem é clara: o período adiante será caracterizado por volatilidade, preços moderados e forte dependência das correções nas principais bacias leiteiras. “O mercado global deve seguir pressionado até que a produção se ajuste de forma mais ampla. Somente quando isso ocorrer é que veremos um reequilíbrio consistente”, concluiu Stannard.
Escrito para o eDairyNews, com informações de Agriland






