Estudos epidemiológicos contínuos geram informações confiáveis para tomadas de decisão e evolução da cadeia do leite nestes estados. Informações geradas pela pesquisa têm subsidiado a tomada de decisão por indústrias e agroindústrias e também a definição de políticas públicas para o setor
????????????????????????????????????
1610477092 article

Estudos epidemiológicos contínuos geram informações confiáveis para tomadas de decisão e evolução da cadeia do leite nestes estados. Informações geradas pela pesquisa têm subsidiado a tomada de decisão por indústrias e agroindústrias e também a definição de políticas públicas para o setor, com foco na melhoria da qualidade do leite e adequação da produção da matéria prima aos limites dos indicadores higiênico-sanitários definidos na legislação.

São sete anos de trabalhos em estudos epidemiológicos contínuos e que são inéditos nos estados de Rondônia e Acre, gerando dados confiáveis e um panorama da qualidade do leite da região. Segundo a pesquisadora da Embrapa Rondônia, Juliana Dias, que conduz estas ações, os estudos realizados demonstram as regiões e perfis de propriedades que devem ser priorizados em programas de melhoria da qualidade pela iniciativa privada e pública, e aponta que os maiores desafios para a qualidade do leite nestes estados são a adoção de boas práticas de ordenha e adequação das condições de resfriamento do leite, principalmente em tanques coletivos..

Neste caso o fator de risco é quando a entrega do leite no tanque coletivo é realizada por intermediários resultando em atraso na refrigeração do leite e falhas no manejo dos latões. Ela reforça que as tecnologias e conhecimentos já disponíveis precisam chegar aos produtores e serem adotados para a melhoria deste cenário. “A conscientização sobre a adoção de boas práticas exige esforço conjunto de todas as instituições e indústrias que fazem parte da cadeia produtiva do leite”, acrescenta Juliana Dias.

Estas boas práticas nada mais são que recomendações que podem ser aplicadas em qualquer sistema de produção, com foco principal na segurança alimentar e na qualidade higiênico-sanitária do leite produzido. Ou seja, é a prevenção ou a redução da contaminação do leite durante a sua produção e também no armazenamento. Uma boa ordenha é essencial para a obtenção de leite de maneira rápida, higiênica e sem causar lesões nos tetos ou espalhar doenças entre as vacas.

Também é preciso assegurar que o leite será adequadamente armazenado, pois ele precisa ser resfriado imediatamente após a ordenha. A Embrapa dispõe de cartilhas com as recomendações que precisam ser adotadas e tem realizado treinamentos com esse foco. A boa qualidade dos produtos lácteos está diretamente associada à qualidade e composição do leite cru. Nenhum processo industrial é capaz de alterar isso. Matéria prima com qualidade garante um alimento seguro e livre de contaminantes, maior valor nutricional para o consumidor, melhor rendimento na produção industrial e aumento da vida de prateleira.

Da “porteira pra dentro”, significa mais renda e qualidade de vida para os produtores. Além disso, normas para qualidade do leite foram estabelecidas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) em 2002 e, em maio de 2019, entraram em vigor as Instruções Normativas 76 e 77/2018, revogando as normativas anteriores e estabelecendo novas diretrizes para o atendimento aos padrões de qualidade, exigindo do setor atuação direcionada e ágil.

“A produção de leite com maior eficiência e qualidade é fundamental para a permanência dos produtores nos sistemas produtivos e fortalecimento do agronegócio leite na região”, aponta a pesquisadora Juliana Dias. Cadeia do leite em Rondônia e Acre Rondônia é o maior produtor de leite da região Norte e o sétimo do país. A atividade tem grande importância econômica e social o estado. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE demonstram que, nos últimos dez anos, a produção desta matéria prima no estado cresceu 51%, maior que a taxa de crescimento da região Norte (33,8%) e do Brasil (19,8%), no mesmo período.

Em 2019, essa produção foi de 1,129 bilhão de litros de leite, sendo as microrregiões de Ji-Paraná e Porto Velho as maiores produtoras de leite do estado. De acordo com os dados da Agência de Defesa Sanitária Agrosilvopastoril do Estado de Rondônia IDARON, em 2019 aproximadamente 29 mil estabelecimentos rurais conduzidos por 31 mil produtores estão envolvidos na atividade leiteira, sendo caracterizados como de base familiar. O estado apresenta ainda a melhor produtividade da região, em torno de 1.355 kg/vaca/ano em 2019.

Dados do IBGE apontam que as indústrias lácteas com Serviço de Inspeção Federal (SIF) são responsáveis pelo processamento de 94,8% do leite industrializado de Rondônia e, de acordo com os dados do Sistema de Informações Gerenciais do Serviço de Inspeção Federal (SIGSIF, 2019), estão instaladas no estado 37 indústrias lácteas SIF, contribuindo para a modernização do setor. Avanços estruturais com foco na melhoria da qualidade do leite foram observados nos últimos anos em Rondônia, como a aquisição de tanques de resfriamento, melhoria das estradas e qualidade de energia elétrica.

No entanto, ainda há predominância de produtores com baixo nível tecnológico para a produção de leite, o que resulta em baixa produtividade – média de 5,0 litros de leite por vaca por dia – e alta sazonalidade de produção. De acordo com os dados da Idaron (2019), 57% dos produtores produzem até 50 litros de leite/dia, e o estrato de produção de leite até 100 litros leite/dia corresponde à 85% dos produtores e 59% do volume total produzido. Em Rondônia, devido à predominância de produtores com baixa escala de produção, a estratégia adotada para o resfriamento do leite produzido é o uso de tanques coletivos.

De acordo com os dados da Idaron, em novembro de 2019, o número de tanques de resfriamento utilizados em Rondônia era de 6921 e 20.542 produtores vinculados, sendo 88% destes ligados à tanques coletivos. As indústrias lácteas com Serviço de Inspeção Estadual e Municipal em Rondônia são caracterizadas predominantemente como agroindústrias familiares. O estado vizinho, o Acre, tem pouca representatividade em volume de leite produzido – 1,9% da produção da região Norte –, a atividade também é de base familiar e caracterizada como de baixo nível tecnológico.

Esta cadeia produtiva tem grande importância econômica e social e envolve 6.514 famílias na atividade. Segundo dados do IBGE, o estado produziu, em 2018, 43,3 milhões de litros de leite. De acordo com os dados do Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Acre (IDAF), estão instaladas no estado 11 indústrias lácteas com Serviço de Inspeção Estadual. Foto: Renata Silva Resultados dos estudos epidemiológicos dos indicadores de qualidade do leite em RO e AC Em trabalhos realizados pela Embrapa Rondônia, de 2016 a 2019, foram utilizados resultados de análises de amostras de leite de tanques de refrigeração vinculados às indústrias com Sistema de Inspeção Federal (SIF) de Rondônia e em rebanhos fornecedores de agroindústrias com Serviço de Inspeção Estadual (SIE) de Rondônia e Acre.

Para o estudo realizado em parceria com indústrias SIF, foram obtidos os resultados de análises de leite no período seco e chuvoso. Nas agroindústrias de leite SIE foram avaliadas amostras de leite total dos rebanhos e aplicado questionário epidemiológico aos produtores de leite para análise dos fatores de risco. Os indicadores avaliados nos estudos foram: Contagem Padrão em Placas (CPP), Contagem de Células Somáticas (CCS), gordura, proteína, lactose, extrato seco total e extrato seco desengordurado.

Em Rondônia, foram avaliados indicadores de qualidade do leite de 566 tanques de refrigeração vinculados às indústrias SIF, representando 2.209 produtores e 23.772 dados de análise. Os dados mostraram as áreas de baixa e alta CCS, CPP e componentes do leite nas microrregiões avaliadas, indicando a região de Machadinho D’Oeste como área prioritária para o controle da mastite, e a microrregião de Ariquemes e a oeste da microrregião de Porto Velho, como área de intervenção para redução da contagem bacteriana. Segundo a pesquisadora Juliana Dias, dentre os indicadores avaliados, o atendimento aos limites de contagem bacteriana de tanques é o maior desafio, sendo a CPP significativamente mais elevada nos tanques coletivos com mais de cinco produtores, indicando que o uso deste tipo de tanque deve ser desestimulado.

Também foi observada redução significativa dos teores de componentes do leite no período seco comparado ao chuvoso, exceto para lactose, demonstrando a importância de suplementação das vacas em lactação no período seco. No estudo, a caracterização de produtores fornecedores de agroindústrias SIE de Rondônia e Acre demonstraram características similares, com predomínio de produtores familiares e baixa adoção de tecnologias e boas práticas. Outra característica comum é o predomínio da entrega do leite na agroindústria em latões, indicando a necessidade de adequação aos procedimentos definidos na legislação, como entrega do leite em latões na indústria até duas horas após a conclusão da ordenha, ou o resfriamento do leite em tanques instalados na propriedade.

O trabalho realizado em agroindústrias SIE de Rondônia foi executado pela Embrapa Rondônia em parceria com a IDARON, em que foram avaliados 178 produtores vinculados à 16 agroindústrias localizadas em seis microrregiões do estado. Os resultados demonstraram um retrato da situação da qualidade do leite nas agroindústrias do estado e as práticas que devem ser priorizadas para a melhoria da qualidade da matéria prima, como a adequação dos procedimentos de lavagem e manutenção de ordenha mecânica, adoção de desinfecção dos tetos antes da ordenha dos animais e lavagem/acondicionamento adequado de latões por produtores e indústria.

Os fatores de risco associados à mastite subclínica estavam relacionados ao maior grau de tecnificação dos rebanhos, caracterizados por possuírem raça especializada para leite e adoção de ordenha mecânica, indicando que este perfil de propriedade deve ser priorizado em ações de controle e prevenção da mastite. Nas agroindústrias SIE no Acre, foram avaliados 92 produtores fornecedores de cinco indústrias localizadas em três microrregiões do estado. Neste estudo, foram observadas altas contagens de bactérias em todas as microrregiões, demonstrando a importância de adoção de boas práticas e adequação à logística de entrega do leite na indústria.

O estudo de fatores de risco associados à qualidade microbiológica do leite indicou que devem ser priorizados: o uso de água de boa qualidade na ordenha, lavagem e acondicionamento adequado de baldes/latões e realizar a desinfecção dos tetos antes da ordenha. Este estudo foi realizado numa parceria entre as Unidades da Embrapa de Rondônia e Acre e possibilitou caracterizar as propriedades e identificar os principais fatores associados aos indicadores higiênico-sanitários do leite, fornecendo subsídios para o direcionamento das ações nas regiões avaliadas.

De acordo com o chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa Acre, Bruno Pena, com o diagnóstico da qualidade do leite do Acre em mãos, é possível que as instituições do setor atuem de forma mais direcionada e com mais eficiência. Os dados mostram que a mastite não é um problema grave no estado, no entanto, a contagem bacteriana do leite foi alta, o que pode ser solucionado com ações, junto aos produtores, de práticas de higiene na ordenha. “Esse é o maior levantamento, dos últimos dez anos, na cadeia do leite do Acre. Unindo forças com parceiros foi possível fazer essa radiografia da condição sanitária do leite produzido no estado e agora é agir com base nos apontamentos”, comenta Bruno Pena.

Do diagnóstico da pesquisa à transformação no campo Os trabalhos envolvendo estudos epidemiológicos de indicadores de qualidade do leite em Rondônia e Acre têm envolvido esforços e a interação de elos da cadeia como produtores, pesquisa, extensão rural, indústria, empresas e o poder público e os resultados obtidos têm sido constantemente compartilhados com toda a cadeia por meio de reuniões técnicas, palestras, cursos e oficinas. Nesse processo foram integradas Unidades da Embrapa, agroindústrias lácteas, Secretaria de Estado da Agricultura de Rondônia – SEAGRI, IDARON, Mapa, EMATER-RO, Fundação Rondônia de Amparo ao Desenvolvimento das Ações Científicas e Tecnológicas e à Pesquisa do Estado de Rondônia – FAPERO, entre outros parceiros. As atividades de pesquisa tiveram o apoio financeiro da Embrapa e SEAGRI/FAPERO e envolveu a formação de alunos de graduação e pós-graduação. Para os produtores vinculados a indústrias e agroindústrias, localizados nas áreas prioritárias de atuação, foi adotado o modelo de oficinas com foco em estratégias para a melhoria da qualidade do leite.

“Tivemos uma melhora significativa na qualidade do leite produzido já nos primeiros meses após as oficinas, isso com o incentivo de adoção de práticas simples pelo produtor. A qualidade do leite é algo contínuo e vamos continuar investindo nisso”, comenta um dos proprietários de uma agroindústria familiar do município de Candeias do Jamari, Nanderson Klein. Para indústrias SIF, parceiras nas ações de pesquisa, como o exemplo do Laticínio Joia, localizado no município de Ministro Andreazza – RO, os trabalhos de pesquisa orientaram a definição de estratégias para atuação em áreas prioritárias, na adequação da logística de resfriamento e armazenamento do leite, e na sensibilização da adoção de boas práticas. Os estudos realizados também demonstraram o impacto na redução da contagem de bactérias no leite a partir das estratégias adotadas pela indústria, dentre elas a bonificação por qualidade do leite implantada em julho de 2015.

Bonificação: Iniciativa para melhoria da qualidade do leite em RO A prática da indústria de um pagamento extra para produtores que entregam leite com qualidade comprovada tem motivado a adoção de boas práticas no campo e de tecnologias para o aumento da qualidade e também da produção de leite, beneficiando tanto a indústria quanto o produtor e o setor lácteo como um todo. No quesito qualidade, são avaliadas, principalmente, a contagem bacteriana(CPP), contagem de células somáticas (CCS).

Em Rondônia, esta iniciativa foi tomada pelo laticínio Joia. Além do pagamento de bonificação pelos indicadores de qualidade do leite, outros requisitos como infraestrutura e adoção de tecnologias também são considerados visando melhorar a produção de matéria prima de qualidade. Estudos realizados pela Embrapa Rondônia, no primeiro ano da implantação da bonificação por qualidade na indústria, demonstraram redução significativa da contagem bacteriana do leite de tanques comparando os resultados de análise do período chuvoso dos anos de 2015 e 2016. No período, também foram observadas mudanças no padrão espacial da CPP indicando novas áreas prioritárias de atuação.

Com a entrada em vigor da IN76 e IN77, a indústria definiu novos critérios para bonificação por CPP, visando estimular o atendimento à legislação. Esta estratégia refletiu na redução de 74,4% da média geométrica de CPP (MGCPP) dos tanques de refrigeração captados pela indústria no período chuvoso de 2019 para 2020, sendo observada mediana da MGCPP de 66.000 UFC/mL no período chuvoso de 2020. Em cinco anos do sistema de bonificação (2015 – 2020), o laticínio aumentou em 75% o volume de leite captado e obteve aumento de 65% de produtores associados. Além disso, o número de funcionários foi de 34 para 53.

No ano de 2020, a indústria captou média de 33 mil litros leite por dia em oito municípios de Rondônia. Atualmente, o programa de bonificação da indústria pode chegar a R$ 0,29, incluindo a bonificação pelos resultados da análise dos indicadores de qualidade do leite, uso de ordenha mecanizada, adoção de sistema rotacionado (piquetes), estrutura de acesso ao tanque e melhoria das casinhas dos tanques de refrigeração. São centavos a mais que fazem a diferença na renda da família. Para o proprietário da indústria, Alessandro Rodrigues, este incentivo é uma questão de justiça.

“O produtor capricha, se dedica mais e recebe por isso”, explica. Com este trabalho de bonificação é possível identificar onde está o leite de qualidade e trabalhar formas de incentivo e conscientização destes produtores para que atendam aos critérios exigidos. O produtor Valcir Zuqueto, do município de Cacoal, Rondônia, investe na qualidade do leite há quatro anos e tem sido beneficiado pela indústria por boas práticas adotadas. A produção de leite em sua propriedade varia de 2.300 a 3.000 litros por mês. Em julho ele recebeu o máximo de bonificação oferecida pelo laticínio Joia, 29 centavos por litro de leite. Eles é um dos que sempre ganha bonificação e, ao longo do ano, segundo o produtor, este pagamento extra significa mais renda para que possa investir na propriedade, no rebanho e também na família.

Em valores, Valcir recebe, em média, R$ 660 por mês apenas em bonificação. Isso resulta em, aproximadamente, R$8 mil a mais por ano para a família. “Vale a pena investir na qualidade. A gente se esforça mais, capricha mais na limpeza e ganha com isso. Não só a gente, mas a indústria e os consumidores também, que vão ter na mesa um produtor melhor, é mais saúde”, comenta o produtor.

Estudos epidemiológicos contínuos geram informações confiáveis para tomadas de decisão e evolução da cadeia do leite nestes estados.
Informações geradas pela pesquisa têm subsidiado a tomada de decisão por indústrias e agroindústrias e também a definição de políticas públicas para o setor, com foco na melhoria da qualidade do leite e adequação da produção da matéria prima aos limites dos indicadores higiênico-sanitários definidos na legislação. São sete anos de trabalhos em estudos epidemiológicos contínuos e que são inéditos nos estados de Rondônia e Acre, gerando dados confiáveis e um panorama da qualidade do leite da região.

Segundo a pesquisadora da Embrapa Rondônia, Juliana Dias, que conduz estas ações, os estudos realizados demonstram as regiões e perfis de propriedades que devem ser priorizados em programas de melhoria da qualidade pela iniciativa privada e pública, e aponta que os maiores desafios para a qualidade do leite nestes estados são a adoção de boas práticas de ordenha e adequação das condições de resfriamento do leite, principalmente em tanques coletivos..  Neste caso o fator de risco é quando a entrega do leite no tanque coletivo é realizada por intermediários resultando em atraso na refrigeração do leite e falhas no manejo dos latões.

Ela reforça que as tecnologias e conhecimentos já disponíveis precisam chegar aos produtores e serem adotados para a melhoria deste cenário. “A conscientização sobre a adoção de boas práticas exige esforço conjunto de todas as instituições e indústrias que fazem parte da cadeia produtiva do leite”, acrescenta Juliana Dias.

Estas boas práticas nada mais são que recomendações que podem ser aplicadas em qualquer sistema de produção, com foco principal na segurança alimentar e na qualidade higiênico-sanitária do leite produzido. Ou seja, é a prevenção ou a redução da contaminação do leite durante a sua produção e também no armazenamento. Uma boa ordenha é essencial para a obtenção de leite de maneira rápida, higiênica e sem causar lesões nos tetos ou espalhar doenças entre as vacas. Também é preciso assegurar que o leite será adequadamente armazenado, pois ele precisa ser resfriado imediatamente após a ordenha. A Embrapa dispõe de cartilhas com as recomendações que precisam ser adotadas e tem realizado treinamentos com esse foco.

A boa qualidade dos produtos lácteos está diretamente associada à qualidade e composição do leite cru. Nenhum processo industrial é capaz de alterar isso. Matéria prima com qualidade garante um alimento seguro e livre de contaminantes, maior valor nutricional para o consumidor, melhor rendimento na produção industrial e aumento da vida de prateleira. Da “porteira pra dentro”, significa mais renda e qualidade de vida para os produtores.

Além disso, normas para qualidade do leite foram estabelecidas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) em 2002 e, em maio de 2019, entraram em vigor as Instruções Normativas 76 e 77/2018, revogando as normativas anteriores e estabelecendo novas diretrizes para o atendimento aos padrões de qualidade, exigindo do setor atuação direcionada e ágil. “A produção de leite com maior eficiência e qualidade é fundamental para a permanência dos produtores nos sistemas produtivos e fortalecimento do agronegócio leite na região”, aponta a pesquisadora Juliana Dias.

Pesquisa traca panorama da qualidade do leite em Rondonia e

Cadeia do leite em Rondônia e Acre

Rondônia é o maior produtor de leite da região Norte e o sétimo do país. A atividade tem grande importância econômica e social o estado. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE demonstram que, nos últimos dez anos, a produção desta matéria prima no estado cresceu 51%, maior que a taxa de crescimento da região Norte (33,8%) e do Brasil (19,8%), no mesmo período. Em 2019, essa produção foi de 1,129 bilhão de litros de leite, sendo as microrregiões de Ji-Paraná e Porto Velho as maiores produtoras de leite do estado. De acordo com os dados da Agência de Defesa Sanitária Agrosilvopastoril do Estado de Rondônia IDARON, em 2019 aproximadamente 29 mil estabelecimentos rurais conduzidos por 31 mil produtores estão envolvidos na atividade leiteira, sendo caracterizados como de base familiar.

O estado apresenta ainda a melhor produtividade da região, em torno de 1.355 kg/vaca/ano em 2019. Dados do IBGE apontam que as indústrias lácteas com Serviço de Inspeção Federal (SIF) são responsáveis pelo processamento de 94,8% do leite industrializado de Rondônia e, de acordo com os dados do Sistema de Informações Gerenciais do Serviço de Inspeção Federal (SIGSIF, 2019), estão instaladas no estado 37 indústrias lácteas SIF, contribuindo para a modernização do setor.

Avanços estruturais com foco na melhoria da qualidade do leite foram observados nos últimos anos em Rondônia, como a aquisição de tanques de resfriamento, melhoria das estradas e qualidade de energia elétrica. No entanto, ainda há predominância de produtores com baixo nível tecnológico para a produção de leite, o que resulta em baixa produtividade – média de 5,0 litros de leite por vaca por dia – e alta sazonalidade de produção. De acordo com os dados da Idaron (2019), 57% dos produtores produzem até 50 litros de leite/dia, e o estrato de produção de leite até 100 litros leite/dia corresponde à 85% dos produtores e 59% do volume total produzido.

Em Rondônia, devido à predominância de produtores com baixa escala de produção, a estratégia adotada para o resfriamento do leite produzido é o uso de tanques coletivos. De acordo com os dados da Idaron, em novembro de 2019, o número de tanques de resfriamento utilizados em Rondônia era de 6921 e 20.542 produtores vinculados, sendo 88% destes ligados à tanques coletivos. As indústrias lácteas com Serviço de Inspeção Estadual e Municipal em Rondônia são caracterizadas predominantemente como agroindústrias familiares.

O estado vizinho, o Acre, tem pouca representatividade em volume de leite produzido – 1,9% da produção da região Norte –, a atividade também é de base familiar e caracterizada como de baixo nível tecnológico. Esta cadeia produtiva tem grande importância econômica e social e envolve 6.514 famílias na atividade. Segundo dados do IBGE, o estado produziu, em 2018, 43,3 milhões de litros de leite. De acordo com os dados do Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Acre (IDAF), estão instaladas no estado 11 indústrias lácteas com Serviço de Inspeção Estadual.

Foto: Renata Silva

 

Resultados dos estudos epidemiológicos dos indicadores de qualidade do leite em RO e AC

Em trabalhos realizados pela Embrapa Rondônia, de 2016 a 2019, foram utilizados resultados de análises de amostras de leite de tanques de refrigeração vinculados às indústrias com Sistema de Inspeção Federal (SIF) de Rondônia e em rebanhos fornecedores de agroindústrias com Serviço de Inspeção Estadual (SIE) de Rondônia e Acre. Para o estudo realizado em parceria com indústrias SIF, foram obtidos os resultados de análises de leite no período seco e chuvoso. Nas agroindústrias de leite SIE foram avaliadas amostras de leite total dos rebanhos e aplicado questionário epidemiológico aos produtores de leite para análise dos fatores de risco. Os indicadores avaliados nos estudos foram: Contagem Padrão em Placas (CPP), Contagem de Células Somáticas (CCS), gordura, proteína, lactose, extrato seco total e extrato seco desengordurado.

Em Rondônia, foram avaliados indicadores de qualidade do leite de 566 tanques de refrigeração vinculados às indústrias SIF, representando 2.209 produtores e 23.772 dados de análise. Os dados mostraram as áreas de baixa e alta CCS, CPP e componentes do leite nas microrregiões avaliadas, indicando a região de Machadinho D’Oeste como área prioritária para o controle da mastite, e a microrregião de Ariquemes e a oeste da microrregião de Porto Velho, como área de intervenção para redução da contagem bacteriana.

Segundo a pesquisadora Juliana Dias, dentre os indicadores avaliados, o atendimento aos limites de contagem bacteriana de tanques é o maior desafio, sendo a CPP significativamente mais elevada nos tanques coletivos com mais de cinco produtores, indicando que o uso deste tipo de tanque deve ser desestimulado. Também foi observada redução significativa dos teores de componentes do leite no período seco comparado ao chuvoso, exceto para lactose, demonstrando a importância de suplementação das vacas em lactação no período seco.

No estudo, a caracterização de produtores fornecedores de agroindústrias SIE de Rondônia e Acre demonstraram características similares, com predomínio de produtores familiares e baixa adoção de tecnologias e boas práticas. Outra característica comum é o predomínio da entrega do leite na agroindústria em latões, indicando a necessidade de adequação aos procedimentos definidos na legislação, como entrega do leite em latões na indústria até duas horas após a conclusão da ordenha, ou o resfriamento do leite em tanques instalados na propriedade.

O trabalho realizado em agroindústrias SIE de Rondônia foi executado pela Embrapa Rondônia em parceria com a IDARON, em que foram avaliados 178 produtores vinculados à 16 agroindústrias localizadas em seis microrregiões do estado. Os resultados demonstraram um retrato da situação da qualidade do leite nas agroindústrias do estado e as práticas que devem ser priorizadas para a melhoria da qualidade da matéria prima, como a adequação dos procedimentos de lavagem e manutenção de ordenha mecânica, adoção de desinfecção dos tetos antes da ordenha dos animais e lavagem/acondicionamento adequado de latões por produtores e indústria. Os fatores de risco associados à mastite subclínica estavam relacionados ao maior grau de tecnificação dos rebanhos, caracterizados por possuírem raça especializada para leite e adoção de ordenha mecânica, indicando que este perfil de propriedade deve ser priorizado em ações de controle e prevenção da mastite.

Nas agroindústrias SIE no Acre, foram avaliados 92 produtores fornecedores de cinco indústrias localizadas em três microrregiões do estado. Neste estudo, foram observadas altas contagens de bactérias em todas as microrregiões, demonstrando a importância de adoção de boas práticas e adequação à logística de entrega do leite na indústria. O estudo de fatores de risco associados à qualidade microbiológica do leite indicou que devem ser priorizados: o uso de água de boa qualidade na ordenha, lavagem e acondicionamento adequado de baldes/latões e realizar a desinfecção dos tetos antes da ordenha. Este estudo foi realizado numa parceria entre as Unidades da Embrapa de Rondônia e Acre e possibilitou caracterizar as propriedades e identificar os principais fatores associados aos indicadores higiênico-sanitários do leite, fornecendo subsídios para o direcionamento das ações nas regiões avaliadas.

De acordo com o chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa Acre, Bruno Pena, com o diagnóstico da qualidade do leite do Acre em mãos, é possível que as instituições do setor atuem de forma mais direcionada e com mais eficiência. Os dados mostram que a mastite não é um problema grave no estado, no entanto, a contagem bacteriana do leite foi alta, o que pode ser solucionado com ações, junto aos produtores, de práticas de higiene na ordenha. “Esse é o maior levantamento, dos últimos dez anos, na cadeia do leite do Acre. Unindo forças com parceiros foi possível fazer essa radiografia da condição sanitária do leite produzido no estado e agora é agir com base nos apontamentos”, comenta Bruno Pena.

1610477088 364 Pesquisa traca panorama da qualidade do leite em Rondonia e

Do diagnóstico da pesquisa à transformação no campo

Os trabalhos envolvendo estudos epidemiológicos de indicadores de qualidade do leite em Rondônia e Acre têm envolvido esforços e a interação de elos da cadeia como produtores, pesquisa, extensão rural, indústria, empresas e o poder público e os resultados obtidos têm sido constantemente compartilhados com toda a cadeia por meio de reuniões técnicas, palestras, cursos e oficinas. Nesse processo foram integradas Unidades da Embrapa, agroindústrias lácteas, Secretaria de Estado da Agricultura de Rondônia – SEAGRI, IDARON, Mapa, EMATER-RO, Fundação Rondônia de Amparo ao Desenvolvimento das Ações Científicas e Tecnológicas e à Pesquisa do Estado de Rondônia – FAPERO, entre outros parceiros. As atividades de pesquisa tiveram o apoio financeiro da Embrapa e SEAGRI/FAPERO e envolveu a formação de alunos de graduação e pós-graduação.

Para os produtores vinculados a indústrias e agroindústrias, localizados nas áreas prioritárias de atuação, foi adotado o modelo de oficinas com foco em estratégias para a melhoria da qualidade do leite. “Tivemos uma melhora significativa na qualidade do leite produzido já nos primeiros meses após as oficinas, isso com o incentivo de adoção de práticas simples pelo produtor. A qualidade do leite é algo contínuo e vamos continuar investindo nisso”, comenta um dos proprietários de uma agroindústria familiar do município de Candeias do Jamari, Nanderson Klein.

Para indústrias SIF, parceiras nas ações de pesquisa, como o exemplo do Laticínio Joia, localizado no município de Ministro Andreazza – RO, os trabalhos de pesquisa orientaram a definição de estratégias para atuação em áreas prioritárias, na adequação da logística de resfriamento e armazenamento do leite, e na sensibilização da adoção de boas práticas. Os estudos realizados também demonstraram o impacto na redução da contagem de bactérias no leite a partir das estratégias adotadas pela indústria, dentre elas a bonificação por qualidade do leite implantada em julho de 2015.

Bonificação: Iniciativa para melhoria da qualidade do leite em RO

A prática da indústria de um pagamento extra para produtores que entregam leite com qualidade comprovada tem motivado a adoção de boas práticas no campo e de tecnologias para o aumento da qualidade e também da produção de leite, beneficiando tanto a indústria quanto o produtor e o setor lácteo como um todo. No quesito qualidade, são avaliadas, principalmente, a contagem bacteriana(CPP), contagem de células somáticas (CCS).

Em Rondônia, esta iniciativa foi tomada pelo laticínio Joia. Além do pagamento de bonificação pelos indicadores de qualidade do leite, outros requisitos como infraestrutura e adoção de tecnologias também são considerados visando melhorar a produção de  matéria prima de qualidade.

Estudos realizados pela Embrapa Rondônia, no primeiro ano da implantação da bonificação por qualidade na indústria, demonstraram redução significativa da contagem bacteriana do leite de tanques comparando os resultados de análise do período chuvoso dos anos de 2015 e 2016. No período, também foram observadas mudanças no padrão espacial da CPP indicando novas áreas prioritárias de atuação. Com a entrada em vigor da IN76 e IN77, a indústria definiu novos critérios para bonificação por CPP, visando estimular o atendimento à legislação. Esta estratégia refletiu na redução de 74,4% da média geométrica de CPP (MGCPP) dos tanques de refrigeração captados pela indústria no período chuvoso de 2019 para 2020, sendo observada mediana da MGCPP de 66.000 UFC/mL no período chuvoso de 2020.

Em cinco anos do sistema de bonificação (2015 – 2020), o laticínio aumentou em 75% o volume de leite captado e obteve aumento de 65% de produtores associados.  Além disso, o número de funcionários foi de 34 para 53. No ano de 2020, a indústria captou média de 33 mil litros leite por dia em oito municípios de Rondônia.

Atualmente, o programa de bonificação da indústria pode chegar a R$ 0,29, incluindo a bonificação pelos resultados da análise dos indicadores de qualidade do leite, uso de ordenha mecanizada, adoção de sistema rotacionado (piquetes), estrutura de acesso ao tanque e melhoria das casinhas dos tanques de refrigeração. São centavos a mais que fazem a diferença na renda da família.

Para o proprietário da indústria, Alessandro Rodrigues, este incentivo é uma questão de justiça. “O produtor capricha, se dedica mais e recebe por isso”, explica. Com este trabalho de bonificação é possível identificar onde está o leite de qualidade e trabalhar formas de incentivo e conscientização destes produtores para que atendam aos critérios exigidos.

O produtor Valcir Zuqueto, do município de Cacoal, Rondônia, investe na qualidade do leite há quatro anos e tem sido beneficiado pela indústria por boas práticas adotadas. A produção de leite em sua propriedade varia de 2.300 a 3.000 litros por mês. Em julho ele recebeu o máximo de bonificação oferecida pelo laticínio Joia, 29 centavos por litro de leite. Eles é um dos que sempre ganha bonificação e, ao longo do ano, segundo o produtor, este pagamento extra significa mais renda para que possa investir na propriedade, no rebanho e também na família.

Em valores, Valcir recebe, em média, R$ 660 por mês apenas em bonificação. Isso resulta em, aproximadamente, R$8 mil a mais por ano para a família. “Vale a pena investir na qualidade. A gente se esforça mais, capricha mais na limpeza e ganha com isso. Não só a gente, mas a indústria e os consumidores também, que vão ter na mesa um produtor melhor, é mais saúde”, comenta o produtor.
1610477090 538 Pesquisa traca panorama da qualidade do leite em Rondonia e

 

 

Companhia do interior de São Paulo deve faturar mais de R$ 1 bilhão e descarta boatos de venda; mirando um eventual IPO, o plano é crescer com M&As, com dois negócios já no gatilho.

Você pode estar interessado em

Notas
Relacionadas

Mais Lidos

Destaques

Súmate a

Siga-nos

ASSINE NOSSO NEWSLETTER