Laticínios com menor captação estão reduzindo compras do leite devido à queda nas vendas de produtos.
O isolamento social que proibiu a abertura de diversas atividades econômicas, incluindo bares e restaurantes, e suspendeu as aulas tem impactado de forma negativa a demanda por alguns alimentos.
O reflexo já está chegando ao campo e atingindo os produtores de leite e de hortaliças da agricultura familiar. De acordo com levantamento da Secretaria de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), foi verificada dificuldade de pequenos pecuaristas de leite em escoar a produção para os laticínios.
Da mesma forma, agricultores familiares enfrentam desafios em comercializar hortaliças. Com o acompanhamento semanal que vem sendo feito pela Seapa e pelas vinculadas, várias ações têm sido discutidas para ajudar os produtores a solucionar os problemas e garantir o abastecimento.
Segundo o levantamento, o funcionamento das indústrias de lácteos e derivados em Minas Gerais apontou situação de alerta na semana de 13 a 19 de abril, com uma piora em comparação à semana anterior. Do total de estabelecimentos pesquisados, 56% apresentaram algum tipo de comprometimento no funcionamento.
O principal fator responsável pelo comprometimento foi o fechamento do comércio varejista, citado por 50% dos pequenos estabelecimentos. No cenário analisado, não há risco de desabastecimento de leite e derivados, porém a pesquisa aponta impacto significativo para pequenos produtores de leite devido à redução da captação pelos estabelecimentos.
O superintendente de Inovação e Economia Agropecuária da Seapa, Carlos Eduardo Oliveira Bovo, explica que parte dos pecuaristas tem encontrado problema na hora de comercializar.
“Identificamos que pequenos laticínios, com captação abaixo de 10 mil litros dia, estão com dificuldade em vender os produtos industrializados e isso acaba reduzindo a aquisição do leite no campo. Parte desse problema estava sendo resolvido com escoamento para laticínios maiores, mas ainda tem produtores com dificuldade. Os produtos lácteos têm maior valor agregado e, devido à crise, o consumo está menor no mercado final. Vamos acompanhar o setor e tentar achar soluções”, disse.
A Seapa, junto com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG) e o setor lácteo, está em busca de medidas para reduzir os prejuízos. Dentre as ações estão o direcionamento do leite antes comprado pelos pequenos laticínios para empresas de maior porte e o estímulo ao processamento do leite para produção de queijo, que pode ser vendido no mercado local e regional.
Agricultura familiar – Já a comercialização de produtos da agricultura familiar, segundo o relatório da Seapa, apresentou normalidade em 42,9% dos municípios do Estado, em 34% houve comprometimento parcial e em 23,1% o comprometimento foi efetivo.
Dentre os fatores que contribuíram para a redução da comercialização estão a queda das vendas para mercados institucionais como Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), tendo comprometimento de 88,4%. Também houve redução da comercialização em bares e restaurantes e em feiras livres, que foram afetados pelas medidas de isolamento para o controle do novo coronavírus.
“A Emater tem orientado os produtores a realizarem televendas, vendas e entrega de cestas e a organização de feiras livres, tomando todos os cuidados devidos para evitar a contaminação pelo coronavírus”, disse Bovo.
O relatório da Seapa mostrou também que, em mais de 40% dos municípios pesquisados, os produtos com maior dificuldade de comercialização foram as hortaliças, queijos e outros derivados do leite.
Em relação aos preços pagos aos agricultores, 65,9% dos municípios mantiveram, em 9,9% houve alta e em 24,4% foram identificadas quedas nos preços. Comparado com o cenário do período anterior, houve um aumento de 2% no percentual de municípios que identificaram recuo nos preços pagos aos agricultores.
Alta dos insumos – Outra situação desfavorável encontrada no campo é o aumento do preço dos insumos. “Foi percebida uma valorização nos preços de fertilizantes e adubos, que tiveram, provavelmente, a cotação elevada devido à desvalorização do real frente ao dólar”, destacou Bovo.
Apesar de mais caro, o abastecimento do mercado de insumos continua normal. O estudo da Seapa mostrou que, em 77,6% dos municípios, o status de abastecimento e comercialização de insumos agropecuários apresentou situação de normalidade, 15% dos municípios tiveram impacto parcial e apenas 7,4% deles tiveram comprometimento efetivo.