O lote foi destaque no Giro pelo Brasil do último dia 30 de março. Na tela do programa, o berrante tocou para uma boiada “de tirar o chapéu”, conforme anunciou o gerente de originação da Friboi em Senador Canedo-GO, Uglênio Nogueira.

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O lote foi destaque no Giro pelo Brasil do último dia 30 de março. Na tela do programa, o berrante tocou para uma boiada “de tirar o chapéu”, conforme anunciou o gerente de originação da Friboi em Senador Canedo-GO, Uglênio Nogueira. O grupo era composto por animais meio-sangue Aberdeen Angus dente de leite, terminada em confinamento e abatida com peso médio de 373,3 kg, ou 24,88@. Mas além de chamar atenção pelo peso e precocidade, será que os bois também impressionaram pelo lucro que deixaram no bolso do invernista?

Nesta segunda-feira, dia 10, o Giro do Boi convidou o pecuarista Ademar Leal, titular da Fazenda São Joaquim, localizada em Jandaia, estado de Goiás, criatório do gado abatido lá em março. Leal foi presidente da Asbram, a Associação Brasileira das Indústrias de Suplementos Minerais, e é diretor da Campo Nutrição Animal.

Conforme contextualizou Leal, a fazenda serve como uma espécie de laboratório para validar o desempenho zootécnico e também financeiro das estratégias nutricionais de sua empresa.

“No caso da São Joaquim, o confinamento é uma ferramenta de terminação dos animais. Todos os animais que são recriados na São Joaquim – e a gente não faz cria, só recria e terminação – são invariavelmente terminados no confinamento. Nós temos um programa que, agora, está pensando no nosso planejamento sobre ser ou não vantajoso confinar em 2022. Para 2021, nosso planejamento já está todo montado. E eu acho que vai ser vantajoso, sim. Apesar do momento de dificuldade pelos preços das matérias-primas, nós estamos com os insumos já praticamente todos 90% já contratados para poder ter uma oferta, para manter um equilíbrio entre custo e arroba produzida. Então agora nós estamos executando a operação e nós vamos ampliar na seca agora, mais do que nas águas”, anunciou.

Na sequência, Ademar falou sobre o sistema de produção dos animais meio-sangue Aberdeen Angus zero dentes terminados com quase 25 arrobas. A oportunidade da reposição apareceu em um remate, mas a condição excelente da boiada, que demandava a continuidade do bom trato que ela teve na fazenda de cria, acabou “espantando” parte da concorrência, conforme lembrou o produtor.

Relembre o Giro pelo Brasil que destacou a boiada terminada na Fazenda São Joaquim:

“Essa boiada nós compramos num leilão da Estância Bahia em outubro. Era um gado que tinha 14 arrobas. Nós temos um manejo bem conduzido de pastagem, então nas primeiras chuvas em outubro nosso capim saiu e a boiada foi empastada num pasto de excelente qualidade. Então ela ficou outubro, novembro e dezembro no capim depois de ter passado a seca num confinamento de recria, que o pessoal chama de resgate ou sequestro, e a gente não deixou cair o desempenho dela chegando na São Joaquim. Nós sabíamos do histórico que ela vinha, que eram animais bem suplementados. O que amedrontou todo mundo no leilão era a saúde e o escore corporal dos animais. Eles estavam muito bem cuidados. Então de ser de uma genética fantástica, ela estava muito bem cuidada, mas nós não tivemos medo disso, porque nós tínhamos certeza que nós estaríamos mudando ela para uma condição tão boa quanto ela vinha. E aí foi capim com proteico energético de 0,3 grama por cabeça ao dia em outubro, novembro e dezembro”, disse Ademar, detalhando as condições da recria.

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Condição do capim foi essencial para acelerar a recria e dar segurança para aquisição do lote no leilão.

E mesmo ciente das boas condições passadas da boiada, o desempenho do lote impressionou. A engorda fechada no cocho, que deveria estar sendo feita neste momento, deve que ser antecipada para janeiro. “Nós não imaginávamos que nós seríamos obrigados a confinar tão cedo, como foi em janeiro. A ideia era terminá-los agora, em maio ou junho”, admitiu.

“Talvez ela não estivesse tão pesada. A gente ia fechar (no cocho) mais tarde e, obviamente, ela não seria abatida tão cedo assim, como foi naquela performance. Mas o que nos ajudou foi que nesses três meses a gente tirou o ágio. E, na verdade, o ágio não foi tão alto. […] O ágio foi muito pequeno, só que ela era muito pesada e, na entrada das águas, ainda muita gente não tinha capim”, ponderou.

Ademar reforçou que foi o planejamento forrageiro que deu segurança para arrematar a boiada. “Veja olha a importância de um bom planejamento. No início de outubro, quem ia tirar uma boiada super bem suplementada e colocar num pasto seco, e ainda por cima uma boiada cara? Isso amedrontou vários compradores e tirou vários players do negócio. Foi um leilão, forma mais democrática possível de comércio – quem paga mais leva. Então nós tivemos as contas na mão de produzir cinco arrobas nela. Ela tinha 14@, íamos levar até 19@ para depois confinar e matar com um período menor de confinamento. Mas nesse caso a gente teve que confinar um pouco mais, creio que foram 84 dias, só que começando em janeiro”, explicou.

Embora o lucro tenha sido menor do que o esperado, a boiada deixou um bom dinheiro para o pecuarista por conta de seu planejamento. Embora tenha tido que entrar no cocho um pouco mais cedo e também tenha sido abatido antes do planejado, o produtor havia travado tanto preços dos insumos quanto o da arroba,

“Esse gado nós compramos com 14 arrobas caras. Se não me engano, foram R$ 275,00 por arroba na época. Estava naqueles dias que o boi tinha dado uma esfriada, um pouco de oferta em outubro, […] e nós usamos uma ferramenta na bolsa, uma proteção, compramos uma put para proteger se caísse dos R$ 275,00. Eu blindei o negócio e, pelo menos, não daria prejuízo se a arroba tivesse caído. O que a gente ganharia com a proteção na bolsa daria para suprir e isso a gente usa muito, as ferramentas de proteção. É muito importante”, sustentou.

Ademar apontou que as ferramentas de proteção do preço do boi são utilizadas quando há um compromisso financeiro maior com a operação. No caso, como havia um certo ágio na aquisição da garrotada, a ferramenta de proteção foi essencial. “A gente analisa qual é o nível de compromisso financeiro”, confirmou.

TERMINAÇÃO

Ademar detalhou ainda o desempenho dos animais fechados no cocho. “Foram 80 dias de cocho. Eles saíram com 675 kg de peso médio, ganharam 2,004 kg por dia de peso (GMD) com rendimento de carcaça de 55,32%. A carcaça pesou 373,4 kg, ou 24,88@, e o custo de arroba produzida desses animais foi de R$ 235,00”, apresentou.

“Eu preciso levar em consideração algumas informações importantes para os nossos amigos que estão nos assistindo. O milho hoje é R$ 95,00 e esse milho que engordou essa boiada foi um de R$ 65,00. Não é que eu seja um gênio, mas é porque eu tinha obrigação de comprar esse milho. ‘Ah, mas você pode vender o milho por R$ 95?’. Eu posso, mas não é esse o meu negócio. A operação tem começo, meio e fim. Eu não comprei o milho pra especular, senão eu não mexeria com boi, eu mexeria só com milho. Para ter esse custo de produção de R$ 235,00, nós temos milho para passar o ano inteiro usando ferramentas de bolsa e do mercado físico. Nós temos o milho de 2021 ao preço médio de R$ 73,00. […] O pecuarista que não começar a operar milho e boi para a pecuária intensiva vai ter dificuldade de continuar no negócio”, alertou.

Embora tenha comprado o insumo mais barato, Ademar lembrou que a operação também é vantajosa para os agricultura. “Esse milho que a gente tem a R$ 73,00 é de uma operação do mercado físico e do financeiro, tem originação de verdade. Nós não vamos ter a menor preocupação com a originação desse milho para a Fazenda São Joaquim. A gente comprou o milho de produtores que realmente são muito profissionais e que fazem um trabalho muito bem feito e que estão ganhando dinheiro também. Tem produtor amigo nosso que vai entregar milho de R$ 50,00 e que vai ganhar dinheiro. Tem um grande amigo que fez contrato vendido a R$ 50,00 e vai ganhar dinheiro. ‘Ah, mas o milho está a R$ 90,00’. Mas ele vendeu uma parcela do negócio, obviamente ele deixou de ganhar um parte, mas é assim que funciona e ele cresce todo ano. O milho que ele plantou agora ele pagou há mais de um ano”, salientou.

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Na Fazenda São Joaquim, planejamento é essencial para usar o confinamento como ferramenta para engordar 100% das boiadas.

Para validar a operação de recria e engorda em sua fazenda, Ademar disse que a gestão é feita levantando indicadores que podem ser comparados aos de outras atividades para checar se o resultado é realmente positivo. “Outra coisa importante na São Joaquim é que todo o nosso sistema é baseado em indicadores que podem ser comparáveis com qualquer empresa. Então o boi a gente trata de CPV, que é o custo do produto vendido. Todo lote de boi que a gente embarcou a gente vai saber daqui a pouco quanto é o custo total, desde a produção, aquisição, custeio, todos os investimentos feitos na fazenda para que aquilo chegasse até nesse ponto do embarque. […] E a forma com que a gente enxerga o negócio é uma forma do método DuPont, que é o return on active, ou o retorno do ativo. Quantos reais nós temos no início do ano e quanto esses reais conseguiram trazer ao longo do ano? O nosso fechamento anual é no ano civil, de 1º de janeiro a 31 de dezembro, e a gente sabe que cada real que estava naquela operação da São Joaquim quanto ela conseguiu produzir de retorno e lucro para a fazenda”, esclareceu.

Veja pelo vídeo a seguir a entrevista completa com Ademar Leal e os detalhes de seu sistema produtivo que viabilizou a engorda de bois Angus dentes de leite com quase 25@.

O documentário de curta metragem foi contemplado pelo edital da Lei de Incentivo Paulo Gustavo, conta com o apoio da Prefeitura Municipal e tem como objetivo apresentar a relevância cultural, social e econômica da produção de laticínios em Carambeí, município cuja história se entrelaça com a imigração europeia e com a própria história do leite no Sul do Brasil.

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